Capítulo 21

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Deixei que a água fria abrandasse aquele fogo que Nayla despertou em mim. Ao contrário do que pensei, transar com ela só me deixou mais atiçado. Pelo visto, obedeço mais as ordens dela do que o cachorro preso na lavanderia.

E sobre Samuel...

O que eu vou dizer pra ele? Que a minha namorada acha que está afim de mim? E se ele confirmar? O que eu digo pra ele? Não vivo sem a amizade dele. Já comprovei isso. Mas, abordar esse assunto...

- Você está ficando louco, Léo? Nem parece que conhece tão bem o seu melhor amigo! - indaguei a minha imagem diante ao espelho.

Avaliei mentalmente tudo o que ele fez por mim todos esses anos. As brigas que tivemos. As dores que passamos juntos. Amores perdidos, família, trabalho. E as bebedeiras e garotas? Não iria terminar uma amizade assim por causa de uma ideia estúpida de uma pessoa que mal conheço.

Resolvi descer e ter uma conversa franca e aberta com ele. Sem piadas. Sem brincadeiras. Sem...

- Mas, que diabos está acontecendo por aqui? - parei diante do último degrau da escadaria olhando a bagunça que se apresentou à minha frente.

- Estamos caçando seus fantasmas! - Sam recolocou a televisão no lugar.

- Fantasmas? Como assim? E precisa do cachorro? - Duque pareceu perceber que era com ele a bronca. Latiu e veio em minha direção. - Alguém segura esse cachorro!

Ninguém teve tempo de fazer nada. Ele apoiou as patas no meu ombro e não contive o peso dele me deixando cair para trás. Agora, eu tinha um demônio de olhos azuis lambendo a minha cara com extrema felicidade. Espalhando aquela baba por todo meu rosto mesmo eu implorando para que ele parasse com aquilo.

- Duque, senta! - Sam falou firme e ele obedeceu. - Vem cá garoto!

O cão fez festa ao lado dele. Ganhou um petisco e logo voltou a farejar as coisas como se estivesse procurando algo. Logo latiu diante de um vaso. Caríssimo por sinal. Fiquei todo arrepiado ao ver Samuel pegar a peça e virar ela de cabeça para baixo diante do cachorro.

- Cara, você tem ideia de quanto isso custa? Esse cachorro não pode ficar aqui dentro de casa! - olhei à minha volta sentindo falta da ruiva. -E onde está a Nayla?

- Bom, primeiro o cachorro é treinado. Sabe o que estou procurando. Sente o cheiro do ser humano nas partes mais escondidas e logo... -- se aproximou de mim, estendeu a mão para me ajudar a levantar e colocou duas pequenas peças negras em minha mão. - Seus fantasmas!

- Microfones? Como eles pararam dentro do vaso? - observei as minúsculas pecinhas que me entregou.

- Me diz você, quem mais tem acesso a casa?

- Talvez, a diarista? A casa ficou fechada uma semana inteira porque estávamos envolvidos com o casamento da Any, então... - saber que alguém nos vigiava fez um calafrio percorrer toda minha espinha.

- Uma estava no vaso, a outra ali na estante, entre os livros que provavelmente vocês nunca leram!

- Mas, por quê? E a Nayla?

- Segundo... Tudo o que o cachorro come, sai. E alguém tem que limpar a sujeira! - Samuel deu um petisco pro cachorro e voltou a arrumar as coisas nos seus devidos lugares. - Eu não iria limpar! O cachorro não é meu!

Olhei indignado os microfones. Lembrei de Lourdes fofocando tudo para sei lá quem e comecei a acreditar que nada do que ela fez não tinha dedinho de uma segunda ou terceira pessoa. Meu coração apertou sabendo que nunca vamos ter um momento de sossego.

- Por falar em casamento... Liguei pra Any...

- Eu falei pra não fazer isso! Não vou desenterrar meu irmão! Isso é um absurdo!

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora