Às nove da noite, ligo o celular e recebo uma ligação de Rodrigo. Minha irmã tinha telefonado para ele, e agora ele está se oferecendo para vir a Madri me consolar.
Rejeito a oferta e, após falar com ele por alguns minutos, encerro a ligação e desligo.
Janto qualquer coisa e decido voltar para casa. Preciso enfrentá-la: a ela e à solidão.
Mas, quando entro, uma emoção estranha toma conta de mim.
Tenho a sensação de que a qualquer momento Trampo, meu Trampinho, vai surgir em algum canto da casa e ronronar para mim.
Fecho a porta e me apoio nela. Meus olhos se enchem de lágrimas e não me contenho mais.
Choro, choro e choro, e desta vez sozinha, que me cai melhor.
Com os olhos inchados e sem conseguir me controlar, ando até a cozinha. Observo a tigela de comida de Trampo e me abaixo para pegá-la.
Abro a lixeira e jogo fora os restos de comida que havia ali. Coloco a tigela na pia e a lavo. Após enxugá-la, olho para ela sem saber o que fazer com isso. Deixo-a em cima da bancada.
Depois pego o pacote de ração e os remédios. Junto tudo e volto a chorar como uma boba.
Alguns segundos depois, escuto a porta da rua sendo aberta. É minha irmã. Ela vem e me abraça.
— Eu sabia que você estaria assim, maninha. Vamos, por favor, pare de chorar.
Tento dizer que não consigo. Que não quero. Que me recuso a acreditar que Trampo não voltará, mas o choro me impede de dizer qualquer coisa.
Meia hora mais tarde, eu a convenço a ir embora. Escondo suas chaves para que não leve com ela e não volte a me incomodar.
Preciso ficar sozinha.
Quando ando até o banheiro para lavar o rosto, vejo a caixa de areia de Trampo e caio no choro outra vez.
Sento no vaso, disposta a chorar por horas e horas, quando ouço batidas na porta.
Convencida de que minha irmã se deu conta de que não está com as chaves e resolveu voltar, abro a porta, mas é Alfonso quem aparece na minha frente, com cara de poucos amigos.
O que ele está fazendo aqui?
Me olha surpreso. Sua expressão muda por completo e, sem se mexer, pergunta:
— O que houve, Annie?
Não consigo responder. Meu rosto se contrai e eu começo a chorar outra vez.
Fica paralisado e então eu me aproximo dele, de seu peito, e ele me abraça.
Preciso desse abraço. Ouço a porta se fechando e choro mais ainda.
Não sei por quanto tempo ficamos assim, até que de repente percebo que sua camisa está encharcada de lágrimas. Finalmente me afasto dele.
— Trampo, meu gato, morreu — consigo murmurar.
É a primeira vez que digo essa palavra terrível. Eu a odeio!
Minha cara se contorce de novo e eu caio em prantos outra vez. Ele me puxa para si e me leva até o sofá.
Tento falar, mas os soluços de tristeza não me permitem. Só consigo articular palavras entrecortadas, enquanto meu corpo se contrai involuntariamente e eu vejo que Poncho está desconcertado. Não sabe o que fazer.
Por fim se levanta, pega um copo e o enche de água. Coloca nas minhas mãos e me obriga a beber.
Cinco minutos depois, estou um pouco mais calma.
— Sinto muito, Annie. Sinto muitíssimo.
Faço que sim com a cabeça, enquanto aperto meus lábios e engulo a enxurrada de emoções que novamente imploram para sair de dentro de mim.
Abraçada a ele, apoio minha cabeça em seu peito e sinto minhas lágrimas rolando descontroladas.
Desta vez não estou soluçando, e o simples fato de sentir sua mão acariciando meu cabelo e meu
braço me reconforta.Por volta da meia-noite, a tristeza ainda me domina, mas já sou capaz de controlar meu corpo e minhas palavras, então me afasto um pouco e olho para ele.
— Obrigada — digo.
Sinto que se comove, seus olhos revelam isso. Aproxima sua testa da minha e sussurra:
— Annie... Annie... Por que você não me disse? Eu teria te acompanhado e...
— Eu não estava sozinha. Minha irmã ficou comigo o tempo todo.
Poncho balança a cabeça, compreensivo, e passa seus polegares por baixo dos meus olhos para retirar as lágrimas.
— Você precisa descansar. Está exausta e sua mente tem que relaxar.
Faço que sim com a cabeça. Mas então me dou conta de que seu rosto está contraído.
— Você está bem? — pergunto.
Surpreso com a pergunta, ele olha para mim.
— Sim. Só estou com um pouco de dor de cabeça.
— Se você quiser, tenho aspirina no armário do banheiro.
Vejo que ele sorri. Em seguida me dá um beijo no alto da cabeça.
— Não se preocupe. Vai passar.
Preciso dormir, mas não quero que ele vá embora, então seguro sua camisa para tentar impedi-lo de sair.
— Queria que você ficasse aqui comigo, apesar de saber que não dá.
— Por que não dá?
— Não quero sexo — murmuro, com uma sinceridade esmagadora.
Poncho ergue a mão e toca meu rosto com uma ternura que nunca havia demonstrado antes.
— Vou ficar aqui contigo e não tentarei nada até você me pedir.
Isso me surpreende.
Levanta-se e me estende a mão. Eu a pego e ele me leva até o quarto. Assustada, vejo-o tirando os sapatos. Eu faço o mesmo. Depois tira a calça. Eu o imito.
Deixa a camisa em cima de uma cadeira e fica vestido apenas com uma cueca boxer preta. Sexy!
Levanta as cobertas e se enfia nelas. Sem esquecer o que lhe pedi, tiro a blusa e o sutiã, pego embaixo do travesseiro minha camiseta de alcinha e o short de dormir.
Vejo que ele sorri ao ver meu pijama do Taz e eu faço cara de emburrada.
Depois de vestir o pijama, abro uma caixinha redonda, retiro um comprimido e o tomo.
— O que é isso?
— Meu anticoncepcional — explico.
Instantes depois, me deito ao seu lado, e ele enfia o braço embaixo do meu pescoço.
Chego mais perto e ele me beija na ponta do nariz.
— Dorme, Annie... dorme e descansa.
Sua proximidade e sua voz me relaxam, e abraçada a ele, acabo adormecendo.
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Peca-me o que quiser
FanfictionRecém-chegado ao comando da empresa Müller, antes dirigida por seu pai, Alfonso tem uma atração instantânea pelo jeito divertido de Anahí e exigirá que ela o acompanhe nas viagens de trabalho pela Espanha. Mesmo sabendo que está se metendo numa situ...