Capítulo 10

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Ah tá... Então voltei a ser Anny?

E, como sou uma fraca, uma idiota e ainda por cima uma curiosa incorrigível, acabo abrindo a gaveta, pego o envelope, rasgo, olho dentro dele.

— O que é isso?

Escuto sua risada.

— Você disse que estava disposta a tudo.

— Bem... eu...

— Você vai gostar, pequena, te garanto — me interrompe. — Um é para casa e o outro é pra você levar na bolsa e usar em qualquer lugar e a qualquer hora. Ao ouvir o tom de sua voz quando diz “a qualquer hora”, sinto falta de ar. Meu Deus, cá estamos nós outra vez!

— Passo na sua casa às seis — afirma antes que eu possa responder. — Vou te ensinar a usar.

— Não estarei lá. Vou à academia.

— Às seis.

A ligação cai e eu fico com cara de idiota. Enquanto ouço o telefone apitar do outro lado da linha, sinto vontade de soltar um monte de palavrões. Mas só eu escutaria. Ele já foi embora. Irritada, desligo. Olho de novo dentro do envelope e leio “Vibrador Fairy. Sucesso no Japão”. Nesse momento, meu corpo reage e eu suspiro. Acabo guardando-o na minha bolsa e apoio os cotovelos na mesa e minha cabeça entre as mãos.

— Preciso parar com isso — digo em voz baixa. — E já!

Quando chego em casa, meu Trampo me recebe. É um amor! Leio o bilhete em que minha irmã me explica ter dado o remédio ao gato, e isso me faz sorrir. Que fofa ela é! Ponho uma roupa mais confortável e preparo alguma coisa para comer. Cozinho um macarrão à carbonara delicioso, encho o prato e me sento no sofá para ver TV enquanto devoro a comida.

Quando termino de comer, me recosto no sofá e, sem me dar conta, mergulho num sono profundo, até que um barulho estridente me acorda. Sonolenta, me levanto e o apito volta a soar. É o interfone.

— Quem é? — pergunto, esfregando os olhos.

— Anny, sou eu, Alfonso.

Então acordo rápido. Consulto o relógio. Seis em ponto. Por favor! Mas quanto tempo será que dormi? Fico nervosa. Ele tava falando sério mesmo? Minha casa está uma bagunça. O prato com os restos de comida sobre a mesa, a cozinha entulhada, e eu estou com uma cara horrível.

— Anny, pode abrir? — insiste.

Quero dizer não. Mas não tenho coragem e, após bufar, aperto o botão. Em seguida desligo o interfone. Sei que tenho cerca de um minuto e meio até que ele toque a campainha da porta. Como Ligeirinho, salto por cima da poltrona. Por pouco não bato com a cabeça na mesa. Pego o prato. Pulo de novo a poltrona. Chego à cozinha e, sem poder fazer mais nada, ouço a campainha. Deixo o prato. Jogo água em cima para esconder as sobras do macarrão.

Ai, meu Deus! Está tudo sujo!

A campainha volta a tocar. Me olho no espelho. Meu cabelo está todo embaraçado. Dou um jeito como posso e corro para abrir a porta. Quando abro, respiro ofegante por causa da correria e me surpreendo ao ver Alfonso usando calça jeans e camisa escura. Está gatíssimo! Sinto seu olhar me percorrendo, e ele pergunta:

Como uma idiota, me seguro na porta. Essa afobação toda acaba comigo. Ele me olha de cima a baixo. Estou prestes a gritar: “Já sei! Estou horrível.” Mas Alfonso me surpreende ao dizer:

— Adorei suas pantufas.

Fico vermelha como um tomate quando olho para minhas pantufas do Bob Esponja que ganhei de presente da minha sobrinha. Alfonso entra sem pedir licença. Trampo se aproxima. Para um gato, ele até que é bem sociável. Alfonso se agacha e faz carinho nele. A partir desse momento, Trampo vira seu aliado. Fecho a porta e me apoio nela. Trampo é tão maravilhoso que não consigo deixar de sorrir. Alfonso me olha, se levanta e me entrega uma garrafa.

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