Cap 10: Seja um lobo

1.6K 187 12
                                    

ROSETTA

Eu estava correndo na floresta ao redor da minha casa, escutei Arthur me chamando, eu corria rindo até que bati meu dedo em uma pedra que me fez cair no chão.

Meu pai apareceu para me ajudar, então reparei que as minhas mãos estavam vermelhas de sangue. Eu franzi o cenho, o sangue não era meu, algo no meu estômago retorceu quando olhei pro meu pai.

Papai: Vermelho, sabe o que está cor significa?

Rosetta: O que?

Papai: É a cor que sempre irá manchar as suas mãos, sua pele, sua desgraça. Você não irá conseguir fugir dela, desista.

Minha respiração estava ofegante quando o senti segurar meus pulsos, comecei a me debater, ele então segurava meus tornozelos e me arrastava pela terra.

A voz de Arthur ainda me chamava para brincar, terra enrolava ao meu corpo, meu pai me puxava e puxava pela floresta enquanto minhas mãos cravavam no chão.

Eu acordei naquela noite como as outras, antes do amanhecer, eu fui até a janela para tomar um ar, reparei em uma pena negra no parapeito.

Eu a observei quando o céu assumia um tom de roxo, olhei ao redor a procura de mais ou algum pássaro que tenha a deixado cair, mas nada vi, eu a pus debaixo do meu travesseiro e fui tomar um banho.

Eu tomei o tônico que Arthur havia me dado e o coloquei de volta ao lado da minha cama. Vestida com uma calça de couro preta e uma blusa de mangas longas marrons abaixo do corpete também negro fui até o meu treino.

Depois da corrida matinal com Mathias, nós comemos sentados em um tronco de árvore.

Mathias: Estão sentindo sua falta no jantar.

Rosetta: Não consigo ter tanta energia quanto vocês para o dia e para noite.

Ele soltou um bufo mordendo um pedaço de frango.

Quando sai suada de uma série de socos, chutes e abdominais, a fada que encontrei ontem me contou que me levaria até Scarlett com risadinhas.

Rosetta: Você não poderia me dizer o que me aguarda não é?

Fada: Hora, eu seria uma bocuda com a minha senhora.

Ela deu outra risadinha brilhando, então ela obedecia a Scarlett, ela não gostava de mim, com sorte seria bem menos piedosa que Mathias.

Scarlett estava debaixo de um arco com uma mesa cheia de frascos, folhas, águas, grãos e livros.

Fada: Boa sorte

Ela brincou com meu cabelo antes de sair voando e eu andar em direção à Scarlett. Eu iria precisar.

Scarlett: Bom dia.

Ela nem mesmo levantou o olhar do rótulo do frasco que lia.

Rosetta: Bom dia.

Me aproximei da mesa com ela do outro lado enquanto suas asas transparentes sintilavam como diamantes. Ela vestia um vestido branco sem mangas e com fendas nas pernas, os adereços dourados de suas tranças constrastávam com o branco. Podia se passar por uma deusa agora.

Scarlett: O que sabe sobre poções? Ervas? Venenos?

Rosetta: Pouco, apenas o que Arthur me contava, este é pra dores no corpo e este é um veneno pra uma arachne, isso que vou aprender?

Ela me olhou por alguns segundos depois pros fracos que apontei.

Scarlett: Irei te ensinar a sobreviver se estiver sangrando em uma floresta, a continuar respirando se comer ou for picada por algo errado. Te ensinarei a matar também na mesma facilidade que irei te ensinar a viver.

Os pelos das minha pele se arrepiaram com aquele pequeno discurso.

Ela começou me contando em que plantas eu não devo tocar, comer ou cheirar e depois me mandou fabricar um antídoto pra cada uma delas.

Scarlett: Errado, tente outra vez, sua febre começou e sua vista ficará obscura em cerca de 5 min.

Eu tentei pegar outro líquido quando ela deu um tapa na minha mão balançando a cabeça. Eu já estaria morta se tivesse realmente comido a planta venenosa, eu peguei então o pó de concha amarela derramando na minha poção que começou a liberar uma fumaça.

Scarlett: Beba.

Rosetta: O que? Não estou envenenada.

Scarlett: Tem que confiar no seu trabalho se não tiver ninguém pra guiá-la, se fez tudo certo não a causará mal.

Eu engoli seco pegando o pequeno engarrafado vermelho e bebi tudo de uma vez para que não sentisse o gosto.

Eu e Scarlett nós olhamos por alguns segundos esperando que algo acontecesse.

Respirei fundo achando que tinha passado na primeira prova quando meu estômago embrulhou, ardência e náusea me tomou, correndo eu vomitei em um arbusto.

Ela deu um pequeno riso de lado tentando se segurar.

Scarlett: Primeira regra, não confie em ninguém a beber nada se você não tiver certeza disto, ser persuadida pode ser seu erro mais fatal para morte.

Eu tomei aquilo em meu coração, ela estava certa por mais que tivesse comprometido meu estômago. Mas uma pequena dose de raiva ficou.

Ela me fez refazer a poção outra vez, repassou os ingredientes, eu derramei um pouco no papel que acabou se dissolvendo como ácido.

Isabelle apareceu depois quando ainda quebrava a cabeça com a fórmula certa.

Belle: Hora de rouba-la pra mim agora, tchauzinho Scar.

Isabelle passou o braço pelo meu me tirando de lá o mais rápido possível.

Belle: De nada, estava suando frio lá dentro.

Rosetta: Este lado é para Arthur.

Belle: Mas também é importante.

Ela apertou meu braço quando demos a volta no casarão, meu irmão sairia muito melhor.

Eu achei o lugar familiar, estava um pouco escuro por conta das árvores, então uma grande fonte termal apareceu, a água tão cristalina que brilhava.

Levantei a cabeça para olhar a minha própria janela que tinha vista pra cá.

Belle: diziam que as águas desta fonte davam proteção e inteligência contra os seus inimigos.

Um largato azul serpenteou pelas rochas.

Belle: Pode achar que uma sirene não tem muito a ensinar, mas também sou uma princesa no mar. Você é bonita, mas não usa isto em benefício próprio.

Rosetta: Não entendo.

Ela tirou uma das minhas mechas da testa, sua aproximação era tão... sua presença não podia ser explicada em palavras, era magnética em tudo que fazia desde que a conheci.

Belle: Como acha que uma mulher deve se desenvolver na política sem ser inteligente e bonita? Se um dia precisar conseguir informações de outras pessoas? Persuadi-las a contarem até os seus segredos mais sujos? Fazer com que consiga a atenção da pessoa certa na hora certa? Beleza vem junto com manipulação, olhares, toques.

Isabelle deu uma pequena volta me averiguando enquanto falava, o peso do quanto as aparências constavam em situações difíceis era absorvido dentro de minha cabeça.

Belle: Sua primeira lição será quando é a hora certa de falar, de agir, de escutar, quando ficar e ir embora.

Estava preocupada principalmente com a parte de quando falar.

Rosetta: Serei um cachorro bem treinado?

Belle: Você será um lobo que saberá a hora de dar um bote.

𝖠 𝖡𝖠𝖱𝖦𝖠𝖭𝖧𝖠 𝖣𝖤𝖫𝖤 Onde histórias criam vida. Descubra agora