Capítulo 20

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A noite foi um tormento brindado por uma dose dupla de calmante. O sono foi agitado e os pesadelos povoaram minha mente quase o tempo inteiro. Eu me via quebrando aquela tumba, com a mesma picareta que Any fez o estrago maior assim que o enterramos. Tirava o caixão de mogno lá de dentro a duras penas e quando por fim, o colocava no corredor de pedriscos, o abria lentamente para vislumbrar seu interior. 

Estava vazio. Somente o cetim apodrecido da cama eterna se fazia presente. Nenhum corpo. Nem pedras. Nem nada que pudesse representar o peso que foi trazer ele até ali. Não havia nem sequer o cheiro pútrido dos mortos. Só o perfume caro que ele costumava usar para trazer sua lembrança mais vívida em meus pensamentos. 

Eu caia de joelhos ao chão, decepcionado por ter sido tão facilmente enganado. Fechava os punhos em fúria e o meu grito de dor ecoava por todo o cemitério fazendo os pássaros alçarem voos dos seus ninhos.

Na centésima vez que essa cena se repetiu, abri os olhos lentamente e tentei ambientá-los na penumbra do quarto. Levou um tempo maior do que previ. Estavam pesados pelos efeitos do remédio e talvez,  até por medo de tudo que viam em sonho estar de fato acontecendo. 

Abracei o corpo à minha frente com extremo carinho e fui beijar a sua nuca. Só que havia um problema. Ela estava exposta e até onde lembrava,  a minha namorada tinha uma farta cabeleira. Levantei o mais alto que pude minha  mão e espalmei com força ela na bunda de quem dormia pesado ali...

— Caralho!— Samuel levantou de sobressalto no colchão com a arma em punho tentando uma mira no nada à sua frente. — Filha da puta! Isso doeu, sabia?

— Que diabos está fazendo na minha cama? — não contive a risada. Nayla do meu outro lado, também acordou de sobressalto assustada.

— Você está bem? 

— Óbvio que não! Rolou um ménage e eu não lembro?— Tentei brincar com os dois. Mesmo vendo que pelo menos Samuel ainda estava completamente vestido com as roupas que emprestei ontem.

—Nós podemos repetir se quiser...— Samuel falou sem um pingo de humor.

— Porque estamos os três na mesma cama? — me escorei nos travesseiros, abracei Nayla e a aconcheguei em meu peito  beijando seus cabelos.

— Por quê você surtou! Gritava como um louco! Deixou ela assustada e eu vim pra cá tentar te acalmar...

—E por que não me acordaram?— vi o ruivo deitar exausto ao meu lado.

—Tentamos... Você não respondia aos estímulos!— ele virou de costas pra mim, puxou as cobertas até a cabeça e já tencionava voltar a dormir. — Usamos o antídoto, mas demorou pra você se acalmar....

— Esse quarto é meu, Sam... Minha cama...

— Eu tô pregado! — apontou o dedo do meio pra mim num gesto obceno. —Além do mais, comigo aqui vocês não vão fazer nada! E vamos evitar mais bebês ruivos nessa família...

Nayla subiu no meu colo maliciosa e começou a me beijar. Desceu a mão até a base da minha camiseta e me deixei despir por ela. Tirei a minha camisa dela e...

Raios! De novo sem sutiã? Essa porra não se convence que tem usar? Quis  cobrir os seus seios mais a situação só ficava mais embaraçosa.

— Pode continuar!— Samuel cobriu os ouvidos para não ouvir os falsos gemidos dela. Falsos?— Que inferno! Eu saio!

Samuel levantou com o travesseiro na mão e bateu a porta com violência atrás de si. Ele nem precisava fazer isso. Seja lá o que me deram, não deixaria que, como ele disse, fizesse bebês ruivos. Mas, continuei a beijar cada parte daquela garota. Sabia dar prazer à uma mulher de outras maneiras.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora