Capítulo 25

44 9 9
                                    

Já vi em algum lugar, provavelmente num filme, uma cena do cara e o cachorro jogado na calçada esperando que a namorada o perdoe e deixe voltar para dentro de casa. No mínimo, para pegar suas coisas. Mas, o casal e o cachorro? Isso além de estranho, era um tanto ridículo. Mas, estávamos ali, os três. Jogados ao relento.

Não podemos sair dali e ir pra qualquer outro lugar porque a diaba está com tudo o que é meu preso dentro daquela casa. Dinheiro, a chaves do carro, meus documentos, roupas e o pior, as drogas da Nayla!

Mais de uma vez ensaiei levantar, ir até a porta e tentar bater. Mas, eu escutava ela falar furiosa e alto com Noah sobre as coisas pessoais dela que destruímos.  O que antes parecia não ser tão grave, ouvindo a versão dela, na voz dela, parecia justo o castigo que estávamos merecendo ali fora.

Mesmo não tendo apego por bens materiais, sei que se Duque roesse um dos meus tênis caros ou destruísse uma de minhas peças de roupas, talvez agisse exatamente da mesma maneira que ela. O que destruímos, são ainda mais valiosos. Eram lembranças de épocas felizes. Grandes acontecimentos. As almofadas? Bem, elas só eram caras mesmo! Mas o vaso de cristal, foi presente da mãe da Any no décimo quinto aniversário de casamento dela. Pouco antes dela falecer. Ela amava aquele vaso. E eu me sentia um babaca por ter usado ele como arma contra Samuel…

Sei que a pequena Laura deveria estar em seu quarto brincando com suas bonecas.  Ela acha esses rompantes de adultos "chatos ". E quando penso nas lindas bonecas dela, olhei sério para Duque.  Será que ele estragou alguma delas? Meu coração gela. Não poderia imaginar a sua carinha triste ao ver uma delas despedaçada.

Dou a volta na casa e olho a janela do quarto das crianças.  Não dá pra ver nada pela altura, já que se encontra no segundo  piso de casa, mas parece que não se escuta choro e nem birra. O que me deixa aliviado. 

Volto a me sentar ao lado de Nayla que acaricia o cachorro com uma mão enquanto apoia o queixo com a outra entediada. O olhar perdido no jardim e os pensamentos longe.

— Quanto tempo leva pra ela se acalmar normalmente? — Me encara com aqueles olhos sapecas dela.

- Sei lá,  acho que temos um prejuízo que gira em torno dos 30 ou 50 mil. Quanto tempo você levaria pra se acalmar? — eu vejo nos pés dela os tênis favoritos de Any. — Céus,  Nayla! Eu disse pra você não mexer nas coisas dela!

— E você queria que eu andasse descalça?— Revirei os olhos. Ela queria mesmo que eu dissesse como queria que  andasse dentro de casa?

— Oi. Trouxe pra você!— Marcos nos interrompe com uma bandeja com dois sanduíches e uma garrafa de coca cola com dois copos.

— Nossa, Marcos! Que gentil! — Nayla aceita um e eu o ajudo a segurar a bandeja para que meu filho galanteador a sirva.

Realmente.  O bicho puxou o pai! Não pode ver um rabo de saia bonito. O problema é que quando fui me servir do outro sanduíche, ele retirou a bandeja da minha mão,  se apossou dele, e a única coisa que sobrou pra mim, foi beber o resto da coca na garrafa. Safado!

Levei na Brincadeira. O clima já estava muito tenso para mais discussão. Mesmo com ódio de ver o cachorro sendo alimentado  com pedaços generosos da comida. Fui rebaixado a níveis menores que o pet!

— Nós vamos ficar com ele? — Marcos já brincava com Duque a nossa frente feliz da vida.

— Pode ser, se eu achar um lugar pra morar... — olhei a porta da casa que ainda se mantinha fechada.

— Por que não levamos ele pra casa da vovó?— ele caiu de joelhos e o cachorro lambia todo o seu rosto.

— Sua vó não deixaria o cachorro nem sequer se aproximar da porta! — mentalizei minha mãe surtando com um animal daquele tamanho correndo pelo pátio. Pior, pela casa toda chique dela.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora