Amor

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Outubro estava no fim, com ele os exames se acumulavam e o Halloween estava cada vez mais próximo. Ademais, o Homecoming estava marcado para o dia das bruxas, e após o baile todos aqueles julgados minimamente populares e legais haviam sido convidados para a festa de Scott, um garoto cujo único atrativo e qualidade era ser filho do prefeito. No entanto, enquanto todos ainda aguardavam ansiosamente o final de semana, Light, que sempre era um dos primeiros nas listas de convidados, não podia se importar menos. Levaria Misa ao baile apenas para deixá-la suficientemente feliz para que pudesse se aproveitar dela posteriormente, com a consciência mais tranquila, e provavelmente sequer tentaria fingir que iriam a festa. Iria levá-la direto para casa e arrancaria o vestido odioso que ela lhe levara para ajudar a escolher há algum tempo.

— Faltam trinta minutos. – Anunciou a professora de Ciências Sociais, alertando-os da proximidade do término da prova.

Completamente desinteressado, Light dirigiu sua escassa atenção para o lado, reservando dois bons longos minutos para observar Lawliet recolher seus pertences para entregar seu exame, como de costume primeiro do que ele, até que se lembrasse que ele mesmo deveria terminar suas respostas. Por mais inacreditável que pudesse parecer, não estava irritado com L. Um misto de emoções se amontoava dentro de seu coração, desde admiração e incitação até o velho e cada vez mais recorrente sentimento de inferioridade que ele tanto lhe provocava, entretanto em nenhum momento sequer sentiu ódio ou raiva, verdadeiramente. Talvez em algum lugar dentro de si já estivesse se acostumando com a ideia de ser menos inteligente do que Lawliet. Por mais que lhe doesse admitir, já não conseguia mais mentir para si próprio com o mesmo empenho que outrora. Ademais, ainda que posteriormente sentisse certa irritação pela situação que fora submetido, estava confuso e eufórico demais para aquilo agora. Como um bolo de fios que se emaranhava em seu estômago, suas emoções oscilavam de forma tão abrupta e inconstante que lhe deixavam enjoado e atordoado. Eram tão intensas e confusas que, em sua maioria, não era capaz de nomear o que sentia, como se todas as combinações possíveis tivessem sido postas em um liquidificador e, uma vez homogêneas, se tornavam incapazes de se identificar. Não respondera corretamente a última questão, incomodado demais com o súbito mal-estar que Lawliet era capaz de lhe provocar mesmo ausente, desistindo de se estender muito naquela prova.

Light não compareceu a próxima aula, vagando pelos corredores quase que sem rumo, perdido em meio a seu enredado de emoções, tentando desesperadamente pensar em algo que não fosse aquele sapo. Ryuk não comparecera ao colégio naquela manhã, o que lhe deixava, admitisse ou não, demasiadamente solitário e entristecido, como se algo fundamental a sua existência não fizesse mais parte de si. Ele provavelmente estava se organizando para visitar o irmão e recebê-lo, brevemente, em sua casa, talvez até estivesse tentando conseguir um emprego “limpo” ou uma vida fora da cadeia para ele, o que, na perspectiva inumana de Yagami, se configurava como impossível. Nenhum dos parentes de Kadan possuíam salvação, desde sua mãe, que na verdade lhe parecia a pior dentre eles, a Dante, que possuía a ficha consideravelmente limpa. Todos eram marginais ignorantes e violentos que mereciam morrer na cadeia, porém, como sempre dizia Ryuk, “família não se escolhe”, e não cabia a Light dizer a ele o que fazer ou que sentimento nutrir por eles. Levemente preocupado, o japonês tentou outra vez ligar para o grandalhão sem sucesso, não importando-se o suficiente para deixar uma mensagem de voz, ainda que não fosse capaz de deixar de lhe enviar mensagens consideravelmente agressivas para que ele ao menos lhe desse algum sinal de vida. Por fim, decidido a distrair sua mente, tanto de Ryuk quanto de L, além de recuperar parte de sua dignidade e seu ritmo que abandonara antes mesmo de conhecer aquele sapo, em uma crise depressiva no ano anterior, se pôs a caminho do clube de xadrez. Se não podia vencer Lawliet, ao menos tentaria voltar a empatar suas disputas.

De maneira atípica, a porta do clube se encontrava aberta, e Iori, o presidente desde sua saída, estava frente a ela colando alguns cartazes e avisos em uma espécie de quadro de notas improvisado. Antes que Light pudesse cumprimenta-lo, o menor notou sua presença, voltando-se para trás para salda-lo respeitosamente, como já era acostumado a fazer.

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