Tudo vai ficar bem

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ANAHÍ

Dulce parecia um móvel apoiado no sofá quando contei o que havia acontecido. A única alteração perceptível que pude notar era suas feições pálidas. Eu sei que não deveria ter dito assim de cara, mas eu odeio rodeios e por Deus, Dulce tinha que saber o que aconteceu com o Ucker.

- Dulce? Amiga?

- Ele está vivo? - Dulce disse, mas nem mesmo seus olhos se dirigiram aos meus.

- Sim. Está no hospital. Ainda não se sabe seu estado de saúde. Não fui vê-lo, queria saber se você queria ir comigo.

- Claro. Você pode pegar minha bolsa? Está no quarto do Chris.

- Já volto.

Entrei no quarto de Christopher e não pude deixar de notar uma caixa em cima da cama. Uma lágrima escapou do meu rosto, que meu bebê esteja bem. Depois de pegar a bolsa de Dulce, segui com ela no carro, até o hospital.

Dulce estava muito estranha, é evidente que a situação não é nada boa, mas ela parecia estar cercada em um muro impenetrável. Não trocou nenhuma outra palavra comigo, nem mesmo quando chegamos ao hospital. Os médicos não nos permitiram ver como Christopher estava e também diziam que não podiam dar informações ainda. O hospital todo parecia uma confusão, não sei se sempre é assim, mas hoje era como se estivesse em câmera lenta, enquanto o resto do mundo corria desenfreadamente.

Alfonso chegará e me envolveu em seu abraço. Dulce estava na outra poltrona, e mesmo com Poncho alí, ainda permanecia em silêncio total. O tique-taque do relógio era ensurdecedor, visto que mais membros da família haviam chegado e nada de notícias do Uckermann.

Tia Alê, que chegará logo depois, não se conteve em seu desespero e teve que ser internada. Sua pressão foi lá no pé. Todos nós estávamos aflitos e esperando o melhor, até que um médico apareceu na sala de espera.

- Vocês são os familiares de Christopher Uckermann?

- Sim. - disse em um sobressalto, me levantando do sofá.

- Eu sou Devan, um dos médicos que está acompanhando o caso de Christopher. Por conta do impacto da batida, ele sofreu várias fraturas, inclusive um traumatismo craniano. Seu estado de saúde e delicado e por conta da hemorragia, precisaremos iniciar uma cirurgia afim de aliviar a pressão na cabeça e reduzir o sangramento.

Nesse momento, Dulce levantou e se aproximou do médico.

- Ele vai ficar bem, doutor?

- Faremos o possível. Por ora, o que podem fazer é só aguardar.

- Muito obrigada, doutor. Por favor, quando tiver mais notícias, não deixe de nos falar.

- Perfeitamente.

Doutor Devan, se ausentou da sala, deixando um clima muito denso sobre nós. Naquele momento, me desvencilhei de Alfonso e ajoelhei-me a frente de Dulce.

- Tudo vai ficar bem, Dul. O bebê é forte, confie em mim. Christopher vai sair dessa.

Dulce dirigiu os olhos aos meus, e vi lágrimas rolando por eles. Uma de suas mãos, segurou a minha e enfim, ela falou.

- Já vim nesse hospital quando era criança. Tem uma capela ao lado do refeitório, você poderia ir comigo até lá?

Assenti e também chorei quando Dulce me ajudou a levantar e fomos de mãos dadas a capela.

- Não precisa rezar comigo, só não quero ficar sozinha.

- É claro que vou rezar. Toda fé será necessária nesse caso.

Ao chegar na capela, Dulce se ajoelhou em frente a imagem da Sagrada família e começou a rezar. Em sua mão direita, ela carregava um rosário.

Me ajoelhei ao seu lado e fechei os olhos, também iria pedir para que tudo desse certo.

Não sei quanto tempo ficamos ali, só me dei conta de outra coisa além das minhas próprias orações, ao sentir Dulce apertando minha mão novamente.

- Ele vai ficar bem, não é Any?

- Vai sim, Dul. Ele é forte como um touro.

- Não posso perder Christopher. Ele precisa conhecer o filho.

- Está gravida mesmo?

- Ia contar para ele, se ele tivesse chegado. O exame de sangue deu positivo. Tem um serzinho dentro de mim, Barbie... Era para estarmos sorrindo em frente a lareira agora, Any... Isso não devia ter acontecido.

Pela primeira vez na noite, senti Dulce desabar verdadeiramente em um choro angustiante.

Espero que Christopher saía dessa.



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