Sydney — Austrália
[Inverno de 2021]
• JUNGKOOKO molho de chaves foi deixado de qualquer jeito em cima do aparador perto da porta, enquanto meu corpo cansado arrastou-se até o sofá. Sentei-me preguiçosamente, permitindo-me respirar fundo, enquanto esfregava as têmporas com certa força desnecessária. Meus ombros tensos incomodavam, mas não incomodavam mais do que os pensamentos que não deixavam-me relaxar.
Tia Hellen ligou outra vez, trazendo mais más notícias sobre o homem que eu tanto evitava, mas que era preso a mim pelo infeliz laço paternal. Não era como se já não tivessem se tornado rotineiros os telefonemas preocupados, por muitas vezes até mesmo desesperados. E apesar de não suprir afeto algum pela pessoa que contribuiu com meu nascimento, eu entendia que para minha tia, a história era diferente.
Irmãos criados juntos em um lar severo, onde o irmão lhe protegia do mundo, onde suas palavras a mantiveram sã por anos, vendo os pais definharem em um casamento infeliz. Essa era a história da minha tia e do meu pai. Porém, o homem do qual ela descrevia em suas lembranças, eu nunca conheci. O homem carinhoso, amoroso e preocupado que ela via, eu nunca vi. O único homem que eu conhecia por trás daqueles olhos grandes dos quais herdei, era cruel, nojento e intragável.
Eu aturei-o por anos o suficiente para não reconhecê-lo nas histórias dela. Pois para mim, era impossível alguém como meu pai, ter sido tão humano um dia. Cresci com ele, fui criado por ele até a adolescência e sinceramente, não sabia como não tinha me tornado uma cópia do mesmo.
E por muito tempo senti raiva.
Ele não fazia a mínima questão de disfarçar o ódio que tinha por mim, e eu sentia meu coração ser esmagado por ele dentro do peito todo santo dia, sem pena. Sentia raiva dele por ser um péssimo pai, por tratar-me como lixo, por me desprezar e me maltratar; pelos traumas que ele causou-me, pelas lembranças horrorosas da infância instável, e pelas cicatrizes sentimentais e físicas que ele deixou.
Sentia raiva de minha tia também, por ela o perdoar sempre, ficar ao lado dele quando adoeceu ao invés de deixá-lo para morrer sozinho, como eu o havia jurado que seria; raiva por ela sempre tentar amenizar o que ele fazia, por sempre tentar aproximar a nós dois com discursos doces, e no fim de todas as suas tentativas frustradas, o resultado serem mais palavras duras, mais humilhações, mais feridas abertas, e eu era quem ficava pior.
Então por fim, sentia raiva de mim, por mesmo depois de tudo, ainda sentir falta de ter um pai.
Lembro-me de quando comecei a namorar com Jisoo; meus outros namoros não duravam o suficiente para que eu contasse a tia Hellen, então para ela eu nunca havia namorado ninguém antes. Quando ficou sabendo sobre ela, a mulher insistiu que eu os apresentasse, e eu mais uma vez imbecil, cedi, o que só resultou em mais uma decepção para a lista. Meu querido pai nem fez questão de ser educado, ele a tratou com puro desgosto e desdém, e o tempo todo olhava-me daquele jeito de quem dizia "como você conseguiu alguém como ela sendo quem é?", e apesar de concordar com ele, me senti humilhado mais uma vez.
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𝑳𝒐𝒖𝒅𝒆𝒓 𝑻𝒉𝒂𝒏 𝑩𝒐𝒎𝒃𝒔 / 𝑱𝒊𝒌𝒐𝒐𝒌
Fanfiction[CONCLUÍDA] Jungkook é um fotógrafo atormentado por pesadelos, e se vê afundado em dezenas de novos dilemas ao reencontrar Jimin; um bruxo natural que diz ser o grande amor de sua vida passada. Uma promessa que ultrapassou o fim e duas almas conecta...