CAPÍTULO 32

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Nunca entendi por que tudo que era macabro e sinistro tinha que acontecer a noite. Será que se os mesmos acontecimentos  acontecessem de dia não teriam o mesmo impacto? Os melhores filmes de terror,  as  lendas mais assustadoras, os pesadelos. Já parou pra pensar que eles nunca acontecem durante o dia?

Mas, bastou a luz ser apagada da minha frente por aquele capuz para entender o quanto a escuridão em si só já é muito assustadora. Sentir o mundo a sua volta se mover nas sombras sem o seu controle, causa uma ansiedade sem dimensões. E nesse momento, aqueles meus abençoados remédios me faziam falta. As mãos unidas pelas fitas de nylon que já começavam a machucar meus pulsos e repousavam sobre meu colo, denunciavam que o que estava por vir era muito macabro.  Digno talvez, de um pesadelo pior do que já pudesse ter tido antes. E acreditem, estava ainda para acontecer um que superasse o fundo daquele rio...

O breque brusco do carro fazendo meu corpo ser projetado de encontro ao banco da frente. A pegada forte do capanga de Lorenzo me arrancando do carro e o cheiro da morte invadindo o meu nariz provavam isso, deixando bem claro, que o meu medo ali, se fazia jus a situação. Meu lado esquerdo do corpo ainda queimava do ferimento da bala. Já tinha parado de sangrar, mas podia sentir a roupa úmida do sangue e existe uma certa dificuldade em caminhar por causa do ferimento. Mesmo assim, engoli a dor e segui o caminho indicado por aquele estranho que me guiava sem protestar.

— Cuide dele!— ouço a voz alterada do homem ao meu lado ordenar a alguém. 

— Não sou médico! Sou biomédico! E ele talvez,  precise de um médico, não de alguém que faça pesquisas. — era Samuel protestando.

— Se gosta dele, conserta ele! — a voz de Lorenzo reafirmou o comando mais autoritário do que antes. — Quando terminar, me avise. Vou avisar que chegamos.

Ouvir uma porta bater com força depois de escutar passos se afastando. Tinha certeza de estar sozinho com Samuel.  Estava louco pra quebrar a cara daquele traidor. Mostrar pra ele que pra quem dizia me amar, ele estava fazendo o verdadeiro papel de idiota! Porém...

Quando o capuz foi arrancado de mim por ele e tive que  ambientalizar meus olhos  com a luminosidade do lugar com algumas piscadelas, desanuviando a visão em meu redor, meu coração gelou. O ambiente não era estranho. Na verdade, era uma réplica perfeita e bem maior dos containers de Pinheiral. Duas macas frias se entendiam ao  meu lado. O colchão delas, era o aço do qual eram feitas e as canaletas ao lado de cada uma denunciavam o seu objetivo.  Limpar a bagunça que um corpo pode fazer.

O suor começou a escorrer do meu rosto ao ver ele pegar uma bandeja com instrumentos cirúrgicos e colocar sobre uma delas e me apontar a outra para que, me deitasse? Samuel não é médico! A pesquisa sobre corpos mortos é uma de sua especialidade e ali, naquela sala mórbida ele queria o quê? Me dissecar?

— Tira a camisa e senta de uma vez... — Ele falou sem muita paciência enquanto cortou o  nylon com uma tesoura e quando me vi livre, não desperdicei a oportunidade. Acertei um murro bem dado na cara dele fazendo ir de encontro ao chão.  — Tá maluco? — ele gritou levando a mão ao canto da boca limpando o sangue que fiz brotar com minha raiva. 

— Maluco? Não.  Estou possesso com você! — Peguei o bisturi da bandeja e já me coloquei em defesa.

— Eu não tive escolha! Para e pensa um pouquinho! Se eu não estivesse aqui, quem estaria?— ele levantou do chão com cautela, sabe o quanto o instrumento é perigoso e manteve uma distância segura de mim. 

— Tudo na vida tem uma escolha! E você já fez a sua? Você escolheu o lado da bandidagem? — comecei a perceber que ele estava entre eu e a porta e com certeza saberia me desarmar de um ataque contra si. — Sabe o quê eles fazem aqui?

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora