Tudo está bem

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Matt adentrou a sala logo atrás de Mello despreocupadamente, afinal o único que tinha aversão a se sujar de alguma forma era o loiro, observando sem muito interesse o recinto. Era uma classe comum, com carteiras e cadeiras viradas para a lousa branca enquanto esta se dispunha anexada à parede, próxima a grande mesa do professor, e um armário médio ao lado desta com duas caixas em cima, uma aparentemente vazia e outra com utensílios e materiais que pareciam pertencer ao laboratório de química. A diferença mais marcante era que ao invés de ar-condicionado, o lugar possuía apenas um ventilador, a pintura das paredes estava pichada com desenhos obscenos e palavrões e algumas tábuas do piso pareciam parcialmente quebras ou soltas do chão. Na verdade, estava em condições muito melhores do que as salas de detenção de suas antigas escolas... Ryuk estava sentado na última carteira da coluna ao lado da parede em que a porta se encontrava; Broca estava na mesma fileira, na parede oposta do outro lado da sala com seus amigos (cujo Mail não fazia a menor ideia de seus nomes): o moreno de touca roxa e o loiro de olhos castanhos, estes que estavam respectivamente na carteira a sua frente e em uma ao seu lado. Também haviam duas garotas, uma de cabelos azuis que pintava as unhas de preto e outra de fios castanhos escuros que utilizava esmalte vermelho, sentadas mais para a frente, na terceira fileira. Mihael optou por escolher um lugar próximo de Ryuk, deixando com que o ruivo se sentasse na mesa a sua frente, encostando-se confortavelmente na parede, enquanto ele se assentou ao seu lado. Retirou o console que ainda permanecia em seu bolso, retomando a fase em que parara do Super Mario Bros 2 que iniciara pela sexta vez no dia anterior. Em um momento, seus olhos recaíram sobre o loiro, apenas para averiguar o que ele fazia, por alguns segundos se perguntando o que ele escrevia no celular, logo obrigando-se a voltar sua atenção para o jogo. Detestava olhar para ele por muito tempo pois automaticamente começava a pensar no quanto o amava e isto tinha duas consequências: pau duro e tristeza (as vezes ambas ao mesmo tempo). Um silêncio incômodo e tenso se instalou no ambiente até que Ryuk soltara um suspiro excessivamente alto, reclamando do quanto estava entediado, todavia, antes que Matt pudesse iniciar uma conversa com ele guardando seu jogo na algibeira de sua calça outra vez, outro garoto adentrou a sala com Steverson, o professor de matemática mais chato de todos. Ele era branco de cabelos loiros e olhos azuis, um rosto muito genérico, ainda que bonito, salvo o piercing negro no lábio inferior ao lado direito. Seu porte físico era alto e forte com ombros largos, mas com braços não tão grossos e suas vestes eram típicas de um menininho mimado que resolveu se revoltar contra os pais: jaqueta de couro preta, calça jeans rasgada com corrente e essas modinhas do estilo BadBoy.

— E eu não quero ouvir nem um pio! – Gritou o careca não apenas irritado como exausto, recebendo uma risada de puro escárnio como resposta. – É sério, Jack! Já estou farto das suas brincadeiras infantis e irresponsáveis! – O repreendeu agora ainda mais colérico apontando para ele. Seu rosto ficara vermelho e uma veia de sua testa ao lado esquerdo saltava na cabeça de ovo pulsando ao berrar para o loiro que, em contrapartida se portava sereno e sossegado, buscando um lugar para se sentar.

— Tá legal... – Disse baixo, porém era óbvio que ainda caçoava do mais velho, levantando suas mãos para cima como forma de redenção. Infelizmente (pois Mail não gostara dele) "Jack" resolvera se assentar atrás de Mello.

Fora somente naquele momento que percebera que o amor de sua vida fuzilava o loiro com o olhar e que, provavelmente, isto que o incitara a se sentar próximo a ele, mais precisamente na carteira atrás dele, ao lado de Ryuk. Visivelmente enfurecido, Keehl se levantou repentinamente, pegando a mochila que outrora jogara no chão para se locomover até às garotas que pintavam as unhas, do outro lado da sala. — Eu perdi alguma coisa? – Cochichou para Ryuk, tendo ciência de que ele sempre sabia de tudo que acontecia no colégio. O outro loiro - o desgraçado que havia feito ou dito algo para Mello - riu baixo, contente com sua reação à sua presença, fazendo o estômago de Matt se revirar em desgosto e asco. Ryuk fez um sinal com a mão para que ele se aproximasse, debruçando-se sobre a mesa para que ficassem o mais próximos possível. Entretanto, mais uma vez, foram interrompidos pelo professor que, após suspirar em busca de calma e autocontrole, se locomoveu rapidamente até o armário ao lado da lousa, pegando a não tão pequena caixa de papelão que estava acima deste.

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