O parto

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DULCE MARÍA

Alguns meses depois.

— Acho que esse quarto ficou incrível! E você, o que acha? — perguntei olhando os quatro cantos do espaço.

— Eu fiz a maior parte das coisas então, é óbvio. — Christopher respondeu pretensioso e lhe dei a língua como resposta.

— Já consigo imaginar Luna aqui. — disse me aproximando e tocando a lateral de seu berço.

— Está tão perto de termos nossa neném nos braços. Confesso que estou com medo ainda.

— Do que?

— De não ser um bom pai. Victor foi ótimo, mas não esteve tão presente depois do divórcio. Minha mãe fez basicamente os dois papéis, com maestria, porém não cresci com uma figura paterna e talvez tenha vindo disso a aversão que tinha de relacionamentos... Lembro-me de alguns momentos quando ainda éramos os três na casa. Eu pensava que era tudo perfeito. Eu idolatrava nossa família e de repente, tudo isso foi ao chão e eu pensava: "se o relacionamento dos meus pais que era perfeito, teve um fim, não tinha como outro não ter." E por outro lado, me senti muito abandonado quando meu pai se foi e não queria me sentir assim de novo, e acreditava que todo relacionamento iria me deixar esse buraco no peito do abandono.

— Eu espero passar o resto da minha vida ao seu lado, Christopher. Será sempre você, Luna e eu. Não seremos a família perfeita, isso não existe. Mas tenho certeza que esforço não irá faltar e muito menos amor. Você será um ótimo pai, tenho certeza que nossa filha o amará.

Christopher se aproximou em pousou uma de suas mãos em meu frente.

— Eu te amo tanto meu amor. Vocês me fizeram um novo homem e eu prometo que irei compensá-las todos os dias até o último dia de minha vida.

No mesmo momento em que senti lágrimas rolando pelos meus olhos, senti algo escorrendo pelas minhas pernas e pingando no chão.

— Christopher, eu... A... Luna...

— O que foi meu bem?

— Eu... meu Deus... não era para ser hoje... Minha... Minha bolsa estourou!

Christopher arregalou os olhos e mirou o tapete do quarto recém pingado. Parecia tão em pânico quanto eu, olhou por diversas vezes até achar minha bolsa de maternidade.

— Como você está? Está doendo?

— Minhas costas doem um pouco, mas ainda não senti nenhuma contração. Está tudo bem. Deixa que eu te ajudo a achar as outras coisas.

Alguns minutos depois estamos dentro do carro, Christopher segurava o volante com uma mão e quando podia, segura minha perna com a livre.

— Aí!!!! Minhas costas estão ardendo ainda e estou sentindo uma dor esquisita.

— Vai ficar tudo bem, estamos quase chegando ao hospital... Angelique já está avisada que seu parto adiantou e me assegurou que a mesa de cirurgia já está pronta. Vai dar tudo certo.

Daquele momento em diante, tudo me pareceu um borrão, lembro-me de algumas coisas, mas parecia apenas cenas tiradas de um cinema mudo.
Foi um correria com uma cadeira de rodas, paredes brancas, dores insuportáveis. Estava com medo novamente. E se a cesária não desse certo? E se Luna estivesse adiantada demais?

Quando deitei naquela mesa de cirurgia, achei que iria surtar, o mundo ainda continuava sem voz e rápido demais, até que senti um aperto caloroso nas mãos e ouvi Christopher sussurrar que não estaria sozinha.

Depois de um tempo que não sei quanto foi exatamente, mas pareceu horas a fio, ouvi um chorinho fino de criança e vi quando minha Luninha foi carregada cheia de sangue para ser limpa.

Estava de certa maneira dopada, mas ainda assim sentia me agitada por dentro, porque estava doida para segurar minha neném nos braços e nada da enfermeira voltar.

E ela realmente não voltou, fui recebida com uma cena maravilhosa, Christopher veio até a mim com nossa filha nos braços.

— Aqui está nosso bebê, meu amor. É tão linda como você.

— Eu quero segurá-la, Chris.

Christopher me passou com todo cuidado nossa pequena e a segurei em meus braços, me ajeitando no colchão.

— Você é tão linda e cheirosa. — disse enquanto cheirava sua cabecinha.

— Estou tão feliz por nós e por você. Foi uma guerreira, trouxe para esse mundo uma princesa, nunca serei grato o suficiente por ter me dado essa dádiva de ser pai.

Christopher se inclinou e beijou o topo de minha cabeça. No momento em que se aproximou, Luna fez um barulhinho. Naquele instante soube que não haveria dia mais feliz em minha vida e que não iria ter mais nada que eu quisesse, além da minha família.

E esse foi o meu final feliz, com meu príncipe e minha princesa no colo.

FIM.

Todo CambióOnde histórias criam vida. Descubra agora