~ Capítulo 6 ~

128 19 18
                                    

Eu e meu irmão, estávamos novamente olhando para o céu, pois aprendemos ali, que quanto menos você se mexer, menos terá chance de sentir dor. O som que as ondas emitam era um pouco relaxante...

Luis: Não acredito que estou preso em uma ilha com você!

Kai: Minutos atrás você estava chorando por eu não estar acordando.

Luis: Eu tinha esquecido que ter um irmão mais velho é chato!

Kai: Pare com isso, sei que você me ama! – Viro meu olhar para ele.

Luis: Ih! Vem com melação não rapá! Tá me estranhando? – Dou um sorriso, logo então nossas barrigas fazem um barulho, sinto que ela estava completamente vazia. – Quando a gente vai comer e beber algo Kai?

Kai: Vou procurar primeiro um apoio para sua perna!

Luis: Espera...você...- O mesmo volta seu olhar, que estava triste, para mim- pode procurar pelo Mateus também? Estou esperando ele aparecer de surpresa até agora, mas…não o vi! Acho que deve estar se distraindo com algum pássaro por aí, do jeito que ele é bem desatento!  - Havia me esquecido por alguns minutos que nós estávamos acompanhados da família do Mateus, que eram eles que estavam pagando...o pior, ou talvez não seja o pior, não sei dizer ao certo nestas condições..., porém Luis tinha esperança que eles estavam vivos. – Sério, se você encontrar ele bebendo água de coco por aí, no bem e bom. Dá uma lapada na nuca dele para ele não me esquecer de novo! – Dei um sorriso triste, queria ter esta esperança de que eles ainda estão vivos...em meio de tantos corpos em nossa volta...eu espero mesmo que ele esteja no bem e bom.

Kai: Tá. Também vou ver se tem alguma coisa no meio desses destroços que podemos usar para sua perna. – Ele acete com a cabeça- quer ficar aí no sol ou te coloco perto das árvores? 

Luis: Você ainda não aprendeu que eu sou um princeso? Não mereço ficar com minhas lindas mechas de cabelo ressecando neste sol! Vamos para sombra! – Mesmo sentindo todas minhas articulações doerem, fui me sentando e assim pegando o Luis no colo. – Se tu me derrubar eu te dou mais que um chute no meio do saco!

Kai: Tá! Tá! – Fui o levando em direção a palmeira que mais estava próxima dali, as vezes o vento fazia com que areia subisse e danificava a nossa visão, porém segui reto. Logo quando cheguei, o deixei gentilmente sentado encostado contra o tronco da árvore.  – Já volto!

Luis: Com pressa porque sou mais novo e preciso ser alimentado!

Kai: Vai se achando Luis! Vai se achando!

Luis: Eu não me acho! Eu sou! – Dou uma risadinha de leve, assim virando as costas para o mesmo. Minhas roupas se debatiam em meu corpo por conta do vento forte, fui olhando para os lados enquanto colocava minha mão contra o sol para enxergar melhor, estava tentando encontrar qualquer coisa que nos servisse naquela ocasião...

Corpos...mais corpos...nada além de corpos...a maioria queimados, outros com membros arrancados! Outros...esmagados...fui andando mais um pouco, me aproximando daquela poça de sangue e encontro algumas malas soltas, outras abertas!

Encontro intacto sem sangue e sem pedaços de...os objetos eram dois saltos altos, uma bolsa de medicamentos que serviam para dores de cabeça, algumas ataduras, junto tinha uma pomada para musculatura, duas toalhas, três lençóis, pasta de dente, um xampu, um condicionador e lenços umedecidos. Além de algumas roupas masculinas que encontrei. Coloco tudo dentro de uma bagagem vazia!
Vou me aprofundando mais um pouco para dentro dos destroços do avião...se tirássemos essas pessoas daqui, limpássemos o sangue, daria para dormir aqui dentro durante um tempo.

Encontro um isopor térmico, abro e ali continha três barras de cereais, um pacote amendoim, cinco garrafas de água, duas caixas de suco de laranja, dois salgadinhos de sabor queijo e por fim...um pacote de biscoito de chocolate!

Não era muito...mas serviria! Pego uma garrafa de água, abro e começo a beber, assim hidratando a minha garganta que estava completamente seca. Aquilo me dava até um sentimento de alívio, mesmo que não estivesse gelada...era tão bom, havia um leve gosto doce e, tecnicamente, bebia em desespero! Bebi tanto que apenas ficou quatro dedos de água.

Minha respiração estava ofegante, assim vou olhando em minha volta, o avião tinha se partido no meio, eu estava localizado aonde era para ser a área de serviço, ali dentro havia no total seis corpos, isso não era nada em comparação nos quais tinham do lado de fora.

Tampo a garrafa e assim vou a colocando novamente dentro daquele isopor, deixo aquela bagagem, onde coloquei tudo que encontrei, ao lado do mesmo objeto, sendo assim. Vou me direcionando ao primeiro corpo...

Era uma mulher, ela estava completamente ensanguentada, dos pés à cabeça, seu olho estava roxo e.…parecia estar...grávida! Meu deus…me desculpe...Vou a pegando pelas pernas, assim a arrastando para fora do avião. Faço isso repetidas vezes com os outros corpos. Tento os distanciar para mais longe o possível de onde passaríamos a noite, sei que quando começasse a apodrecer o cheiro ficaria insuportável!

Minhas costas já estavam doendo antes, imagina agora...estão bem piores! Giro meus ombros para relaxar meus músculos...olho para o céu e aparentava ser três horas da tarde! O sol estava escaldante e eu suava feito um porco. Fazer movimentos puxados enquanto você estar com muita dor e ainda sim tem areia em todo canto do seu corpo...não era fácil! Necessitava de um bom banho, mas...não havia água boa para nos banharmos, além a do mar.

Vou voltando em direção ao avião, assim pegando o ultimo corpo, era de uma criança...aparentava ser muito mais novo que o Luis...seu olho estava para fora...ele estava sentado em uma das poltronas e em sua mão pequena...havia um papel.

Pego este papel, abro...e era um desenho feito com giz de cera. Tinha várias cores, neste desenho estavam cinco pessoas em um gramado verde e perto de uma casa amarela! Cada uma dessas pessoas possuía algo escrito em cima, mesmo que as letras estivessem garranchadas, parece que este menino se esforçou ao máximo. (Papai, mamãe, Tio Thery, prima Blem e eu...) era isto que estava escrito.

Respiro fundo segurando as lágrimas, vou colocando aquele desenho dentro do bolso da calça do mesmo...

Porque? Porque só nós sobrevivemos? Tinham outras vidas importantes neste avião, não era somente minha vida ou a vida de meu irmão...não que eu esteja reclamando, mas as outras pessoas também tinham histórias a contar....

Precisava para e pensar em apenas uma coisa agora...sobrevivência! Tínhamos que sobreviver para voltar para nossa casa, tínhamos que sobreviver, pela minha mãe e pela...S/n! Sobreviver...

Vou pegando cuidadosamente aquela criança no colo, quando me viro para poder sair....

Hum...”


Escuto esse murmuro de alguém, não sabia de onde vinha, mas da criança que não era...

Minha cabeça...”

Era uma voz de um garoto, vinha de onde eu estava...eu...acho que sei de quem é essa voz...

ATRAVÉS DA ESPERANÇA - Kai Jong-inOnde histórias criam vida. Descubra agora