capitulo 30

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Na sexta-feira, assim que acordo, olho para o relógio digital na mesinha de cabeceira.

São 13h07. Dormi várias horas direto.

Como minha irmã não sabe que estou de volta, ela não apareceu aqui em casa e, por alguns segundos, isso me deixa feliz.

Não quero dar explicações.

Quando saio do quarto, a primeira coisa que procuro é o celular. Está na minha bolsa e no silencioso.

Há duas chamadas perdidas da minha irmã, duas de Rodrigo e doze de Alfonso.

Caramba!

Não respondo a nenhuma. Não quero falar com ninguém.

Minha raiva toma conta de mim outra vez e eu decido fazer uma limpeza geral.

Quando estou de mau humor, faço uma faxina que é uma maravilha.

Às três da tarde, minha casa está uma bagunça.

Roupa de um lado, água sanitária de outro, móveis fora do lugar... mas não estou nem aí.

Sou a rainha desta casa e quem manda aqui sou eu. De repente, sinto vontade de passar roupa.

Inacreditável, mas é verdade.

Pego a tábua, ligo o ferro na tomada e separo várias peças de roupa.

Cantando a música que toca no rádio, acabo esquecendo o que me atormentava... Alfonso.

Passo um vestido, uma saia, duas blusas e quando estou passando uma camisa polo, meus olhos se detêm numa bolinha vermelha que está no chão.

Logo me lembro de Trampo, meu Trampinho, e meus olhos se enchem de lágrimas até que solto um grito.

Acabo de me queimar com o ferro no antebraço e está doendo à beça.

Olho nervosa para a queimadura.

Meu antebraço está vermelho como um tomate e consigo até ver o contorno e os furinhos do ferro na minha pele.

Está doendo... está doendo... está doendo... Doendo muito!

Fico na dúvida entre lavar com água ou botar pasta de dentes, enquanto caminho dando pulinhos pela casa.

Sempre ouvi falar desses métodos, mas não sei se funcionam.

Por fim, morrendo de dor, decido correr para o hospital.

Às sete da noite eu finalmente sou atendida.

Viva a rapidez dos prontos-socorros!

Minha dor é tanta que chego a ver estrelas.

Uma médica adorável passa com delicadeza um líquido na queimadura e faz um curativo no meu braço.

Me receita analgésicos e me manda para casa.

Com uma dor insuportável e o braço enfaixado, procuro uma farmácia.

Como sempre nesses casos, a mais próxima fica a mil quarteirões de onde estou.

Após comprar o que preciso, volto para casa.

Estou exausta, irritada e cheia de dor.

Mas quando chego ao portão da frente, ouço uma voz atrás de mim.

— Não vá embora de novo sem me avisar.

Sua voz me paralisa.

Me irrita mas também me conforta. Eu precisava ouvi-la.

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