That's Life

overdose de tomate

Lawliet gostava de cereais com marshmallow. Bom, na verdade ele somente comia os pequenos doces de açúcar e dava o restante a Matt. O loiro, por sua vez, gostava daquelas bolinhas crocantes de chocolate, enquanto Mail, quando não se alimentava dos restos de L, preferia comer os flocos de milho açucarados.

Near, diferentemente deles, gostava de um cereal chamado Rainbow Hooves (sim, "Cascos Arco-íris"). Eram pequenos grãos coloridos artificialmente que não possuíam gosto além de açúcar e corante e, fracamente, embora os considerasse uma de suas coisas favoritas no mundo, possuíam um sabor ordinário e uma péssima qualidade. Entretanto, não os estimava pelos tons variantes, pelo palato excessivamente doce ou qualquer outro fator, porque novamente, era um cereal medíocre, e sim pela nostalgia e pelos sentimentos que carregavam. Beyond detestava este tipo de grão, desgostava de qualquer alimento demasiadamente processado, todavia, sempre comiam Rainbow Hooves  juntos. Era quase que uma tradição. Quando fora adotado, a cerca de oito anos atrás, estavam se habituando com a nova casa, com Watari e principalmente um com o outro. O idoso era muito gentil e Nate foi conquistado por esta amabilidade gradativamente. Embora fosse naturalmente desconfiado por autodefesa e zelo próprio, não vinha de um lar sobejamente violento e não possuía traumas e sequelas sejam físicas, emocionais ou psicológicas muito profundas. Não passara por vários orfanatos como seus irmãos, por alguns tutores e muito menos fugira de casa. Na verdade, até onde sabia, tinha uma mãe biológica viva que, embora não tivesse condições de mantê-lo e cria-lo, o amava o suficiente para entrega-lo à alguém que pudesse assim fazer. De todo modo, era uma criança muito suspeitosa, muito calma e muito cuidadosa, não era de se espantar que não tivesse feito amigos em Wammy's House. Vivera naquele orfanato por menos de quatro meses, tendo a oportunidade de conhecer Mihael e Mail que já eram inseparáveis desde aquele tempo ainda que apenas superficialmente. Beyond e Lawliet não interagiam com outras crianças e na verdade, nunca vira nenhum dos dois antes da adoção. Assim como ele, ambos levaram certo tempo para aprenderem a confiar em outras pessoas e, desta forma, os primeiros meses de sua vida familiar não foram muito agradáveis. Deste quando podia se lembrar, o loiro implicava consigo. Mihael nunca fora muito simpático, empático ou paciente e na realidade, era um garoto muito violento. Matt, acreditem ou não, era extremamente ansioso e tímido, embora fosse de sua natureza ser carinhoso e amável. No começo, ele sequer conversava com qualquer um deles, muito menos com Watari, vivia em silêncio e normalmente não expressava-se de maneira alguma. Lawliet, por sua vez, assim como Mello, não mudara de forma muito veemente, sempre fora muito retraído, reservado e distraído, vivendo em seu próprio mundo e se perdendo em devaneios. Nate o admirava desde quando se entendia por gente. Beyond, contudo, indubitavelmente era um caso a parte.

Sempre era.

No período em que ainda organizavam-se e se instalavam Matt e Mello dormiam em seu quarto, em uma beliche, prática esta que perpetuara até a atualidade, enquanto o albino em uma cama mais afastada. L e B obtinham um quarto separado, bem como Watari, e embora cada um deles tivesse seu próprio leito, por vezes encontrava ambos dormindo juntos. No início pensara que aquilo era normal, que Lawliet não estava pronto para aquele tipo de mudança, talvez estivesse assustado, afinal seu antigo lar era absurdamente abusivo e B como seu irmão mais velho permitia que repousassem na mesma cama, todavia, ainda que somente depois de muitos meses, descobrira que na verdade era ele quem possuía pesadelos. Beyond não era tão introvertido quanto L, conquanto era agressivo, temperamental e extremamente rude. Não conseguia compreender porque Watari o adotara. Se tivesse de descreve-lo em uma palavra, diria "problemático". Durante três ou quatro semanas, o evitara a todo custo. Embora tivesse extrema dificuldade em admitir, mesmo que fosse muito pequeno naquela época, tinha medo dele. Claro que, gradativamente, talvez um pouco mais do que com os outros, aprendeu a conviver com ele e até mesmo a apreciar sua companhia.