Capítulo 26

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Samuel não parou o carro na entrada principal do cemitério e sim um pouco antes num portão bem menor onde tinham o costume de sair com o lixo que recolhem do lugar.  As sobras apodrecidas da dor e do luto, coroas de flores, arranjos singelos, algum ornamento inútil e até mesmo sobras de construção de túmulos. Ali  as pessoas ainda tinham o costume de fazer belos jazigos ou singelas capelas, até mesmo em alguns casos, túmulos solitários entre caminhos de pedriscos.

Aquele lugar me trazia muitas más recordações.  Foi ali que contei pra Any como demos origem a toda aquela caçada infernal em pinheiral.  De como fomos tolo ao ponto de  iniciar uma guerra ao desmantelamento daquela quadrilha de tráfico humano.  Foi ali que enterrei um ser que considerei o herói da minha vida e agora pode ser o lugar do meu pior pesadelo. 

Desenterrar mentiras é desastroso. Não tenho um plano B. Na verdade, nem tenho ideia de como se portar diante desse plano A bolado pelos ruivos. Respiro pesado sentindo o clima ruim se fechar em nosso entorno fazendo as coisas ficarem ainda mais difíceis de serem realizadas. 

Samuel não tem o menor apreço pelo cemitério.  A morte é um anjo constante ao seu lado. Seja nos corredores do hospital ao qual voltou a trabalhar.  Ou naquelas missões malucas que faz em prol da humanidade pelo exército.  Ambos fizemos um silêncio mórbido esperando que ele nos encha de coragem. E como isso não acontece, Sam começa a repassar o plano.

— Nayla… — Ele olha a sua frente para a entrada principal enquanto aperta o volante à sua frente. Talvez, pense que isso lhe traga coragem — Você distrai o zelador, o segurança e o coveiro....

Os três estavam ali escorados no muro jogando conversa fora, alheios a nossa presença. Sabíamos que naquele horário o cemitério era um lugar um tanto deserto. Não havia nenhum velório por sorte.  O máximo que poderia ter, era algumas pessoas dispersas que poderiam ser facilmente ludibriadas. Afinal, ninguém tem interesse pelo o que as pessoas fazem com seus mortos. A não ser é claro, se encontrarmos algumas donas fifis  que queiram fofocar conosco. Limpei esse pensamento da minha mente, seria muito azar!

— Espera, como quer que os distraia? — tava na cara o que ele queria que ela fizesse e o meu sangue ferve por dentro.

— Você tá pensando o quê dá minha namorada pra sugerir esse tipo de coisa? — explodi me segurando para não lhe dar um belo soco na cara.

— Que ela é bonita, gostosa e talvez inteligente o suficiente para saber ter uma conversa com aqueles idiotas por pelo menos uns quinze minutos!

— Por que não vai Você?— disparei contra ele.

— Por que eu sou homem, caralho! O que acha que eu tenho que possa interessar a eles?— Sam me encarou pelo espelho.

— Oras, você não se acha o gostoso? Bonitão e inteligente? Talvez saiba conversar com aqueles dois por...

— Chega! — Any se exaltou.  — Nayla, você consegue distraí-los por esse tempo?

— Claro,  estou vendo o que pensam sobre mim, mas tudo bem!— ela jogou as mãos ao alto, me beijou e já  foi descendo do carro.

— Não precisa fazer isso, amor! Isso não é um problema seu e ...

— Lorenzo está te ameaçando. E precisamos saber quem está por trás de tudo isso. Vou fazer por você, o mesmo que faria por mim.

Segurou o meu queixo assim que desci atrás dela pela mesma porta e me trouxe para um beijo quente, malicioso e como diria Samuel,  bem promíscuo. Era uma pirraça para lhe fazer ciúmes, tenho certeza disso. Depois me deu um tapinha no rosto e foi até eles desfilando sensualidade a cada passo que dava. Acho que não suporto isso.  Tencionava ir atrás dela, mas...

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora