Capítulo 20

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Pov Carol

O caminho para casa foi silencioso, eu não conseguia tirar da minha cabeça a história da ex da day e como eu estava fazendo a mesma coisa que ela. Eu pensava em alguma forma para mudar aquela situação, eu não queria magoar a day, mas também sabia que meus pais não aceitariam de jeito nenhum ter uma filha gay.

Subi para meu quarto sem jantar, as palavras da Luísa não saiam da minha cabeça. Ouvi três batidas na porta do meu quarto e em seguida vi a porta se abrindo.

— Oi filha, você está bem? - minha mãe perguntou cautelosamente - como você não quis jantar resolvi trazer um chocolate quente e um sanduíche - me entregou o copo e o prato e eu me ajeitei na cama.

— Obrigada, eu só estou com algumas coisas na cabeça - respondi sem olhar para ela, minha mãe nunca chegou a de fato ter alguma fala homofóbica mas ela nunca defendeu ou se mostrou aliada.

— É sobre aquilo que você estava fazendo outra noite? Filha eu quero que você saiba que não vejo problema naquilo, você é adolescente e está com os hormônios a flor da pele, e eu prefiro até que você faça aquilo ao invés de transar com alguém antes do casamento e acabe engravidando cedo, mas é sempre bom ir ao médico para certificar de que não está com nenhum problema - ela começou a divagar, era uma coisa que as vezes tínhamos em comum, e eu tentei não me enfiar embaixo do cobertor de tanta vergonha que aquilo estava me dando.

— Não mãe, para por favor! Não é sobre aquilo - falei e ela respirou meio aliviada.

— Você sabe que pode me contar qualquer coisa certo? - perguntou e eu balancei a cabeça em concordância.

— É que tem uma amiga minha que está gostando de uma garota, mas ela tem medo de contar para os pais e ser mandada embora. Eu fiquei pensando como seria se eu estivesse no lugar sabe? A senhora nunca falou nada sobre isso e eu... - parei de falar quando vi ela se levantar mas ela apenas ficou mexendo em algumas roupas que estavam espalhadas.

— Sabe filha, essa coisa de mulher com mulher, homem com homem, não é de Deus, vai contra a natureza do criador, mas cada um tem o livre arbítrio para usar como quiser e não vejo problema nessa sua amiga gostar de garotas, mas seu pai foi criado num modo antigo e ele com certeza a mandaria para um internato.

— E a senhora? - perguntei antes dela terminar de falar.

— Eu não sei. Mas não acho certo um pai ou mãe mandar seu filho embora de casa como se fosse um cachorro velho, mas espero que essa sua amiga fique e ainda bem que você gosta de homens, assim temos um problema a menos, certo? - ela sorriu enquanto acariciava meu rosto e eu apenas consegui dar um sorriso fraco.

— Obrigada mãe, vou conversar com minha amiga depois - digo e ela deixa um beijo em meio aos meus cabelos.

— Você é muito preciosa filha, eu te amo demais! Boa noite - ela saiu do quarto e eu senti meu corpo cair novamente na capa. O prato e o copo contra a parede tilintaram para em seguida me deixar em um silêncio ensurdecedor.

Não sei em que momento eu dormir, mas só acordei no outro dia com o som do alarme disparando, me assustei e quase quebrei o prato que havia ficado em cima da cama, mas por sorte estava vazio.

Corri para me arrumar e tive que ir pra escola sozinha porque o Rafa havia saído mais cedo. Avisei a day que não pegaria ela mas que a encontraria no nosso lugar.

Assim que cheguei na escola encontrei Elana e Bruno esperando dar o sinal para entrar.

— Hey Chiuaua - Elana me chamou enquanto acenava.

— Oi gente - digo tentando recuperar o fôlego.

— Você está bem? - ela perguntou fazendo uma careta para mim.

— Tá treinando para as olimpíadas? - Bruno brincou e eu lhe dei um soco - ouch

— Eu acordei tarde, o Rafa já tinha saído, e vim correndo pra não perder a primeira aula - falei e finalmente já estava recuperada.

— Ok. Quer ir lá pra casa esse fim de semana? Tem um filme que eu quero ver e não queria ver sozinha - ela disse e Bruno a encarou com raiva.

— Achei que eu fosse ver com você - reclamou.

— Sim, mas você nunca entende as referências, a Carol é mais legal pra ver filme, vamos ver Black Window e pelo que sei você não viu os últimos dois filmes da Marvel - respondeu e o Bruno fingiu estar magoado.

— Eu topo, vai ser bom fazer uma coisa diferente esse final de semana... - olhei para dentro da escola e vi a day, por um momento eu quis ir até ela e lhe dar um beijo mas por outro eu ficava pensando na conversa de antes, eu não queria magoa-la e não sabia só de imaginar isso acontecendo eu queria me bater.

— Terra chamando gnomo, elfo, leprechaun - Elana disse estalando os dedos a minha frente.

— Eu estou ouvindo - revirei os olhos e voltei minha atenção para eles.

— Não parece - eles olharam para onde eu olhava antes - aconteceu alguma coisa entre vocês?

— Ouvi uma conversa dos amigos dela, sobre a ex dela, eu tenho medo de magoar a day, ela é legal me faz sentir especial e eu não quero machucar ela - falei e meus amigos me abraçaram.

— Você não pode ficar pensando assim, pode acabar machucando ela por ficar com medo disso acontecer. A melhor forma de tudo ficar bem é você sendo cem por cento sincera com ela - Bruno disse e até que fazia sentido, poderia ser pior se eu ficasse tão focada em não magoar a day.

— Eu tenho medo de perder ela, o que a gente tem... Eu conversei com minha mãe ontem, falamos sobre o que ela achava sobre a homossexualidade, e ela não foi contra mas disse que tava feliz em ter uma filha hetero e que se meu soubesse que um dos filhos é assim iria mandar pra bem longe - revelei tentando não chorar ali na frente de todo mundo.

— Nunca deixaríamos isso acontecer com você. A gente iria atrás de você aonde quer que você for e se precisar de um lugar para morar eu deixo você dormir embaixo da minha cama - nana disse tentando fazer graça mas eu não consegui rir.

— Obrigada por isso. - a empurrei e vi a day se aproximando de mim com um sorriso enorme no rosto. Eu senti meu mundo parando quando a vi sorrir para mim.

— Oi Red - ela me abraçou e todo mundo pareceu sumir, senti o coração dela contra o meu, seus braços envolvendo meus ombros de forma protetora e eu me senti tão segura, tão bem, era como se as dúvidas tivessem sumido.

— Nossa como eu odeio gays - Elana disse e saímos de nossa pequena bolha.

— Oi pessoal - day cumprimentou mas permaneceu com o braço envolta do meu pescoço.

— Oi gay - Bruno e elana disseram em unissono.

— Vocês agem como se não fossem também - comentou rindo mas meus amigos estavam sério.

— Somos héteros, sinto muito - elana comentou mais séria e day pareceu ficar desconcertada.

— Bem, parece que nem sempre meu gaydar está certo - disse baixinho e o clima acabou ficando estranho, por sorte o sinal tocou e tivemos que ir para aula.

Acabei pensando em como Elana e Bruno reagiram ao comentário da day, parecia comigo da primeira vez que eu achei que ela estava dando em cima de mim, mas acho que se eles fossem ou suspeitasse de serem me contariam. É o que eu espero.

(não) Te amo Onde histórias criam vida. Descubra agora