capitulo 42

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Em Jerez, meu pai não fala nada, fica só me olhando.

Faz três dias que cheguei e estou um trapo humano. Meu pai sabe que não estou bem, que aconteceu alguma coisa entre mim e Poncho, mas respeita meu silêncio.

Já os vizinhos se comportam de forma diferente. Volta e meia me perguntam pelo “Frankfurt” e isso me deixa desesperada.

Algumas vezes eles não têm o menor tato, e esta é uma dessas
vezes.

Alguém avisa Rodrigo de que cheguei. Ele manda torpedos e no terceiro dia aparece.

Estou na beira da piscina, deitada numa espreguiçadeira, quando o vejo chegar.

— Oi — me cumprimenta.

— Oi — respondo.

Senta-se na espreguiçadeira ao lado da minha e não diz nada. Nenhum de nós diz nada. Meu pai se debruça na janela da cozinha e nos olha, mas não se aproxima. Deixa a gente conversar.

— Você está bem, Anahí?

— vou ficar

Silêncio... ninguém diz mais nada, até que Rodrigo acrescenta:

— Sinto muito que você esteja assim.

— Tudo bem — respondo com um sorriso. — Como você mesmo previu, acabei me dando mal.

— Não me alegro por isso, Anahí.

— Eu sei.

De novo, silêncio.

De repente, começa a tocar no rádio Satisfaction, dos Rolling Stones e só podemos sorrir. No final quem fala sou eu:

— Sempre que escuto essa música, me lembro da festa que Rocío deu há alguns anos. Você lembra que a gente acabou ficando junto bem nessa hora?

Rodrigo sorri concordando e começa a cantar. Ele se levanta, sai dançando, me fazendo rir.

Canto e danço junto com ele, esquecendo todos os problemas.

Quando a música termina, nós dois rimos e nos olhamos.

Levanto os braços em busca de um abraço e nós nos abraçamos.

— Assim que eu gosto de te ver, Anahí. Alegre. Como você é. Me desculpa por ter me metido onde não era chamado, mas às vezes nós, homens nos comportamos feito idiotas.

— Está desculpado, Rodrigo. Me desculpa também.

— Claro. Não tenha a menor dúvida disso.

Nessa noite, saio para jantar com ele e encontrar nossos amigos. Minha amiga Rocío se surpreende ao me ver aparecer com ele, e não me pergunta sobre Alfonso.

Ninguém faz a menor referência ao homem com o qual me viram nas últimas semanas, e eu me limito a não pensar e a curtir tudo que posso.

Os dias passam e Poncho não faz qualquer contato. Não entendo como umas férias maravilhosas podem acabar assim, tão de repente e num clima tão ruim. Isso so me faz ter a plena certeza de sua intenção, eu fui uma completa estupida por ter me declarado daquele jeito, aposto que ele deve zombar de mim por ai com as prostitutas que ele come.

A presença de Rodrigo esses dias me faz sorrir. Não tentou nada comigo. Não se aproximou de mim mais que o necessário, e eu fico agradecida por ele se comportar como um amigo.

Minha irmã aparece sem avisar, com José e minha sobrinha, como sempre faz.

Meu pai fica louco de felicidade. Ter por perto as filhas e a neta é seu maior prazer, e ele fica todo orgulhoso.

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