~Capítulo 46~

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(Escute “Dark Piano – Fear”, use fones para uma melhor experiência)
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Desenho neste caderno um alguém, no qual desta vez não está paralisado apenas observando o lado de fora.

Não...desta vez este alguém foi audacioso, está tentando sair daquela prisão sem fim, está tentando pelo menos sair daquele horror de mundo que criou em si, para ter uma certa perspicácia do mundo a fora. Da realidade que não pode ser tão ruim assim, afinal...aquela parede invisível que prendia este ser é uma autodefesa de si, ele deseja mais, ele deseja liberdade, ele deseja ser livre de si mesmo! O pior pesadelo que pode existir, é ficar preso a si...

Escute, escute ele clamando, escute, escute ele pedindo, escute o desejo dele de sair, escute o grito de desespero que ele está soltando...escute....abra seus olhos, seus ouvidos. Veja o mundo em sua volta, é um mundo que você quer viver? É um mundo no qual você criou, planejou ou...é um mundo que você mesmo se obrigou a ficar ali?

Qual é o seu mundo? Você gosta deste mundo? Você desejaria algo melhor ou algo a mais? O que você desejaria?

Muitos amariam ter mais dinheiro, bens materiais...só que isto não é o suficiente! Pense, pense bem...Felicidade é o que falta? Você é feliz consigo? Carinho? Atenção? O que realmente falta em você mesmo? O que falta em seu mundo? …”

Havíamos finalmente chegado naquela antiga casa, no qual foi o início de tudo.  Foi daqui que minha história iniciou, as brigas, as discórdias, os choros sem fim, o desabafo com minha avó...tudo nesta casa. Tudo...

As cortinas estavam fechadas, não aparentava ter ninguém naquele local. A grama da frente, que antes até tinha uma cor bem vibrante, desta vez estava completamente morta. Não havia mais vida naquela casa, não havia sentido em nada daquele espaço. Senti então a mão de minha tia envolver a minha, tentando até transmitir um pouco de coragem de enfrentar minha mãe e meu pai...

Eles poderiam me obrigar a ficar, mas com certeza nem se importam comigo, na verdade nunca se importaram. Provavelmente sempre fui um problema para tais. Se eu importasse, teriam ido atrás de mim. Não sei se fico feliz ou triste por não terem ido…como sempre eu estou dividida entre dois sentimentos.

- Pronta querida? – Perguntou minha tia, ainda encarando fixamente aquele local.

- Sim...vai ficar tudo bem, né? – Olho para ela, no qual a mesma me responde com um sorriso triste, observando de canto para mim. Logo assim, em completo silêncio, fomos andando até a porta. Minha tia aperta a campainha e ficamos lá...esperando...

- Será que eles estão em casa? – Minha tia solta minha mão, logo apoiando a pontas de seus dedos na madeira. A porta vai abrindo sozinha, lentamente, soltando um ranger meio alto. Olhamos confusas uma para a outra, assim entrando...- Amanda? Você está em casa?

Filha...” Era a voz de minha mãe, não entendia porque se passava de um sussurro aterrorizante e amedrontador!

- Mãe? – Olhei preocupada para os lados, vendo assim que todos os móveis estavam cobertos de poeira, como se não tivesse ninguém aqui faz bastante tempo....

Filha...” O sussurro continuou clamando por mim, acho que isto só pode ser coisa da minha cabeça, eu estou delirando com toda certeza.

- Estranho...parece que não vem ninguém aqui a semanas. – Minha tia passa sua mão em cima do sofá todo empoeirado e cheio de teias de aranha. – Vá procurar o teclado, olharei outras coisas por aqui, eles não podem ter sumido de uma hora para outra! – Assenti com minha cabeça, logo fui me direcionando a aquelas antigas escadarias para meu quarto. Subindo, meu tênis fazia um barulho naqueles degraus, enquanto eu ia caminhando lentamente..."Nhermrrmrm!” Era aquele ruído infernal da madeira que parecia estar velha ou até podre.

No andar de cima, a iluminação era pouca, já estava a anoitecer, pois a viagem da casa de minha tia até aqui é bem longa...aquele corredor imenso, comprido e sombrio, com uma áurea totalmente pesada e terrível. Era mais estreito do que me recordava, fui andando, passos lentos e atentos.

E com minha respiração um pouco ofegante e apresada, sentia meu coração bater mais rápido, eu estava com a minha adrenalina a mil.

Filha....” Mais uma vez este sussurro infernal vem a me assombrar.

Filha...” Continua, antes era distante, desta vez ecoava mais próximo! Rapidamente, sem me hesitar, viro para trás. Logo vendo que não havia ninguém ali...estranho...porque esta voz está a me perseguir desde que entrei aqui?

S/n! Tenha foco, você provavelmente está delirando por conta de acontecimentos terríveis que aconteceu por aqui! Pegue o teclado de seu computador e saia o mais rápido que pode!

Balancei minha cabeça um pouco, tentando aliviar novamente aqueles meus pensamentos, então assim, obedecendo a mim mesma. Entrei em meu quarto...aquele meu antigo quarto. Onde era bem simples, apenas uma pequena cama de solteira, uma cômoda e ali estava o ponto final, no qual nos trouxe até aqui. Meu computador com o teclado!

Me aproximei e desconectei o teclado dele...só que...estava fácil demais! A porta ela bate! Fazendo com que eu tome um susto, quando iria me virar para trás, fui impedida por arrepio que passou por todo meu corpo...eu estava com medo!

S/n?...” Este sussurro não estava distante, nem se aproximando, desta vez estava falando ao meu ouvido! Bem perto...

- Não é real! Não é real! Não é real! – Fiquei repetindo baixo para mim mesma frequentemente, enquanto fecho meus olhos, para pelo menos parar de tentar escutar aquilo!

Meu amor...faz tempo...” O susurro dela era para ser de minha mãe, só que ficava se misturando com outras vozes, em ecos e mais e mais sussurros, era algo sem sentido, também era audível, mas...um sentimento muito ruim vinha no fundo de minha alma. Não era aquele sentimento vazio...era algo tão inexplicável que eu apenas ficava tentando respirar...novamente e novamente...

Não confie nele...ele pode te machucar...igual como fez comigo!”

-Ele...ele quem? – Tive a coragem de perguntar. Senti então, mãos geladas e meio trêmulas, até estavam molhadas como se estivesse saído de um banho de riacho. Essas mãos foram tocando e “abraçando” minha mão esquerda que estava livre.

Ele...aquele que você confia neste momento. Ele vai te machucar quando ver que você não vai seguir os planos dele. ”

Aquelas mãos foram tocando meu rosto. Meus lábios estavam tremendo sem parar, sinto um frio na minha barriga, seguindo com um arrepio em minha espinha.

Filha...me perdoe...”

Algumas gotas da mão daquela coisa, que estava a acariciar minha face, caiam em meus ombros, molhando então até minha camisa. Aquilo era agonizante, eu não estava aguentando, porém estava paralisada, não conseguia me mover, não conseguia abrir meus olhos, não conseguia fazer nada...paralisada pelo meu próprio medo!

ATRAVÉS DA ESPERANÇA - Kai Jong-inOnde histórias criam vida. Descubra agora