~ Capítulo 3 ~

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“É estranho sair com alguém, quando você está de luto. É estranho fazer qualquer coisa diferente além de ficar trancafiada em um local, é.…complicado!

Às vezes dou uma releitura naquele diário, não nas partes que escrevi e sim nas partes que ele escreveu para mim, nas partes que ele pensava e repensava sobre seus sentimentos. Aqueles detalhes são essenciais para eu enxergar quem realmente me amava.

Mesmo com as diferenças, mesmo com as implicâncias, mesmo com os problemas...ele me amava e se possível, caso estivesse vivo ainda hoje, provavelmente ainda estaria apaixonado loucamente por mim.

Será mesmo que ele estaria?

Não consegui seguir seus conselhos, como sempre, não consegui ouvi-lo, mesmo que eu tente...sei que não vou conseguir.

Fraca sou, fraca estou...

(A desistência é uma revelação

Desisto, e terei sido a pessoa humana

E só no pior da minha condição que esta

É assumida como meu destino - Clarice Lispector)


Sei que algum dia vou sentir falta de escrever estes poemas, talvez no dia que eu pegar uma corda e....

Pela segunda vez, mesmo que eu tente e tente…sempre vou errar...sempre! ”


Entro no banheiro e.…deixo a porta encostada, não tenho mais motivos para trancar isto. Logo vou me olhando naquele espelho, para mim, aquele local estava em meio de tons de azuis e um pouco escuro, sei que era de manhã, mas...meu mundo não possuía mais cores fortes. Nem mundo eu tinha mais...

Vou olhando pelo espelho, meu rosto, com falhas que não gosto, com falhas que odeio...passando levemente as pontas dos meus dedos em minhas bochechas e logo descendo em direção ao meu queixo.

Logo vou pegando em minhas mechas do meu cabelo, analisando cada detalhe...eu...não gosto...

Porque? Eu...deveria me amar como você já falou para mim, mas eu não consigo, não consigo!

Me perdoe…me perdoe...

Eu quero chorar, eu tento chorar, mas...não se passa de um sentimento ruim no fundo de minha alma. Não consigo expressa-lo! Eu não...

Abaixo minha cabeça em desespero, sinto meu coração acelerar, aperto minhas mãos contra a cuba da pia do banheiro, forçando o máximo que posso...meu ar logo começa a faltar, eu não conseguia fazer muita coisa, apenas ficava tentando puxar meu ar....de novo…de novo...de novo...

Minhas mãos estavam trêmulas, queria falar, não conseguia, meu coração cada vez mais acelerado. Tento, lentamente direcionar minha mão a torneira da pia e logo, com um pouco de dificuldade, vou a ligando.

A água escorria...lentamente...aquele som calmo, tentei focar minha visão apenas naquela água, tentando esvaziar a minha mente e apenas focar no som da água!

Eu estou bem...eu estou bem...

Inspira, segura por cinco segundos, expira lentamente...inspira, segura por cinco segundos e expira lentamente.

Meu coração foi desacelerando, minhas mãos continuavam trêmulas, fui seguindo aquela ordem (Inspirar, segurar e expirar) logo vou me sentando ao lado da pia, encostando meu rosto a aquele porcelanato gelado...ainda escutando o som da água.



Eu aqui, desenho como foi aquela sensação horrível. Sei que infelizmente muitos podem se identificar com este sentimento...não desejo nada disto a ninguém.

O meu desenho não é algo simples, mas também não era tão difícil...
Desenhar uma sensação não é nada fácil, mas para quem já a sentiu, não é impossível!

Meu desenho contém uma silhueta humana, onde não distingue se é uma mulher ou um homem, apenas...uma pessoa! Esta pessoa coloca suas mãos nos seus ouvidos, na tentativa de não conseguir de escutar seus próprios pensamentos! E dentro de si está todo corrompido, todo confuso onde não sabe o que é ou o que estar acontecendo. Não sabe se pede ajuda ou...”



Sentada no sofá da sala estou, usando meu moletom preto, com meu capuz, tentando cobrir tudo de mim. O máximo que posso! Minha tia...havia saído para pagar as contas, comida ela não precisa comprar, já que não tem usado muito...

Muitas vezes, do que sobra em meu prato, ela junta em uma vasilha e deixa armazenado para eu esquentar e comer no outro dia, mesmo que ela insista em eu comer...não consigo! Apenas consigo comer, no limite, quatro colheres.

A casa estava silenciosa, a madeira as vezes rangia, a geladeira estralava, o garrafão fazia bolhas..., mas nada daquilo me assustava. Era até bom escutar, mas aqueles sons me lembravam que eu estava em um poço de solidão...

Olhava para meus antebraços, droga...aquilo doí de uma maneira boa...cicatrizes...aliso aquela minha primeira marca de sofrimento.

Em um susto, escuto alguém na porta bater, logo com um reflexo, abaixo a manga, assim, escondendo aquela marca…me levanto e vou em direção a aquela porta em total silêncio, pego na maçaneta, giro e a abro depois...de tanto tempo...

ATRAVÉS DA ESPERANÇA - Kai Jong-inOnde histórias criam vida. Descubra agora