CAPÍTULO 33

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Era uma sexta, tinha saído com Caio e mais alguns amigos depois do trabalho. Uma boate da zona sul foi o lugar escolhido. Muitas garotas bonitas, boa bebida,  música e talvez alguns alucinógenos que todo estressado como eu, precisa para se libertar do caos que é a sua vida. Já tinha prometido parar. Mais de uma vez. O vício é algo que não é muito fácil de largar do seu corpo depois que ele te abraça. 

Lembro que uns dias antes, Samuel e eu tivemos uma longa briga pela Internet por causa disso.  Any tinha lhe contado que achou uns "comprimidos estranhos" no bolso da minha calça.  Eu ria dele querer me dar um sermão como se fosse meu pai, já que me abandonou nesse país de merda pra fugir de um casamento. Aquela história de salvar o mundo era frívola pra mim. Ele tinha que ficar ao meu lado! Porém, ficar ao meu lado era estar sempre lembrando de Ayla. Do bebê.  Do par de chifres que ele levou. Da porra da vida chata dele...

E eu,  bebi além da conta. A saudade às vezes faz a gente fazer coisas absurdas. E por incrível que pareça, a saudade que sentia dele me fazia fazer essas sandices. Por que não deixava ele ir a puta que pariu?! Por que queria ele sempre ali do meu lado? Me escutando falar sobre meus problemas de playboy?

Eu nunca escutava ele! Queria ser sempre o foco da conversa. Os meus problemas eram sempre mais importantes do que lâminas microscópicas e sua solidão.  Às vezes, até brincava com ele dizendo que fazia o papel de "esposa devotada"...

Fazia um belo jantar quando estávamos sozinhos no meu apartamento.  Comia ao meu lado quieto. Ouvia toda aquela lamúria com paciência.  Bebia comigo enquanto víamos um filme, ou pior, assistíamos a um jogo de futebol. E ele  detesta futebol! Mas, fingia gostar de me ver explicar as regras do jogo e sobre tabela de campeonatos e depois, sempre lhe apresentava um sofá ou uma cama num quarto de hóspedes. Quanta hipocrisia a minha! Era mesmo essa a recompensa que se oferece alguém que dedica  tempo da sua vida para ouvir outra pessoa? Não poderia sequer ouvir um parágrafo ao menos sobre ele? Não. Eu era egocêntrico! Era burro o suficiente para não ver que só quem ama alguém de verdade suportaria isso...

Naquela noite… Naquela boate... Eu havia ficado com uma bela menina de olhos espevitados e corpo perfeito para aforga no sexo a falta que a companhia dele me fazia. Sapeca ao extremo, ela me prometia um final de semana inesquecível!  Com certeza,  ela faria eu esquecer do sermão dele. Da falta que ele estava me fazendo. Do estresse do trabalho. Dessa merda toda que é a vida de adulto!

Saí com ela da boate e peguei o Mustang do meu irmão no estacionamento. Lembro de ligar o rádio no último volume e pelo caminho até o nosso sítio, ainda beber da garrafa que ela segurava nas mãos e agitava no ritmo da música.  Estávamos muito bêbados. Deveríamos ter chamado um táxi. Mas, meu orgulho de macho, dizia que aqueles poucos quilômetros não tinham dificuldades em serem percorridos com algumas doses de bebida no sangue.

Alguns quilômetros mais a frente, eu poderia me embriagar de vez no prazer que aquele corpo esbelto iria me proporcionar, se de repente,  alguém não tivesse a péssima ideia de ultrapassar o caminhão que vinha em nossa direção contrária sem se importar conosco.

O brilho dos faróis em meus olhos me chamou a atenção.  Assim como o grito da garota ecoando no interior do carro . Para evitar colidir de frente com o outro carro, tentei desviar para o acostamento da estrada e acabei perdendo o controle do carro que acabou saindo da pista e capotando na curva logo à frente. 

Entre uma cambalhota e outra do veículo, o meu corpo foi projetado para fora, ficando largado pelo caminho na ribanceira,  ao contrário do da garota que ficou preso em ferros retorcidos e eu ainda posso ouvir os seus gritos de pavor ecoando pela minha mente durante as madrugadas. Quando o carro por fim, afundou lentamente no rio metros à baixo...

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora