~ Capítulo 24 ~

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- Meu Deus querida...- Tia Gyrlei estava entre a porta, com um prato de comida em uma mão e um copo de suco na outra. - O que você fez com seu cabelo? - Vou levemente apalpando o topo de minha cabeça, por incrível que pareça, eu estava tão perdida em meus pensamentos que nem me toquei de que meu capuz escorregou, assim deixando o que eu havia feito a amostra.

- Eu...cortei- Deixo o violão apoiado na cama ao meu lado, logo assim cubro novamente meu cabelo.

- S/n...- Ela vai se aproximando de mim- Meu amor, você pode contar comigo. - Ela coloca o prato com o copo em cima do móvel que havia ao lado de minha cama.

- Estou bem tia...

- Como poderia estar bem minha filha? Você saiu de si lá na escola e sem motivo algum cortou seu cabelo...- minha cara era neutra, não demonstrava nenhum pingo de emoção, apenas...eu estava ali.

- A senhora não entende...- Me deito na cama, virada de costas para ela. Escuto a mesma suspirar um pouco forte, como se tivesse com um fardo, um peso enorme em suas costas. No qual este peso...sou eu...

- S/n, por favor, me ajude a entender. Sou sua tia, eu quero te ajudar...

- A senhora não pode me ajudar...- ela fica em silêncio, enquanto eu contraio meu maxilar.

- Coma, depois se arrume para irmos ao cabelereiro. - Escuto os passos dela se distanciando e logo assim a porta vai se fechando. Viro meu olhar para aquele prato...

"Nós nos alimentamos para que nosso corpo possa ter a energia necessária para crescer, movimentar-se, devolver-se e executar todas as suas funções com maestria...

Aprendi isto na escola. Provavelmente repetirei o ensino médio, quer dizer, sem dúvidas repetirei. Já que temos que seguir o protocolo de continuar acabando e esgotando a mentalidade dos seres que vão tentar aprender...

Tem pessoas que preferem aprender com a vida, outras aprendem com os erros dos outros, não é raro de ver um que não aprende e persiste no erro. Não quero persistir em me erro...quero acabar com isso pela raiz.

Eu comi aquela comida, sentido uma culpa enorme em minha alma. Fui grossa e ignorante com minha tia...ela somente queria me ajudar, porém eu estava certa, ela não podia me ajudar, não quero que perca seu tempo comigo minha tia...já estou sendo consumida pela minha própria angustia, não tem como voltar...não tem..."

Era entardecer, o tempo estava frio e sentia minhas mãos geladas. Mesmo que eu estivesse acompanhada de minha tia, sinto medo de me descontrolar novamente, é como se eu fosse algum tipo de aberração rejeitada pela humanidade.

Meus pés, apressados, seguindo em sincronia, apenas seguindo os passos de minha tia. Que caminhava em minha frente pela calçada. Como não tem muita movimentação a esta hora, tenho a audácia de levantar minha cabeça.

- Não se preocupe querida, estamos chegando. - Vou ajeitando mais ainda o meu capuz, fazendo com que ninguém visse o que eu havia feito em meu cabelo. - Por que você fez isso com seu cabelo querida? - Ela não olhava para trás, apenas continuava com seu olhar fixamente apontado para frente.

- Eu estava querendo me sentir livre...- o que não é totalmente mentira e nem totalmente uma verdade. Apenas é culpa total dos meus próprios pensamentos que vem se alastrando cada vez mais a estes dias.

- Na próxima vez pode falar comigo, tudo bem querida? - Ela olha de canto de ombro para mim, aceno que sim e abaixo novamente minha cabeça. - Não abaixe sua cabeça, afinal...chegamos! - Olho para frente e vejo uma grande porta de vidro, no qual mostrava a parte de dentro. Havia no total duas clientes sendo atendidas, duas cabeleiras trabalhando e uma sentada lendo uma revista de moda. Logo assim vamos entrando naquele local...

- GYRLEI! MENINA! - A mulher que estava lendo a revista vai se levantando, ela era de pele negra, seu cabelo black power era muito vermelho e usava umas golas de prata pequenas.

- A quanto tempo Mary! - Minha tia abre os braços e logo assim vai abraçando a mesma.

- O que te trouxe aqui minha flor?

- Minha sobrinha- as duas viram o olhar para mim- Ela está com uns probleminhas no cabelo, queria saber se você pode ajeitar para mim.

- Ah! Claro, como se chama sua sobrinha?

- Ela se chama S/n!

- S/n, meu amor, você veio no lugar certo! Sente-se naquela cadeira que eu já vou olhar seu caso, hein. - Assenti com cabeça e apenas a obedeci em extremo silencio.

- Vocês...-falo um pouco baixo.

- O que foi minha querida? - Falou Mary.

- Vocês poderiam ligar a TV? - Passava as palmas das minhas mãos em minha calça, estava nervosa com aquelas mulheres...então queria algo para me descontrair.

- Claro. LINA! LIGA A TV PARA A MENINA! - Gritou Mary.

- Eu não - Retrucou uma mulher, que era totalmente careca, porém usava uma maquiagem bem marcada. - Estou trabalho Mary, diferente de você que fica lendo revista de moda e fofoca.

- Aí gente não briguem- Respondeu minha tia- Deixa que eu ligo para vocês. - Ela vai pegando um controle da cor preta, que estava ao lado de um secador desligado. Logo assim ela aperta o botão e a TV vai acendendo sua luz. Ela começa a mudar até achar um programa interessante...propagandas, discursão de política, desenho animado, desaparecimento do jimin, filme...espera!

-Tia! Volta por favor!

-Ah! Claro querida! - Ela vai voltando assim parando no noticiário.

- " E estas foram as últimas filmagens encontradas de Park Jimin." - Minha tia vai aumentando o volume da TV sem se quer eu pedir. - " Jimin tem como idade dezenove anos, cabelo liso e loiro, estatura de um metro e setenta e quatro. Ele foi visto pela última vez na avenida 900, usando um boné preto com uma roupa cinza. Caso o tenham visto por aí, liguem para (085) 98790-8899 ou para o telefone oficial da polícia. A família aguarda uma resposta...agora fiquem um caso de um fugitivo chamado Jay..."

- Esse Jimin - falou minha tia, assim me desconcentrando da TV. - Ele me parece familiar.

- Ele estudava na mesma escola que eu e o Kai. - Respondi...- desaparecido?...-sussurrei um pouco alto.

" TODO MUNDO PRO CHÃO AGORA! "

Falou um homem mascarado entrando com toda sua força no salão, em sua mão estava uma arma, minha tia rapidamente pegou em meu braço e me puxou para nos deitarmos no chão.

ATRAVÉS DA ESPERANÇA - Kai Jong-inOnde histórias criam vida. Descubra agora