Capítulo 2

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Pov Carol

A sensação de ser observada sempre me deixava desconfortável, quando eu decidi entrar no time de vôlei eu não sabia que a morena que tinha me encarado de forma um tanto quanto intensa demais estaria também na equipe, o jeito que ela agia era meio estranho, me deixava confusa e ao mesmo tempo interessada sobre quais os segredos que ela guardava.

Eu sempre fui uma garota muito tímida e reservada, meus pais me criaram de forma rígida pra ser a filha perfeita, na igreja eu tinha poucos amigos, basicamente se resumia a Elana e o Bruno, mas eu sentia falta de mais, eu queria conhecer mais pessoas e me sentir um pouco livre, porém isso nunca foi possível.

A treinadora chegou me tirando dos meus pensamentos.

- Bom dia - falou com um sorriso simpático enquanto olhava pra todas as garotas na quadra - esse ano nós temos muita gente nova na equipe e eu gostaria que vocês fossem bastante simpáticas com elas.

Algumas garotas concordaram com um movimento simples de cabeça, enquanto as outras apenas falaram um "ok" ao mesmo tempo.

Depois das apresentações, jogamos um pouco de "manchetão" pra aquecer todas que estavam ali, durante o resto da semana que seria decidido quais seriam as nossas posições no time.

- Acho que você vai ser uma ótima líbero - Elana falou com um sorriso debochado no rosto.

- Você tá falando isso só por que eu sou baixa - falei revirando os olhos.

- Exatamente Sherlock - falou com o sorriso ainda mais amplo enquanto eu lhe mostrava o dedo do meio.

Percebi que enquanto conversávamos a morena continuava me olhando, era muito estranho o jeito que ela me olhava, como se eu fosse um quebra-cabeças que ela tentava montar peça por peça, aquilo já estava me deixando constrangida e irritada ao mesmo tempo.

- Eu acho que ela quer um pouco da sua beleza - Elana falou sussurrando.

- Ela não pode querer um pouco do que eu não tenho - falei e saí indo em direção ao vestiário para tomar um banho e voltar pras aulas.

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Essa era a minha primeira aula na classe de inglês avançado, quando adentro a sala encontro novamente o par de olhos castanhos que tanto tem me observado.

Me sento próximo a mesa da professora, infelizmente nessa aula eu estaria sozinha, meus amigos decidiram que na aula extra eles queriam fazer culinária, maldita hora que eu decidi que queria aperfeiçoar o meu inglês.

- Bom dia classe - a professora falou ao chegar na sala - hoje como é o primeiro dia, eu gostaria que vocês escrevessem uma redação, o tema é livre.

Eu não sabia ao certo o que escrever, sobre o que falar, não tinha experiências o suficiente para poder descrever nas linhas de uma redação.

- Professora a gente pode falar sobre os nossos sonhos ou coisa do tipo? - escutei aquela voz e imediatamente me virei a procura da dona, quando meus olhos se encontraram com a morena que tanto me observou.

- Claro - a professora falou com um sorriso.

Eu continuei a observar a garota, o jeito que ela falava, a forma como mexia no cabelo, então ela sorriu pra mim um sorriso torto que fez com que o meu rosto esquentasse e eu imediatamente me virei pra frente, certo isso foi muito estranho. Escutei o barulho da sua risada e fiz o máximo pra não encolher os ombros em meio a vergonha que estava sentindo agora.

A aula foi se arrastando, não de uma forma boa, nunca tinha sido tão difícil me expressar em trinta linhas, ainda mais agora que a minha mente rodava em looping o sorriso, a voz e os olhos da morena. O jeito que ela me olhava ganhava forma junto com o jeito que ela sorria, mas eu não era assim, certo?

Quando o sinal tocou eu me levantei o mais rápido que consegui, entreguei a minha redação pra professora e saí praticamente correndo.

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São dezessete anos e eu nunca tinha sentido tanta curiosidade quanto estou sentindo agora em relação aquela garota, nunca em nenhum momento eu me vi relembrando pequenos traços de uma pessoa que eu nem sequer conhecia, tá bom que a maioria das pessoas que eu conhecia se tratava de velhos caretas que queriam suas filhas e netas como santas, era muito difícil tentar me encaixar nesse padrão, parece que às vezes eu falhava apenas na forma de respirar.

- O que tanto se passa nessa cabeçinha? - Bruno pergunta assim que se aproxima de mim.

- Nada demais, só pensando no time de vôlei - falei sorrindo para o mesmo.

- E uma certa morena talvez? - Elana fala enquanto se senta ao meu lado.

- Agora você vai ficar falando sempre disso, não vai? - pergunto ao fazer uma leve careta.

- Claro que vou - falou concordando - não tem como não falar sobre isso, o jeito que ela olhou pra você foi no mínimo intenso.

- Qual morena? - Bruno pergunta um pouco confusa.

- Aquela de hoje mais cedo da hora da apresentação - falou como se fosse um segredo.

- Aquela morena - Bruno falou com um sorriso no rosto - ela é bem bonita não acha?

- Não sei, eu não prestei atenção - menti enquanto dava de ombros.

- Vai me dizer que você não prestou atenção? - Elana instiga com um sorriso malicioso - até eu prestei atenção, ela é muito bonita.

- Que seja - falei levemente irritada.

Elana abriu a boca para falar mais alguma coisa quando minha atenção é atraída até a morena que chegava junto com os seus amigos, eles eram um grupo muito bonito, mas aquela morena tinha algo diferente, não sei se era a forma como ela olhava ou o jeito que ela sorria, só sei que a cada vez que eu olhava me sentia um tanto quanto atraída para ver o que ela tanto escondia. Mas uma vez naquele dia nossos olhares se encontraram, era como se um imã me atraísse até ela, não me permitindo desviar a minha atenção, ela sorriu pra mim, dessa vez o sorriso foi diferente, aquilo estava me atraindo igual Ícaro fora atraído pelo sol, eu não poderia voar tão perto assim ou senão acabaria derretendo as minhas asas, eu também iria cair.

(não) Te amo Onde histórias criam vida. Descubra agora