capitulo 21

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Às nove da noite, ligo o celular e recebo uma ligação de Rodrigo. Minha irmã tinha telefonado para ele, e agora ele está se oferecendo para vir a Madri me consolar.

Rejeito a oferta e, após falar com ele por alguns minutos, encerro a ligação e desligo.

Janto qualquer coisa e decido voltar para casa. Preciso enfrentá-la: a ela e à solidão.

Mas, quando entro, uma emoção estranha toma conta de mim.

Tenho a sensação de que a qualquer momento Trampo, meu Trampinho, vai surgir em algum canto da casa e ronronar para mim.

Fecho a porta e me apoio nela. Meus olhos se enchem de lágrimas e não me contenho mais.

Choro, choro e choro, e desta vez sozinha, que me cai melhor.

Com os olhos inchados e sem conseguir me controlar, ando até a cozinha. Observo a tigela de comida de Trampo e me abaixo para pegá-la.

Abro a lixeira e jogo fora os restos de comida que havia ali. Coloco a tigela na pia e a lavo. Após enxugá-la, olho para ela sem saber o que fazer com isso. Deixo-a em cima da bancada.

Depois pego o pacote de ração e os remédios. Junto tudo e volto a chorar como uma boba.

Alguns segundos depois, escuto a porta da rua sendo aberta. É minha irmã. Ela vem e me abraça.

— Eu sabia que você estaria assim, maninha. Vamos, por favor, pare de chorar.

Tento dizer que não consigo. Que não quero. Que me recuso a acreditar que Trampo não voltará, mas o choro me impede de dizer qualquer coisa.

Meia hora mais tarde, eu a convenço a ir embora. Escondo suas chaves para que não leve com ela e não volte a me incomodar.

Preciso ficar sozinha.

Quando ando até o banheiro para lavar o rosto, vejo a caixa de areia de Trampo e caio no choro outra vez.

Sento no vaso, disposta a chorar por horas e horas, quando ouço batidas na porta.

Convencida de que minha irmã se deu conta de que não está com as chaves e resolveu voltar, abro a porta, mas é Alfonso quem aparece na minha frente, com cara de poucos amigos.

O que ele está fazendo aqui?

Me olha surpreso. Sua expressão muda por completo e, sem se mexer, pergunta:

— O que houve, Annie?

Não consigo responder. Meu rosto se contrai e eu começo a chorar outra vez.

Fica paralisado e então eu me aproximo dele, de seu peito, e ele me abraça.

Preciso desse abraço. Ouço a porta se fechando e choro mais ainda.

Não sei por quanto tempo ficamos assim, até que de repente percebo que sua camisa está encharcada de lágrimas. Finalmente me afasto dele.

— Trampo, meu gato, morreu — consigo murmurar.

É a primeira vez que digo essa palavra terrível. Eu a odeio!

Minha cara se contorce de novo e eu caio em prantos outra vez. Ele me puxa para si e me leva até o sofá.

Tento falar, mas os soluços de tristeza não me permitem. Só consigo articular palavras entrecortadas, enquanto meu corpo se contrai involuntariamente e eu vejo que Poncho está desconcertado. Não sabe o que fazer.

Por fim se levanta, pega um copo e o enche de água. Coloca nas minhas mãos e me obriga a beber.

Cinco minutos depois, estou um pouco mais calma.

— Sinto muito, Annie. Sinto muitíssimo.

Faço que sim com a cabeça, enquanto aperto meus lábios e engulo a enxurrada de emoções que novamente imploram para sair de dentro de mim.

Abraçada a ele, apoio minha cabeça em seu peito e sinto minhas lágrimas rolando descontroladas.

Desta vez não estou soluçando, e o simples fato de sentir sua mão acariciando meu cabelo e meu
braço me reconforta.

Por volta da meia-noite, a tristeza ainda me domina, mas já sou capaz de controlar meu corpo e minhas palavras, então me afasto um pouco e olho para ele.

— Obrigada — digo.

Sinto que se comove, seus olhos revelam isso. Aproxima sua testa da minha e sussurra:

— Annie... Annie... Por que você não me disse? Eu teria te acompanhado e...

— Eu não estava sozinha. Minha irmã ficou comigo o tempo todo.

Poncho balança a cabeça, compreensivo, e passa seus polegares por baixo dos meus olhos para retirar as lágrimas.

— Você precisa descansar. Está exausta e sua mente tem que relaxar.

Faço que sim com a cabeça. Mas então me dou conta de que seu rosto está contraído.

— Você está bem? — pergunto.

Surpreso com a pergunta, ele olha para mim.

— Sim. Só estou com um pouco de dor de cabeça.

— Se você quiser, tenho aspirina no armário do banheiro.

Vejo que ele sorri. Em seguida me dá um beijo no alto da cabeça.

— Não se preocupe. Vai passar.

Preciso dormir, mas não quero que ele vá embora, então seguro sua camisa para tentar impedi-lo de sair.

— Queria que você ficasse aqui comigo, apesar de saber que não dá.

— Por que não dá?

— Não quero sexo — murmuro, com uma sinceridade esmagadora.

Poncho ergue a mão e toca meu rosto com uma ternura que nunca havia demonstrado antes.

— Vou ficar aqui contigo e não tentarei nada até você me pedir.

Isso me surpreende.

Levanta-se e me estende a mão. Eu a pego e ele me leva até o quarto. Assustada, vejo-o tirando os sapatos. Eu faço o mesmo. Depois tira a calça. Eu o imito.

Deixa a camisa em cima de uma cadeira e fica vestido apenas com uma cueca boxer preta. Sexy!

Levanta as cobertas e se enfia nelas. Sem esquecer o que lhe pedi, tiro a blusa e o sutiã, pego embaixo do travesseiro minha camiseta de alcinha e o short de dormir.

Vejo que ele sorri ao ver meu pijama do Taz e eu faço cara de emburrada.

Depois de vestir o pijama, abro uma caixinha redonda, retiro um comprimido e o tomo.

— O que é isso?

— Meu anticoncepcional — explico.

Instantes depois, me deito ao seu lado, e ele enfia o braço embaixo do meu pescoço.

Chego mais perto e ele me beija na ponta do nariz.

— Dorme, Annie... dorme e descansa.

Sua proximidade e sua voz me relaxam, e abraçada a ele, acabo adormecendo.

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