Capítulo 24

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Brinquei com a comida o tempo todo que estive presente naquela mesa. Nayla não dizia nada. Apenas observava meu dilema. Enrolava o garfo no macarrão e servia o cachorro ao lado dela. Depois, com certeza teria montes enormes para limpar no jardim daquele macarrão que iria sair. A nossa vida estava um caos perfeito. Empurrei o prato à minha frente e decidi tomar um rumo na vida antes que o pouco de coragem dentro de mim, sumisse...

— Aonde você vai? — ela levantou de rompante tentando me segurar pelo braço. 

— Fazer o que é certo, não dá mais pra ficar adiando as coisas. Precisamos de uma resposta e vou atrás dela.

— Leonardo,  é perigoso! Acho que deveríamos pôr a polícia no caso! Sei lá,  não tem outra pessoa que pode nos ajudar sem ser aquele idiota do Lorenzo?

— A única pessoa que poderia nos ajudar, eu deixei ir embora magoado....— falei com pesar. Já sentia falta do Samuel.  Saber que ele não vai me perdoar pelo que fiz doía pra caramba no meu peito.

— Eu vou com você! Só me dá um minuto para assaltar seu guarda roupa! — ela me deu um selinho na boca e subiu correndo a escadaria seguida de Duque. 

Assaltar meu guarda roupa? Pelo visto, acho que nem tenho mais roupa no armário! Sam, Nayla,  quem mais precisa das minhas roupa? 

Olho ao meu redor e vejo a bagunça que está na casa.  Preciso de tempo para ajeitar tudo antes que a ruiva pior de todas chegue e perceba que atirei um vaso dela caríssimo no meu melhor amigo. Pego  o lixeiro e vou até os cacos catar um por um a mágoa que eles representavam dentro de mim.

Cada pedaço, cada farelo, representavam as lágrimas,  risadas e momentos que vivi ao lado de Samuel.  E como eles, agora eu os jogava na lixeira. Algum dia ele me perdoaria pelas coisas que disse? Pelo que fiz com ele na noite anterior? 

Posso ainda sentir a sua aflição quando o prendi ao meu corpo. O calor dele. O jeito como quase implorou para ser tocado. Sim, ele tem razão.  Eu amei a Any uma vida inteira e pude me libertar dessa paixão quando em um beijo a deixei livre para Noah.  E Sam? Bom, o aprisionei a um desejo por mim.

— Droga! — Abandonei a tarefa e fui para o antigo escritório do meu irmão afogar as mágoas nos whiskys caros que tem por lá. — Céus! O que foi que eu fiz?  Burro! Como você pode fazer isso com ele?

Entornei  o primeiro gole todo de uma vez. Passei pelo que ele passou. Cansei de chorar silenciosamente aquela dor da paixão que sentia pela minha cunhada sozinho no meu quarto noites inteiras. E tive sim, chances de ficar com ela. Mas, parece que o destino não quis que ficássemos juntos. Teve que colocar um caipira idiota no caminho dela.

Estou culpando o Sam por ele ter fantasias comigo? Confesso que é um tanto esquisito. Mas, eu sou solteiro. Seu pecado é menor. As minhas? Elas eram com uma mulher casada. Aliás, casada com o meu irmão!

Enchi o copo outra vez e deixei o corpo cair pesadamente na poltrona de couro. Passei a mão pelo rosto tentando entender como essas coisas podem acontecer.  Eu gostei de alguém que sempre me viu como um filho, a mulher do meu irmão, algo intocável, a fonte de toda a minha rebeldia, a deusa que preferiu o Jeca! Por que sempre tem que ter um Jeca caído de paraquedas na minha vida?

E o Samuel, um cara que as garotas caem em cima direto, apaixonado pelo amigo babaca, que provou com todas as letras que tem um enorme preconceito pela opção dele pelo amor que sente por mim. E que não satisfeito, ainda tentou seduzi-lo! Ele deveria me processar! Assédio é crime! E fiz isso na cara dura com ele!

Não,  espere, fiz algo muito pior! Implorei que assuma um compromisso com uma víbora como é a Ana! E por que? Só pra saber se o meu irmão está vivo ou não? E é tão simples! Basta abrir a porra daquele caixão!

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora