Capítulo - 5

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Nayla tinha razão. Chorar faz bem. Não me deixou com a cara mais linda do mundo, porém,  o peso que saiu do meu peito me fez respirar muito melhor. Diante do espelho, eu vejo meus olhos inchados e vermelhos. Eles representam o quanto de dor eu tinha presa dentro de mim e precisava extravasar.

Chorei muito sozinho e escondido no meu quarto nesse últimos dias e poderia fazer uma lista imensa dos motivos. Mas, todas essas lágrimas não tinham sido suficientes para aplacar aquela dor que estava me torturando.

Poderia começar a minha lista pelo que senti pela primeira vez, quando me foi apresentado o real medo de morrer. Quando empunhei a arma com a intenção de matar, senti que não é tão fácil e nem mágico ser um herói na história. Não tinha beleza no matar ou morrer e aquele vazio que se tem de momento, te rouba toda a sua humanidade.

Não é  mais o seu espírito que  rege a sua ação. É  seu instinto de sobrevivência. Ele nem sempre é um bom conselheiro. Ele te faz pensar só no ato de fazer o que tem que ser feito. Em quem tem que se proteger e esquece  das consequências que isso vai te causar no futuro.

É impulso que se tem muito perigoso e que nem sempre dá certo. Eu defendi o amor da minha vida de forma insana. Disposto se preciso fosse, morrer por ela. Porém, psicologicamente não  estava preparado para agir daquela maneira e nem suportar os efeitos que aquela ação acarretaria num futuro próximo.

Não foi fácil puxar o gatilho. Não foi fácil assumir o que poderia ter acontecido. E eu só feri alguém. Alguém merecia muito mas, que fazer aquilo não era da natureza do meu ser. E eu conversei com alguém sobre isso? Não.

Tranquei dentro de mim aquela sensação horrível, que ainda poderia ser muito pior se tivesse de fato, concluído o ato de matar.

Eu morri de medo da morte naquele rio...

Ela parecia tão feliz em ter a minha companhia...

Ela naquele momento não era um anjo belo. De fato, o semblante cadavérico dela ao meu lado, dizendo sedutoramente no meu ouvido que parasse de lutar, que se entregasse e que a acompanhasse, me acorda todas as noites em desespero.

Eu ainda choro por isso...

No silêncio da madrugada, em lágrimas sem sons, afogando meus soluços de desespero no meu travesseiro. E a solidão  do meu quarto, só faz aumentar o medo que tenho daquela dama...

Posso sentir a sua presença ainda. Roçando o seu rosto frio no meu. Posso ouvi-la dizer que a diaba agora, não está ao alcance de me salvar novamente...

Lembrar que poderia ter sido meu túmulo aquele leito de rio, me deixa apavorado ao ponto de entrar sequer numa banheira. Ouvir o som da chuva na calha da água do telhado ou até mesmo a água correr pela torneira. O psicólogo diz, que isso tudo vai passar. Que é só uma questão de tempo para que a mente processe o susto e as coisas voltem ao normal.

Mas, quando? Susto? Aquilo não foi um susto! Foi um inferno me apresentado de modo bem cruel...

Saber que naquele momento, eu poderia perder a oportunidade de ver meu filho crescer. De lhe fazer companhia. De termos aquelas conversas que eu e meu irmão tanto tínhamos...

Nayla tem razão...

Chorar faz bem...

E ali apoiado na bancada da pia eu me deixo esvaziar por dentro. As lágrimas caem pelo ralo mesclado ao filete de água da torneira. Às vezes, eu até cubro os meus lábios tentando reprimir os soluços que vem em rompante junto com elas. O peito doe, o ar às vezes foge de mim, assim como eu já pensei de formas insanas e nada saudável fugir dessas sensações...

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora