Fogo

238 21 44
                                    

— Matt!

Merda, aquilo estava ficando cada vez pior...

— Matt!

Por que sempre se metia naquele tipo de situação?

— Matt! – Chamou-o agora pela terceira vez, finalmente obtendo sua tão requisitada atenção. Aquele idiota estava o encarando a dois minutos e meio completamente atônito sem proferir uma palavra sequer. – Anda logo, tá comigo ou tá contra mim!?

Por que se tratando de Mihael tudo tinha que ser tão extremo?

— Mells, você sabe que tô contigo, – Era até ridículo de se perguntar, sempre estaria ao seu lado. – Mas... Precisa mesmo disso? – Como sempre se metia naquele tipo de situação? Ainda tinha volta, ainda podia esquecer daquela loucura e fingir que nada havia acontecido. Se sentaria pacificamente ao lado de seus irmãos e desfrutaria de um medíocre e sossegado almoço, do qual se sucederia apenas mais três aulas e, após estas, estaria em casa jogando qualquer coisa ou dormindo. Quem infernos gostaria de trocar um término de dia tão pacífico como aquele, por aquilo!?

— É claro que precisa! – Sabia disto. Não que aquela merda não fosse evitável, aliás muito pelo contrário, contudo para o loiro era indiscutível, era um mal necessário. Conhecia Keehl como ninguém, logo estava ciente de que, com ou sem ele, Mihael faria o quisesse fazer. – Se quiser fugir como um covarde, a porta está bem ali. – Indicou a peça de madeira atrás deles com a cabeça, agarrando a grande e pesada caixa de papelão. – Não deixe que ela bata no seu traseiro quando você sair.

— Mas que porra, Mello. – Soltou em um suspiro chateado e cansado, tirando a caixa de suas mãos para levá-la sala à fora. Porque Mello tinha que ser tão problemático e ao mesmo tempo tão irresistível? Droga esta combinação era perigosa, Mello era perigoso. Era indubitavelmente isto que os mataria precoce e dolorosamente. Porque quando ele morresse, Matt acabaria indo consigo e disto obtinha certeza. Porque sempre se perdia naquelas malditas safiras tentadoras e manipuladoras como uma pobre e indefesa mariposa que voa em direção às chamas, porque Mello era quente, quente o suficiente para queima-lo em conjunto com tudo a sua volta. Mas não, ao contrário do que possa parecer, não era porque atualmente o amava mais do que como irmão, ao menos, não era esta sua principal motivação. Mail era quase um ano mais velho, cerca de cinco centímetros mais alto e pouco menos de dez quilos mais pesado que ele, todavia por mais feminina e delicada que fosse sua aparência, Keehl era irrefutavelmente mais forte. Embora fossem ambos garotos de rua, muito provavelmente por suas próprias e individuais experiências, Mihael era extremamente violento, sendo o primeiro a entrar numa briga ou causa-la enquanto, em contrapartida, o ruivo era dócil e as evitava a todo custo. Logicamente, não era difícil adivinhar quem protegeu e defendeu quem. Sentia-se preso, em uma dívida insolúvel e intransmissível. Tudo que podia fazer era carregar e transportar coisas para ele, assim como seus materiais ou caixas pesadas, cuidar de seus machucados e acompanhá-lo a onde quer que fosse. – Um dia você vai matar a gente, sabia?...

Levaram as caixas com a tinta de coloração vermelha pelos corredores vazios aproveitando-se do horário de almoço onde a maioria dos estudantes permanecia no refeitório, fazendo com que Mail se perguntasse qual era exatamente seu destino. Do objetivo malévolo que Mihael obtinha já obtinha ciência, contudo de como exatamente ele o realizaria já era por ele desconhecido. Todavia antes que assim pudesse o questionar o loiro se dirigiu até o depósito do zelador, retirando um molho de chaves do bolso de seu casaco e levando especificamente uma delas ao trinco, a destrancando. Tudo o que pôde fazer fora encarar boquiaberto Mello invadindo a pequena sala tranquilamente, como se de fato já o tivesse feito inúmeras vezes. — Da onde você tirou essa chave? – Indagou ao adentrar o cubículo logo atrás dele, vendo-o retirar alguns esfregões de um canto provavelmente por ele já previamente escolhido, revelando um ótimo esconderijo para a caixa. – Fez um boquete no zelador? – Zombou ao colocar o recipiente de papelão no chão, o cobrindo com alguns panos retalhados e gastos próximos. – Mihael! – Esbravejou indignado com o silêncio do loiro interpretando-o como uma afirmação.

That's LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora