Capítulo - 4

120 23 89
                                    

Depois da escuridão completa da qual mergulhei. Abrir os olhos e deixar a claridade entrar, foi tão doloroso quanto ser alvejado por um tiro. Ela ardia os meus olhos com a iluminação nem tão intensa do ambiente. Não permitindo assim, que pudesse definir onde realmente estava. Existia uma dor enorme na altura da minha testa, e quando levei a mão até ela, percebi o galo gigantesco que havia se formado por ali.

Tinha um curativo sobre ele que denunciava pelo toque que não escapei de um belo corte. Alguém havia feito pontos. Podia sentir eles sob o curativo. E sinceramente, esperava que não tivesse sido a doida da Nayla a realizar essa tarefa. Não queria mais cicatrizes em meu corpo. Pelo menos, não tão estúpidas como as provocadas por um desmaio.

O cabelo da minha franja tinha alguns dos fios melados e grudados. Era sinal evidente de ter existido sangue no processo da queda. E quando por fim, consegui de fato indentificar com clareza o ambiente a minha volta...

--- Nayla! --- chamei a ruiva que nem me deu importância.

Ela estava sentada no alto do escoro do sofá da sala com o controle do meu video game nas mãos e uma panela pequena ao seu lado cheirando a chocolate. Pelo olfato, já sabia o conteúdo dela. Brigadeiro de colher. Meu doce predileto.

As pernas dela estavam estendidas sobre o meu corpo se apoiando na base da poltrona. Elas eram pontes desenhadas com flores sobre mim. Agora, a visão da tatuagem escondida na coxa era mais ampla e revelava um um ramalhete de rosas muito bem desenhados. Tão perfeito, que parecia sobreposto na sua pela um tanto alva.

Ainda lembrava do tapa que levei e resolvi desviar meus olhos da imagem para não correr o risco que os pés dela acertessem agora, partes muito mais doloridas que as minhas bochechas.

Queria entender como ela conseguiu me trazer de onde eu estava para cima do sofá. Não era uma distância longa. Talvez, uns quinze passos ou menos. Mas, embora eu tenha perdido muito peso nesse último mês, devo ainda estar perto dos oitenta quilos ou mais.

--- Nayla!--- aumentei o tom da minha voz para chamar sua atenção.

Isso fez a dor aumentar na minha testa por causa do movimento da musculatura do meu rosto. Revirei os olhos descontente por ela sequer desviar a atenção da tela da televisão.

Ela não tinha como me ouvir. Estava com a televisão ligada no volume máximo e com o som direcionado aos fones no seu ouvido. Ela jogava o objeto de maior ciúme que eu tenho em casa. O último lançamento dos "Caçadores de Zumbis".

Talvez, agora eu entenda o real horror que a Any tem pelo jogo. É deveras bem assustador ser expectador de um jogo onde o terror é exposto de forma nua e crua e com uma violência que assustaria até os mais corajosos. Não entendo por que nós, os jogadores, não conseguimos perceber o tamanho das atrocidades ali apresentada.

São tantas mortes, tiros, sangue e entranhas para todo lado, que sinto uma certa náusea se formar no meu estômago. Talvez, deva repensar sobre não ver problemas no filho de apenas oito anos jogar aquilo. E o que dizer dos monstros? Chego a me escolher de susto quando um deles pula contra a tela com aquela cara horrenda deformada.

Meus Deus! Como a gente consegue dormir tranquilo depois de jogar aquilo? Talvez, seja por isso que tenho alguns vidrinhos de antipressivos no armário do banheiro do quarto para tomar. Volto meu olhar a ela pensando em como chamar sua atenção.

A colher em sua boca presa por seus lábios, os movimentos furiosos de seus dedos sobre o controle, a saia do vestido quase puxada nos quadril e os palavrões que falava no mesmo volume da tv. Denunciavam a sua concentração no jogo.

Me viro de novo lentamente em direção da tela. A filha da puta já passou a minha missão onde eu estava jogando e estava prestes a ganhar um bônus do qual ainda não conhecia ninguém que tivesse ganho.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora