VENCENDO OS MEDOS

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Fecho a porta da casa do Marcos após ligar a lâmpada e ver toda sala iluminada, olho ao redor pra ver algum movimento, mas só ouço o silêncio da noite.

Tem sido assim há mais de um mês, quando retorno a noite sozinha. Entrar nesta casa vazia, escura e sem vida me dar medo.  Nos primeiros dias eu corria para o quarto e trancava a porta até me senti segura.

Hoje eu tenho que entrar na cozinha, a Joana está reclamando que não como o que ela deixa pra mim, não tenho mais desculpas para dar a ela.

"Vou fazer assim, entro lá na cozinha, esquento a comida e vou para o quarto. Mãe me ajuda!"–falo  para me  fazer ser ouvida pela casa.

"Você consegue, Dil. Por que uma casa tão grande com janelas de vidro."

Ligo todas as lâmpadas que vou encontrando.

"Pronto já estou aqui, rápido Dil, esquentar comida, pegar bandeja, talheres, água...

Não penso, não olho ao redor tudo feito volto para a sala pego minhas coisas e subo as escadas com dificuldade, ligo as lâmpadas do corredor, no quarto coloco a bandeja em cima de uma mesa e chorando me jogo no chão ao lado da cama.

Abraço meu corpo para me acalmar e minha respiração voltar ao normal.

Essa tem sido minha luta toda noite, enfrentar meus medos sozinha, sem Tony e nem minha mãe para me socorrer. Desde a morte do meu pai que eu tenho medo de dormir sozinha em lugares que não conheço e do escuro. Essa casa é imensa, bonita de dia, à noite porém ela me assusta e o silêncio dela me perturba.

— Muito bom... Você vai vencer aquela cozinha... hoje foi a primeira tentativa. Agora levanta! O quarto é seu amigo.

A primeira noite foi a mais terrível, só dormi depois de uma hora da manhã quando o Marcos entrou no quarto, fingi que estava dormindo, depois dessa ele só dormiu mais duas noites aqui comigo.

"Liga a lâmpada do banheiro, isso agora o closet, varanda você é linda quando está iluminada!"

Falar, ouvir minha voz para enganar o medo, uma tática que meus padrinhos me indicaram.

"Vamos ouvir música? Canta, Pequena."

Não fecho a porta do banheiro, a do quarto está trancada, o Marcos não vem mesmo, tomo banho rápido e vou comer.

"Não... chora dil, a comida da Joana está gostosa." – falo sentindo o gosto de lágrimas na boca.

"Hoje você jantou...Que saudades da sua sopa mãe"...

Guardo na minha bolsa barras de cereais ou uma fruta quando não janto ao sair da empresa e não passar a noite com fome.

Organizo a bandeja, separo as roupas que usarei para trabalhar no outro dia, deixo organizado caso  Marcos apareça pra dormir e  não fazer barulho no quarto pela manhã.

E também arrumo uma mala, amanhã viajarei com ele pra uma inauguração de uma obra em Recife, eu preciso ir como sua esposa, seus pais também irão.

Só  desligo a lâmpada do closet, vou para cama, coloco uma playlist pra tocar e vou mergulhar no meu lugar mágico.

"Suzana hoje eu decido se você continuará a sofrer!"

Alan está feliz, meu trabalho está adiantado, não atrasei nem perdi mais nenhum projeto, e assim enfrento  mais uma noite de medo, lágrimas e solidão.

Bom dia! – Escuto sua voz quando  entra na cozinha, não sei onde ele dorme ou com quem, não pergunto só sei que sempre aparece na cozinha pela manhã quando não está viajando.

O CONTRATO DE CASAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora