capitulo 16

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Ligo o rádio do carro e aumento o volume, adoro essa música de Juanes.

Poncho mete a mão e abaixa o volume.

Que cara chato!

Aumento de novo.

Ele abaixa mais uma vez.

— Assim não consigo ouvir a música cara! — protesto.

— Está surda?

— Não... não estou, mas um pouco de animação dentro de um carro não é nada mau sabia?

— Mas também tem que cantar?

Eu fico chocada com a audácia, eu não canto tão mal assim..

— Qual é o problema? Você não canta nunca?

— Não.

— Por quê? - pergunto.

Contrai a expressão do rosto enquanto pensa... pensa... e pensa.

— Sinceramente, não sei — responde, enfim.

Ele é mais chato do que eu imaginei.

— Fique sabendo que ouvir música é uma coisa maravilhosa. Minha mãe sempre dizia que quem canta seus males espanta, e algumas letras podem ser tão significativas pro ser humano que até são capazes de nos ajudar a entendermos nossos sentimentos.

— Você fala da sua mãe no passado. Por quê? - pergunta ele, me olhando de canto.

— Morreu de câncer há alguns anos.

Poncho toca minha mão.

— Sinto muito, Annie — murmura.

Faço um gesto de compreensão com a cabeça e, sem querer parar de falar sobre a minha mãe, acrescento:

— Tá tudo bem, elaa adorava cantar e eu também adoro.

— E você não tem vergonha de cantar na minha frente?

— Não, por que teria? — respondo, dando de ombros.

— Sei lá, Annie, talvez por pudor.

— Que nada! Sou viciada em música e passo o dia cantarolando. Sério, eu recomendo, pra melhorar essa sua cara de azedo.

Ele me olha com expressão seria, mas nem ligo.

Volto a aumentar o volume e demonstrando a pouca vergonha que tenho, mexo os ombros e cantarolo:

Tengo la camisa negra, porque negra tengo el alma.

Yo por ti perdí la calma y casi pierdo hasta mi cama.

Cama cama caman baby, te digo con disimulo.

Que tengo la camisa negra y debajo tengo el difunto.

Por fim, vejo seus lábios insinuando um sorriso. Isso me dá confiança e eu continuo cantando, música após música.

Ao chegarmos ao centro de Madri, paramos a Ferrari num estacionamento subterrâneo, e eu olho com tristeza para o carro enquanto nos afastamos dele.

Poncho percebe e sussurra ao pé do meu ouvido:

— Lembre-se. Se você se comportar bem, vou te deixar dirigir.

Minha expressão muda, e um tremor de alegria me domina por completo quando eu o ouço rir.

Finalmente! Ele sabe rir!

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