Ligações.

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Eu tenho tentado ligar. Eu estou sozinho há tempo demais. Talvez você possa me mostrar como amar, talvez. Estou passando por abstinências. Você nem precisa fazer muito. — The weeknd ( Blinding Lights)

Meus olhos passaram pelo o corredor vazio, meu coração estava mais acelerado que o normal. Talvez, eu tivesse sido um tanto quanto imprudente ao mandar aquela mensagem, mas agora não havia escapatória.

A mensagem já havia sido mandada, sem chances de voltar atrás ou qualquer coisa do tipo. Enquanto eu esperava por uma possível visita que talvez nem acontecesse, devaneio sobre os últimos acontecimentos, e como eu tenho levado tudo em meus ombros, assim como em um jogo de videogame, mas para todo mundo eu nunca deixaria de ser o vilão. Inacreditavelmente, isso não é algo que eu sinto de hoje em dia, mas sim da minha infância.

— Talvez se você não tivesse sido tão estúpida, nunca teria engravidado desse bastardo. — As vozes grossas vinham da sala com grande entonação e ele não fazia questão de diminuir seu tom de voz, para que eu não pudesse ouvir — Nunca pedi um filho, Ellie. Não faça me sentir péssimo por isso, pois não irá conseguir.

— O que custa amar o seu filho? Ao menos um presente, hoje é o aniversário dele. — Mamãe dizia passivamente.

— Talvez, se você nunca tivesse esse garoto, hoje em dia poderíamos viver em paz.

— Como você pode dizer isso? — Ela parecia em choque com as palavras dele. Meus olhos transbordavam pelas lágrimas, não de tristeza, mas sim de ódio. Eu tinha apenas quinze anos, durante todos esses anos nunca havia trocado tantas palavras com o meu pai, não entendia seu ódio sobre mim, eu sempre cresci com esse peso em meus ombros, sem o afeto dele e da minha mãe, que era mais ou menos presente.

Um suspiro escapou de meu interior, olhando ainda aquele corredor vazio, algumas lembranças do passado me invadem. Quando eu tinha exatamente dezessete anos, vivia na rua com os amigos, bebendo, fazendo merda e até mesmo destruindo propriedades privadas. Mas, teve um dia que fodeu muito. Em uma dessas minhas "diversões" eu bati em uma viatura da polícia, dentro tinha dois policiais, eu lembro exatamente da cena, é como se tivesse acontecido minutos atrás.

— Vai merda, acelera, porra! — Gritou Jackson do meu lado, ele ria descontroladamente. Dois moleques bêbados de dezessete anos, dirigindo igual inconsequentes. Já havia bebido umas três a cinco cervejas, não me lembro muito, então eu não estava em condições de dirigir, e pensando melhor, nem sóbrio eu sabia.

— Essa merda parece van escolar, não aguenta 120 por hora. — Gritei alterado batendo no volante, enquanto tentava manter o carro na estrada. Por nossa sorte era tarde da noite, as ruas estavam vazias, apenas nós, o carro da avó de Jackson e um som alto pra caralho.

Mas quando eu tenho a visão do carro virando a esquina e vindo em nossa direção, a felicidade em meu rosto sumiu, o desespero surgiu, eu apertava desesperado no freio, mas não deu muito certo. O carro já estava muito em cima, e para não bater em nós acabou desviando e acertando em um poste. Tudo ficou em câmera lenta, o carro passou por nós, os dois homens que estavam lá dentro gritavam um com o outro, mas logo se colidiram com o poste. Nosso carro foi parando aos poucos e eu estava em choque, meu corpo tremia. Eu estava sentindo medo, pela primeira vez em muito tempo.

Naquela noite, meu pai pagou por todo o estrago, eu não fui preso, ainda era menor, o máximo era uma prisão para menos. Mas não, entre tantas coisas, eu...

A campainha me tirou do transe e eu pisco algumas vezes, descruzando os braços, eu estava tenso, apenas lembrando das merdas do passado. Queria socar meu passado no fundo do inferno.

Sinful Angels - jeonggukOnde histórias criam vida. Descubra agora