Capítulo 22

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Ensaiei umas dez vezes o que dizer a Samuel diante ao espelho. Praticamente escrevi um discurso como se fosse apresentar uma causa importante em um grande tribunal. Palavras decoradas, escolhidas a dedo mediante uma breve pesquisa sobre o assunto na Internet. Não queria magoá-lo. Mas queria deixar bem claro, qual era realmente a minha posição sobre a sua relação de amizade comigo. Por que no fundo, ainda acredito que seja só isso que exista entre nós dois. Amor de irmãos, mais nada.

Quando achei estar preparado, dei um beijo bem safado em Nayla, depois da transa de hoje, parece que não podemos nos desgrudar mais. Então, pedi que não fugisse de mim e que logo estaria de volta com tudo resolvido. 

No breve caminho até a casa dele, me senti indo de encontro ao apocalipse. Tudo era um mistério e não tinha o menor controle da situação que poderia desencadear. Minha cabeça está uma bagunça. Cheia de imagens  de bons momentos que compartilhamos e que não podem ser assim, jogados ao vento por uma briga besta por causa de uma mulher.

Antes de descer, depois de muito tempo, me benzi novamente pedindo ao universo luz as minhas palavras. Que elas não ofendam, não machuquem e que principalmente dessem clareza a tudo que quero expressar. Mas, quando Davi abriu aquela porta, tudo que planejei se perdeu num buraco negro na minha mente...

— O que você quer? — já era de esperar que não fosse bem recebido por ele.

— Boa noite... — Não sei a mãe deles, mas a minha me deu uma boa educação.  — Eu gostaria de falar com o Samuel.

— Vocês não tem mais telefone? — foi estúpido.

— Nós brigamos... 

— Claro, deve ser por isso que ele passou como um furacão por nós e se infurnou naquele quarto mais cedo. — Deu uma risada. — Essa foi a melhor notícia da semana! Boa noite!

— Davi, eu preciso falar  com ele! — coloquei o pé no marco da porta impedindo que a fechasse  na minha cara. 

— Liga para ele, oras! — tentou forçar a porta mais uma vez.

— Davi, não é algo que eu possa falar por telefone!

Meu Deus, que saco! Parece que o irmão dele é um adolescente que precisa ser protegido do bicho papão! Davi sabia que eu não arredaria o pé dali sem ter  conversado com o ruivo. Sabe da minha persistência. Arrependido já de antemão,  cedeu...

— Ok. Sem encrencas! — me deu passagem.

Entrei e vi Samira levantar do sofá e vir em minha direção feliz com minha presença. Ela é uma verdadeira flor do deserto. Mesmo com o lenço cobrindo seus cabelos, aquelas esmeraldas que eram seus olhos poderiam deixar qualquer um sem norte. Ela não andava, serpenteava o corpo com uma sensualidade indescritível. Eu sabia que isso era por que ela adora dançar, e ver ela apresentar a sua dança do ventre com a espada em sua cabeça me rendeu um olho roxo uma vez.

Foi a primeira briga feia que tive com Samuel. Mas, os sonhos loucos que tive depois com ela recompensaram cada minuto de dor que sofri. Poderia me casar com ela. Faria meu amigo feliz e Davi me manteria nos eixos. Mas, a danada ainda é de menor e se eu tocar um dedo meu nela, Sam me mata. Preferi afastar todos os pensamentos indecentes que brotaram no meu cérebro com a visão dela a minha frente antes que tudo ficasse ainda mais complicado para o meu lado.

Provavelmente, ela já sabe da  briga entre eu e o irmão dela, os motivos e quanto Sam deve estar ferido por isso. Ou pelo menos, espero que esteja. Eles são inseparáveis! Verdadeiro exemplos de irmãos que se amam. 

— Dr Leonardo, que satisfação...

— Samira, volte aos seus afazeres! — Davi impediu a aproximação da garota.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora