~ Capítulo 8 ~

118 21 38
                                    

Vou colocando aquela criança cuidadosamente no chão, minhas mãos e minhas vestes estavam repletas de sangue. Vinte por cento daquelas manchas vermelhas, era meu sangue e que não pertencia a mim era o resto que cobria. Não quero usar essas bandagens em mim, prefiro cuidar mais do Luis do que de mim...

"Aonde eu estou? "

A voz do garoto que estava pensando alto continuava, vinha para mais fundo do local aonde eu estava. Fui andando em direção aonde estava escutando aquela voz. Escuto um barulho de maçaneta.

"Têm alguém aí? "

Ele grita enquanto o som de maçaneta sendo forçada a girar continuava, era como se ele estivesse preso em algum lugar. Então, passando por uma cortina rasgada de tecido de lã azul. Vejo uma porta, senti que esse garoto começou a tentar abrir a porta. Ele ficava forçando e a porta se remexia só que não abria...

"Alguém? Por favor me ajuda!"

Mais uma vez a porta se remexe e finalmente se abre com um impacto, aquele garoto cai de cara no chão.

Kai: Ma..Mateus? - O encaro surpreso. Ele levanta seu olhar confuso para mim enquanto massageava seu nariz. Quando o mesmo me ver, rapidamente se senta no chão e assustado vai se arrastando contra a parede.

Mateus: Quem é você? - Espera...ele...- Quem é você?? Responde! - Ele não se lembra de mim? Sua testa estava machucada, suas roupas estavam até que boas em comparação as nossas.

Kai: Calma Mateus, sou eu. Kai! - Ele olha para minhas vestes sujas e seus olhos arregalam mais ainda. Desvio meu olhar para aonde ele estava trancado e vi que era o banheiro para passageiros...percebo que havia um pouco de sangue na cuba da pia. Acho que o mesmo bateu sua testa ali enquanto o avião caia...

Mateus: Não me machuca! Eu não sei quem é esse Mateus! - Sua respiração estava ofegante, suas mãos tremiam de medo que ele estava sentindo de mim.

Kai: Você é o Mateus, eu não vou te machucar.

Mateus: Como que eu...- ele desvia seu olhar para trás de mim e logo depois solta um grito, assim ficando de pé! - SOCORRO! TEM UM PSICOPATA COMIGO! SOCORRO! - Olho para trás e vejo o corpo da criança.

Kai: Se acalma por favor! - Me viro novamente em direção ao Mateus e ele tira seu tênis, arremessando assim em minha direção. Acertando logo em cheio a minha cara. Coloco minhas mãos em meu rosto.

Mateus: SAI SEU PSICOPATA! FICA LONGE DE MIM!

Kai: POR FAVOR! - Respiro fundo- Por favor, tenha calma. - Tiro minhas mãos do meu rosto- Nós caímos de avião. Eu, você e meu irmão somos sobreviventes! Seu nome é Mateus, você deve ter batido a cabeça na pia do banheiro e desmaiado. Assim perdido a memória!

Mateus: Eu não me lembro...- Respiro fundo novamente.

Kai: Sei disso, acabei de falar que você perdeu a memória. Aquela criança- aponto para o corpo- Morreu no acidente, estou tentando ajeitar esse local para dormimos aqui! Preciso que você se acalme Mateus.

Mateus: Não gostei desse nome. - Ele fica pesando.

Kai: MATEUS! - Respiro fundo mais uma vez, tentando manter a calma - Você compreende a gravidade dessa situação?

Mateus: É um nome muito sem sal...- Contraio meu maxilar.

Kai: Está bem Mateus, fica aí pensando no seu nome novo que eu vou terminar aqui o serviço e já volto! Não saia daqui! Ok?

Mateus: Raphael...não, ainda é sem sal! - Vou virando de costas para o mesmo, pegando assim de volta aquele corpo em meu colo, logo vou saindo.

Então vou deixando o Mateus viajando em seus pensamentos...Depois de um tempo andando, coloco aquele corpo aonde havia juntado com outros. Eu sei de uma coisa, não encontrei os corpos dos pais do Mateus dentro do avião, tenho medo deles terem sido carbonizados ou esmagados...Como o Mateus ficará quando voltar? Por lei, ele deve ser colocado na adoção se não tiver os pais por perto...mas...acho que Luis não vai deixar passar tão fácil assim.

Vou voltando, desta vez não era em direção ao avião e sim em direção aonde deixei meu irmão. Aos poucos vou meu aproximando daquela palmeira...assim escutando...

"Deixe a vida me levar, vida leva eu! Deixa a vida me levar, vida leva eu! "

Meu irmão estava a cantar, deduzo que era para passar o tempo, já que eu estava demorando. Assim ao meu aproximar, vejo o mesmo segurando em suas mãos...uma garrafa transparente?

Luis: Opa! IRMÃOZÃO!! Quanto tempo, hein! - Ele falava todo embaralhado, dando um sorriso sapeca e suas bochechas estavam rosadas. O mesmo soluça. - Cara, encontrei água enterrada na areia! - Ele começa a rir. - Acredita?

Kai: Água? - Vou pegando a garrafa do mesmo, assim abrindo a tampa e cheirando o que havia ali dentro, o cheiro de álcool era tão forte que até solto um espirro. - Isso não é água seu burro! É bebida!

Luis: Bebida? Cara é água, nem senti o gosto para ser sincero. - Ele rir- Pior que água nem tem gosto! - Ele continua rindo. Acho que a boca dele estava tão ressecada que nem se deu ao trabalho de identificar o gosto.

Kai: Poxa Luis, estava com tanta sede que não suportou me esperar por algumas horas?

Luis: E você quer que eu faça o que? Meu irmão me abandonou para maré me engolir! Me abandonou para virar uma estátua de areia! RESUMINDO! ABANDONADO POR VOCÊEEEEE!!!- Ele canta novamente, enquanto eu respiro fundo mais uma vez, agora tenho que cuidar de uma criança que bebeu álcool por engano e um que pensa que sou psicopata!

Kai: O que fiz para merecer isso? - Vou tampando aquela garrafa e logo assim o pego novamente no colo.

Luis: Ai seu brutamonte! Cuidado com meu corpicho! Eu sou um deus grego, UM DEUS GREGO! - Era cada grito que ele dava que meu ouvido doía, vou andando novamente em direção ao avião, espero que o Mateus esteja por lá, pior que tenho que fazer uma fogueira para iluminar a noite. Não sei com o que vou fazer esta fogueira ou com o que vou acender, mas é necessário. - VOCÊ FOI A CULPADA DESSE AMOR SE ACABAR! VOCÊ QUE DESTRIU A MINHA VIDAAAA!

Kai: Dá para parar de cantar? Meu ouvido já tá doendo!

Luis: Kai? - Sua voz sai um pouco triste- Estou com saudade da mamãe. - Contraio meus lábios para dentro, enquanto sinto o mesmo se aconchegar em meus braços- Saudade da comida dela, até da chata da tua namorada! - Dou um sorriso esperançoso.

Kai: A gente vai ficar bem! Eu prometo!

Luis: É uma promessa viu!

Kai: Sim...você vai gostar de ver quem eu encontrei. - Luis fica pensando por alguns segundos, assim fazendo um bico.

Luis: Encontrou o Will Smith? - Eu solto uma gargalhada alta.

Kai: Não...você verá! - Chego finalmente no avião, vou entrando e encontro o Mateus sentado perto do isopor aonde estava toda a comida que eu havia achado...

ATRAVÉS DA ESPERANÇA - Kai Jong-inOnde histórias criam vida. Descubra agora