capitulo 4

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Hoje estou atoladíssima com as pilhas de papel que a maluca da minha chefe me pediu. Como sempre, parece esquecer que Miguel, embora seja o secretário do senhor Herrera é quem deve se ocupar de cinquenta por cento da papelada que gerenciamos.

Na hora do almoço aparece no escritório o objeto dos meus sonhos úmidos e, após cravar seu olhar insistente sobre mim, entra na sala da minha chefe sem bater na porta, e dois segundos depois eles saem juntos e vão almoçar.

Quando fico sozinha, me sinto enfim aliviada. Não sei o que acontece, mas a presença desse homem me dá calor e faz meu sangue ferver. Depois de arrumar um pouco a minha mesa, decido fazer o mesmo que eles e ir comer. Mas é tamanha a confusão de papéis que me esperam que, em vez de usar minhas duas horinhas para o almoço, saio apenas por uma hora e volto em seguida.

Ao chegar, enfio minha bolsa no gaveteiro, pego meu iPod e coloco os fones de ouvido. Se há algo de que gosto nesta vida, é música. Minha mãe ensinou a meu pai, minha irmã e a mim que quem canta seus males espanta. Este é, entre outros tantos, um de seus legados, e talvez por isso adoro ouvir música e passo o dia cantarolando. Após ligar meu iPod, começo a cantar enquanto me ocupo dos papéis. Minha vida se reduz à papelada!

Entro carregada de pastas na sala da minha chefe e abro uma espécie de aparador que usamos como arquivo. Esse aparador se comunica com a sala do senhor Herrera, mas, como sei que ele não está, relaxo e começo a arquivar enquanto cantarolo:

Te regalo mi amor, te regalo mi vida, a pesar del dolor, eres tú quien me inspira.

No somos perfectos, somos polos opuestos.

Te amo con fuerza, te odio a momentos. Te regalo mi amor, te regalo mi vida, te regalaré el Sol siempre que me lo pidas.

No somos perfectos, sólo polos opuestos.

Mientras que sea junto a ti, siempre lo intentaría ¿Qué no daría...?

Senhorita Portilla, a senhorita canta muito mal.

Essa voz, esse sotaque.

Assustada, derrubo no chão a pasta que eu segurava. Me abaixo para pegá-la e, merda, dou uma topada nele. No senhor Herrera. Com a angústia que tenho estampada na cara pela quantidade de gafes que estou cometendo com esse superchefão bonitão, olho para ele e tiro os fones do ouvido.

— Me desculpe, senhor Herrera — murmuro.

— Não tem problema. — Toca meu rosto e pergunta com familiaridade — Você está bem?

Como um bonequinho, desses instalados na parte traseira de alguns carros, faço que sim com a cabeça. Outra vez me pergunta se estou bem. Que fofo! Sem poder evitar, meus olhos e todo o meu ser o examinam em profundidade: alto, cabelo bem escuro, barba bem cuidada, deve ter trinta e poucos anos, musculoso, os olhos em um tom de esmeralda misturado com castanho, voz profunda e sensual... Convenhamos, um espetáculo.

— Lamento tê-la assustado — acrescenta. — Não era minha intenção.

Volto a mover a cabeça como um boneco. Como sou boba! Levanto com a pasta nas mãos e pergunto:

— A senhora Sánchez veio com o senhor?

— Veio.

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