Só precisamos de nós. {M}

sessenta e oito

Ret

Passei mais dois dias no hospital e meti o pé pro morro, eu tava ligado dos riscos de infecção e essas paradas, mas eu não podia arriscar mais tempo por lá não, ainda mais que a pista tava salgadona.

Os cara até tentaram entrar na minha mente pra que eu ainda ficasse por lá, falaram até que molharam o bolso de uns pm que ficam na cabine bem na principal perto do Upa, mas quem é cascudo já sabe que é lorota, contar com esses cara é que nem dá um tiro no seu próprio pé.

Meu telefone tocou e eu levantei pra atender.

Ligação on:

Oi Mae.

Fátima: Como você está? Tá melhor?

Tô bem, tô bem.

Fátima: Já vi o negócio dos remédios, tô em casa ajeitando minhas coisas, vou passar uma semana aí com você, pra ver se eu te coloco na linha.

Pra quê isso cara? Num falei que vou ficar em casa? Então pronto.

Fátima: Ai menino, me economiza, eu vou e pronto.

E a Manu? O Kauan?

Fátima: A Manu eu vou levar, já o Kauan vai ficar com o pai dele.

Vai vir hoje ainda?

Fátima: Sim, se liga em, vou desligar aqui, vai pra rua não.

Correto.

Falei e desliguei o celular.

Limpei meu curativo, tomei um anti-inflamatório e fui pra laje puxar um.

Dichavei a maconha, bolei e botei pra subir.

(...)

Ret: Já chegaram? Vieram rápido. - Falei irônico.

Fátima: Pelo menos finge que quer a gente por aqui seu ingrato, tô aqui pra te ajudar.

Ret: Eita, pegou ar porque? Tô tirando contigo coroa.

Fátima: Vai atazanar outro vai, tomou o remédio? - Assenti. - Qual?

Ret: Uma erva natural. - Falei e ela me deu uma mãozada no braço. - Calma aí cara, tô brincando, veio pra me ajudar desse jeito?

Fátima: Tô falando sério com você Filipe, tomou ou não?

Ret: Tomei cara, e tu num fala comigo não é manu? - Falei rindo pra ela e ela mandou beijo.

Manu: Tá dodói poque é temoso.

Ret: É o que d'menor.

Manu: Mamãe que falou. - Falou rindo e eu olhei serinho pra minha mãe.

Fátima: Sobe manu, falou demais já.

Ret: Fica falando essas coisas perto da papagaio, dá nisso.

Fátima: Vou subir, quando eu descer, eu faço tua janta.

(...)

Tava puxando um na varanda e ouvi passos atrás de mim.

Fátima: Pega, coloca teus pés em cima. - Me entregou uma almofada. - Manu dormiu, quero conversar contigo Filipe.

Ret: Aqui mãe, vou logo adiantando, se é sobre largar essa vida, nem vou entrar nessa contigo, a senhora já sabe que não vou.

Fátima: Não é sobre isso.

Ret: Senta aí então. - Ela sentou e respirou fundo. - Fala.

Fátima: Eu estive no hospital com você, não só eu, mas tinha umas garotas lá também, inclusive a Ana, mas ela estava estranha.

Sabia cara, tava esperando algo assim.

Ret: Joga verde não mãe, se quer perguntar, pergunta.

Fátima: O que rolou com vocês filho? A irmã da Ana me falou apenas algumas coisas por cima, mas eu tenho certeza que não foi só isso.

Ret: Namoral, nem tô afim de falar disso, papo reto mesmo.

Fátima: Foi o que? Você traiu ela? Você levou ela lá em casa, até apresentou como namorada filho, o que houve?

Ret: Interessa de quer isso agora cara? Já passou, nada haver ficar trazendo uns bagulhos antigo pro agora.

Fátima: Ninguém tá trazendo nada não Filipe, eu estou apenas conversando com você, sou sua mãe, tem alguma problema nisso?

Ret: Tem, tem problema sim, porque é assuntos que morreram pra mim, não vai edificar nem eu, e nem a senhora, ficar falando sobre isso.

E morreram mesmo, até hoje não falo sobre isso nem com os que sabem da história, vou falar com a minha mãe?

Bagulho foi necessário, se eu não fizesse aquilo ia ser tirado como otário no meu próprio morro, imagina se a porra da facção fica sabendo de uma patifaria dessa, ai eu te pergunto eu tava vivo nessa porra hoje? Tava um caralho.

Se o negócio chegou nos aliados, eu quase perdi meu posto, imagina no peixe grande, tava comendo era terra uma hora dessa.

Fátima: Tudo bem se não quiser falar, não vou te obrigar, mas olha, ela praticamente salvou sua vida. - Eu que estava de cabeça baixa esse tempo todo, só olhei pra ela agora e sem entender porra nenhuma.

Ret: Que papo é esse?