Capitulo 14

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Estava dormindo como uma pedra quando ouço a porta de casa sendo aberta. Pulo da cama. Que horas são?

Consulto o relógio da mesinha de cabeceira: 11h07. Deito de novo. Não quero saber quem é, até que, de repente, uma pequena bomba cai sobre mim e grita:

— Oi, tiaaaaaaaaaaaa!

Minha sobrinha Luz. Penso num palavrão, mas logo olho a menina e a agarro para beijá-la com amor. Adoro minha sobrinha.

Mas, quando eu e minha irmã nos olhamos, meu olhar não é nada amigável. Vinte minutos depois e assim que saio do chuveiro, visto um pijama e vou até a cozinha. Minha irmã está preparando algo para o café da manhã, enquanto minha querida Luz aperta entre seus braços o coitadinho do Trampo e assiste aos desenhos da televisão.

Me sento na bancada e pergunto:

— Posso saber o que você faz na minha casa num sábado às onze da manhã?

Minha irmã me encara e coloca um café na minha frente.

— Me trai — diz num cochicho.

Surpresa com suas palavras, me preparo para responder, mas ela abaixa a voz para Luz não ouvir e prossegue:


— Acabo de descobrir que o sem-vergonha do meu marido me trai!.

" Você jura?". pensei

— Passei a vida inteira fazendo dieta, indo à academia, cuidando do meu corpo pra estar sempre linda e esse desgraçado me trai! - fala indignada - Mas não, isso não vai ficar assim. Te juro que vou contratar o melhor advogado que eu encontrar e vou tirar até o último centavo dele. Te juro que...

Não, para tudo, preciso de um segundo. Levanto a mão e pergunto:

— Como você sabe que ele te trai?

— Eu sei e ponto.

— Essa resposta não vale — insisto, até que a menina entra na cozinha.

— Mãe, vou ao banheiro.

Claudia faz que sim e diz:

— Olha, não se esqueça de limpar o bumbum com papel, tá?

A menina desaparece de nossa vista.

— Ontem Pilar, mãe de uma amiguinha da Luz — continua — me contou que descobriu que seu marido a estava traindo quando ele começou a comprar ele mesmo sua própria roupa. E, justamente, há dois dias José comprou uma camisa e algumas cuecas!

Isso me deixa perplexa. Não sei o que dizer. Realmente, dizem que um dos sintomas para se desconfiar de um homem é esse. Mas, claro, não dá para dizer que isso é regra geral em todos os casos. E menos ainda no caso do meu cunhado.

— Mas Claudia, isso não quer dizer nada...

— Sim. Isso quer dizer muito.

— Para com isso, sua exagerada! — rio para minimizar a questão.

— Exagerada nada, maninha. Ele me olha dum jeito estranho... como se quisesse me dizer alguma coisa e... quando fazemos amor, ele...

— Não quero ouvir mais nada — interrompo. Pensar no meu cunhado numa cena de sexo não me agrada nem um pouco.

De repente minha sobrinha surge na cozinha e pergunta:

— Tia... por que esse batom não pinta mas treme?

Ai minha Nossa Senhora!!

Olho para ela e vejo que está segurando o vibrador que Poncho me deu de presente. Pulo da bancada e o arranco das mãos dela. Minha irmã, mergulhada em suas próprias questões, nem se dá conta. Menos mal. Guardo o maldito batom no primeiro lugar que encontro.

Na calcinha.

— É um batom de mentirinha, fofa. Não percebeu?

A menina solta uma risadinha e eu fico desconcertada. Bendita inocência. Minha irmã olha para nós duas, e minha sobrinha diz:

— Tia, não esquece a festa de terça-feira.

— Não vou esquecer, meu amor — murmuro, ao mesmo tempo que afago sua cabeça com ternura.

Luz me olha com seus olhinhos azuis, torce a boca e diz:

— Briguei com a Alicia de novo. É uma boba e não quero ficar de bem nunca mais.

Alicia é a melhor amiga de Luz, mas são tão diferentes que não param de brigar. Mesmo assim, não conseguem viver uma sem a outra. E eu sou a intermediária das brigas.

— Por que vocês brigaram? - pergunto.

Luz solta o ar bufando e olha para cima com impaciência.

— Porque eu emprestei um filme pra ela, e ela disse que era mentira — cochicha — Me chamou de boba e coisas piores, e fiquei triste. Mas ontem ela me trouxe o filme, me pediu desculpas e eu não aceitei.

Sorrio. Minha sobrinha fofa e seus grandes problemas.

— Luz, eu já te disse que quando a gente gosta de uma pessoa, a gente tem que tentar resolver os problemas, né? Você gosta da Alicia?

— Gosto.

— E, se ela pediu desculpas pelo erro dela, por que você não aceita?

— Porque estou chateada com ela - diz cruzando os braços.

— Está bem, eu entendo sua chateação, mas agora você precisa pensar se isso é tão importante a ponto de você deixar de ser amiga de uma pessoa de quem você gosta muito e que ainda por cima te pediu desculpas. Promete pensar nisso?

Ela suspira.

— Prometo, tia. Vou pensar.

Segundos depois, a menina desaparece dentro do apartamento.

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