capitulo 9

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No dia seguinte, quando chego ao escritório e entro na sala da minha chefe para buscar uns arquivos, suspiro ao me lembrar do que aconteceu ali na véspera. Quase não dormi.

Não paro de pensar no senhor Herrera e no que houve entre nós. Na noite anterior, ao chegar em casa, vi na televisão a reprise do jogo Alemanha-Itália. Que jogaço da Itália! Quero esfregar na cara desse sujeito pedante a eliminação de seu país.

Miguel aparece e vamos juntos tomar café da manhã. Christian e Raul se juntam a nós e conversamos animados, enquanto observo a entrada na expectativa de que Alfonso, o homem que me convidou para jantar e me deixou superexcitada, passe por aquela porta. Mas isso não acontece. E eu fico decepcionada. Então, depois que acabamos o café, voltamos a nossas respectivas salas.

Ao retornarmos, Miguel vai ao departamento administrativo. Precisa resolver algo que o senhor Herrera lhe pediu no dia anterior.

Disposta a enfrentar um novo dia, ligo meu computador e em seguida meu telefone toca. É da recepção para avisar que um jovem com um buquê de rosas está perguntando por mim. Rosas? Nervosa, me levanto da cadeira. Nunca ninguém me mandou Rosas e tenho certeza de quem foi o Herrera.

Com o coração disparado, vejo as portas do elevador se abrirem, e um jovem com um boné vermelho e um lindo buquê confere a numeração das salas. Mas, ao se dar conta de que estou olhando para ele, aperta o passo.

— Por acaso você é a senhorita Puente? — pergunta ao chegar perto de mim.

“Sim! Meu Deeeeeeus!”

O buquê é espetacular. Lindas rosas amarelas. Amei!

O jovem do boné vermelho me olha e, por fim, respondo “sim” à sua pergunta.

— Assine aqui e, por favor, entregue esse buquê à senhora Mónica Sánchez. Minha boca abre e não fecha mais.

Não acredito que é praquela vadia....

Um balde de água fria. Meus breves segundos de felicidade por me considerar alguém especial se desfazem num piscar de olhos. Mas, sem querer deixar minha decepção transparecer, pego o buquê, olho para ele e quase choro. Seria tão bom se fosse para mim...

Deixo o buquê sobre minha mesa e assino o papel que o rapaz estende na minha direção. Depois que ele vai embora, levo as lindas rosas à sala da minha chefe. Coloco-as em cima da sua mesa e me viro para sair. Mas então sou dominada pela curiosidade, daí me viro de volta e procuro o cartão entre as rosas. Eu o abro e leio:

“Mónica, repetimos na próxima vez? Alfonso Herrera.”

Como assim “repetimos”?

Fala sério! Parece propaganda de chocolate. “Repetimos?”

Não acredito que aquele desgraçado fez isso!!!

Rapidamente deixo o cartão no seu devido lugar e saio da sala. Meu humor agora está péssimo. Espero que ninguém me encha nas próximas horas ou vai pagar muito caro. Eu me conheço e sei que sou bem perversa quando fico chateada. Sem conseguir tirar da cabeça esse “repetimos?”, começo a digitar um relatório no computador, até que minha chefe aparece.

— Bom dia, Anahí. Entre na minha sala — diz sem olhar para mim.

A não, eu acho bom essa cobra não me encher a paciência. Levanto e sigo até sua sala.

Quando entro e fecho a porta, ela vê o buquê de rosas e o pega. Tira o cartão e eu a vejo sorrir. Sua idiota! Meu pescoço está coçando! Malditas brotoejas.

— Falei com Roberto, do RH — me diz.

Ai, minha Nossa Senhora! Vai me demitir?

— Vai haver umas mudanças na empresa. Ontem tive uma reunião muito interessante com o senhor Herrera, e algumas coisas vão mudar em muitas das sucursais espanholas.

Escutar que ela teve uma reunião interessante é algo que me incomoda. Isso não me interessa. Logo o telefone toca e eu atendo imediatamente

— Bom dia. Sala da senhora Mónica Sánchez. Sou a secretária, a senhorita Portilla. Em que posso ajudá-lo?

— Bom dia, senhorita Portilla. — É ele!! — Poderia me passar para sua chefe?

Com o coração acelerado, consigo balbuciar:

— Um momento, por favor.

Nem preciso dizer que minha chefe, quando informo que é ele, aplaude — não apenas com as mãos — e pede que eu me retire da sala. Mas antes de sair eu a ouço dizer:

— Oieeee. Chegou bem ao hotel ontem à noite?

Ontem à noite? Ontem à noite? Como assim “ontem à noite”?

Fecho a porta.

- oooiieeee - digo imitando ela, sebosa!

Mas ontem à noite ele estava comigo!

Então minha mente fantasiosa logo começa a imaginar o que aconteceu. Ela era a mulher com quem ele falava ao telefone no carro. Me deixou em casa e foi encontrá-la. Será que voltou ao Moroccio?

A cada segundo que passa, fico com mais raiva. Mas por quê? Ele e eu não temos nada. Apenas jantamos, ele colocou a mão em mim por cima da roupa e assistimos juntos a um espetáculo sexual. Isso me dá o direito de ficar com raiva?

Volto à minha cadeira e continuo a digitar. Tenho que trabalhar. Não quero pensar. Em algumas ocasiões pensar não é bom, e esta é uma dessas ocasiões é pior ainda. A uma da tarde, minha chefe sai da sala e, após dirigir o olhar para Miguel, ele se levanta e eles vão embora juntos. Sei o que vão fazer. Treparão como coelhos durante as duas horas de almoço, e sabe-se lá onde.

Trabalho, trabalho e mais trabalho. Me concentro no meu trabalho.

Estou tão mal-humorada que ataco minhas tarefas com muita energia e me livro de uma pilha de papéis. Por volta de duas e meia, chega Óscar, um dos seguranças que ficam na portaria.

— O motorista do senhor Herrera deixou isto aqui pra você — diz, me entregando um envelope.

Desconfiada, olho para o envelope fechado com meu nome escrito. Agradeço a Óscar, e ele se retira. Fico um tempo observando a embalagem e, sem saber por quê, abro uma gaveta e o guardo ali. Não pretendo abrir até segunda-feira. Hoje é sexta. Dia de trabalhar direto até as três, sem pausa para o almoço.

O telefone toca. Atendo e, após dizer as palavras de sempre, escuto do outro lado:

— Abriu o pacote que te mandei?

Herrera! Não respondo e ele acrescenta:

— Estou ouvindo sua respiração. Responda.

Mil respostas passam pela minha cabeça. A primeira: “ Cretino!” A segunda é pior.

— Senhor Herrera, o pacote acabou de chegar e resolvi esperar até segunda-feira — respondo finalmente.

— É um presente para você.

— Eu não quero nenhum presente seu — murmuro meio irritada, eu juro que vou manda-lo a merda!

— Por quê?

— Porque não.

— Ah senhorita Portilla, essa resposta não me serve. Abra o pacote, por favor.

— Não — insisto.

Eu o ouço bufar... Acho que estou irritando ele. É bom mesmo.

— Por favor, abra.

— E por que eu deveria abrir? - pergunto em um tom de deboche.

— Anny, porque é um presente que comprei pensando em você.

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