CAPÍTULO 1: Adeus mi Rosa

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UM ANO ATRÁS EM BYRON

Eu estava sozinha com meu pai jogando cartas neste dia, mamãe havia levado meu irmão pra acompanhá-la na feira da cidade.

O sol estava se pondo e meu pai havia ganhado 5 partidas, eu apenas 2. Estava começando a ficar emburrada e sem paciência, nunca soube perder.

Ele me deu um olhar caloroso, meu pai sempre conseguia me acalmar com um olhar, e eu o amava tanto que sabia que ele poderia fazer qualquer coisa que me acalmaria de qualquer jeito.

Papai: Mi Rosa, perder para alguns é uma motivação pra conseguir o que quer com mais perseverança.

Papai sempre tinha essas metáforas estranhas, me fazia resolver situações que pareciam ser impossíveis. Eu havia crescido de baixo de sua mesa de estratégias, mas não vejo como o que eu aprendi poderia ser útil algum dia.

Então as janelas da sala foram abertas com um estrondo cortando meus pensamentos, um vento arrebatador entrou pela casa levando nossas cartas ao chão.

Os cachos do meu cabelo castanho serpenteavam no meu rosto, algo estava muito errado. Senti a atmosfera mudar, meu corpo zumbiu em antecipação, estranhamente. A porta foi derrubada com um chute ao chão logo em seguida.

Deuses, onde estavam os guardas? Meu pai se levantou apressado e eu fiz o mesmo instantaneamente, ele me puxou para trás, se fazendo de escudo. Sempre se colocando a frente dos perigos como as outras vezes, porque seria diferente agora?

Por cima de seu ombro vi as duas figuras encapuzadas de preto, seus rostos não eram visíveis. Um possuía um dadao na mão e outro facas gêmeas tiradas de um cinto cheio delas.

Que merda estava acontecendo? Então meu pai foi o primeiro a falar quebrando o silêncio assustador, como se soubesse o que estava ao nosso redor.

Papai: deixem ela ir.

: Sem testemunhas.

A voz parecia masculina e grossa, mas tão sem fundo como um poço sombrio.

Papai: Então ele não te contou.

Eu comecei a agarrar o tecido nas costas do meu pai, estava apavorada, porém não queria deixar ele, até o homem que me protegia lançar um olhar pelo ombro.

Papai: Perder é uma motivação, não se esqueça.

Depois disso eu tropecei tentando acompanhar o ritmo que as coisas foram acontecendo, meu pai me arrastou pela porta que dava pro corredor e me trancou do lado de fora.

Papai: CORRA!

Sua voz ecoou sobre a porta trancada, minhas mãos tremiam, meu corpo todo estava reagindo no momento errado. Se acalme, se acalme.

Meus sentidos feericos me alertaram sobre os passos vindo em direção a outra porta.

Ela começou a sacudir, provalmente o outro homem encapuzado, levantei a saia do meu vestido com as duas mãos e fiz oque meu pai pediu.

A biblioteca da casa dava a uma passagem subterrânea, eu poderia conseguir ajuda se desse tempo.

A porta foi arrancada e meu coração galopava no peito, eu corria o mais rápido que podia, olhando para trás, vi que meu pai estavam no corredor com uma espada.

Eles lutavam, mas o outro estava perto o bastante para tentar esticar a mão e me pegar, meu pai correu em minha direção.

A porta da biblioteca estava aberta, ele me empurrou entre uma prateleira para me esconder enquanto voltava a batalha. Eu quis puxa-lo, gritar pra que corresse comigo, mas meu pai tinha essa braveza indestrutível.

Som de aço contra aço martelava na minha cabeça. Os dois estavam lutando com o meu pai agora. Não deveria ser justo, eu deveria ter uma espada. Minhas mãos tremiam e eu procurava um jeito de passar pelos túneis e conseguir ajuda.

O homem que eu amava incondicionalmente estava ofegante, e a sua boca escorria sangue, percebi que no seu braço um faca estava cravada. Não, não, não.

Ele me mandou seu último olhar caloroso.

Porque a espada do assasino atravessou o corpo do meu pai, um ataque final.

Não sabia se estava gritando de verdade ou mentalmente, minha mente me fazia cair, cair e cair. Um banque surdo nos meus ouvidos, segurei firme o meu vestido a ponto das unhas cravarem nele.

Raciocine Rosetta, raciocine. Você também irá morrer se não fizer nada, até que um livro negro caiu de uma das prateleiras aos meus pés.

Eu já havia o visto antes, porém não me deixavam toca-lo, sem me dizerem motivos, mas lá estava ele na minha frente,se abrindo e as páginas começaram a se mover freneticamente e cessar.

Invocação... dizia a primeira página aberta. Invocações eram imprevisíveis e perigosas quando se tratavam de feéricos. Eu poderia invocar milhões de criaturas diferentes e errar.

Eu só tenho essa chance... não a mais ajuda pra chamar, apenas sobreviver.

Li as linhas em outro idioma o suficiente pra entender de qual invocação se tratava, peguei minha adaga pequena que estava na minha bota e cortei a palma da minha mão, falando as palavras ordenadas. Os homens me chamavam de garotinha, olhando de prateleira em prateleira em minha procura, vamos.

Um vento forte soprou quando terminei a última pagina e a janelas explodiram, me abaixei para me  proteger dos cacos de vidro estilhaçado.

Os dois assassinos caminhavam em minha direção agora com promessas sujas em seus olhos.

Sombras e fumaça entraram por todo lugar, pelas janelas, chão e teto, deixando o lugar totalmente escuro, eram tão densas e negras que pareciam milhares de garras.

As garras os deixaram imóveis quando as trevas subiram pelos pés dos assassinos do meu pai e entraram em suas orelhas e bocas.

Seus corpos levitaram levemente, tremores os percorriam, eu assistia enquanto perdiam a cor. Uma lágrima caiu na minha mão ensanguenta, uma de milhões que viriam.

Seus olhos assumiam um branco mortífero. Eu não fazia ideia doque estava acontecendo com eles, mas eu sabia de algo, vingança.

𝖠 𝖡𝖠𝖱𝖦𝖠𝖭𝖧𝖠 𝖣𝖤𝖫𝖤 Onde histórias criam vida. Descubra agora