Capítulo 19

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Abri aquela porta com o coração na mão. Pronto a pular e fugir para a rua quando tivesse chance, deixando-me como uma casca oca diante da situação que teria que enfrentar. Já sabia quem era do outro lado e não estava pronto para o que pudesse acontecer. Samuel quis fugir como um rato pela porta dos fundos. Não o culpo, ele vai ser com certeza a maior vítima de Lorenzo. A rivalidade deles é enorme. E evitar um confronto entre os dois é poupar vidas. Porém, Nayla o impediu.

— Bom dia!— Lorenzo falou assim que abri a porta com um enorme sorriso no rosto.

— Bom dia...

Aquilo não parecia ser real. Algo muito falso montado somente para invadir o território inimigo. Um cavalo de troia espanhol. Ele passou por mim com uma caixa nas mãos e a depositou em cima do passa prato com extremo cuidado. 

— Bom dia?— encarou os dois ruivos desconfiados com sua felicidade.

— Bom dia...— eles disseram ao mesmo tempo.

— Por que  você sempre tem que mentir  pra mim?— a pergunta era direta a Samuel.

— Mentir? Por que eu mentiria pra você? — se afastou dele com cautela imaginando o quanto de raiva havia atrás daquele sorriso falso. 

— Quem está pagando você?— a voz era firme e o tom mudou para severo.

— Do que você está falando, Lorenzo?— me meti na conversa.

— Seu amigo vai replicar a droga! Tudo que pediu é pra isso. Já sabia da fórmula, Samuel?

— Por favor..—  falou com desdém e logo se aproximou da caixa,  a abriu conferindo o que ela continha e respirou um tanto desapontado. 

Era óbvio que se Samuel tivesse metade da fórmula e um frasco dela pronto, replicar seria brincadeira de criança. E talvez tenha sido isso que tenha se passado na  cabeça de Lorenzo, nos dando tempo suficiente para que ele fizesse o trabalho sujo de Diogo. Nesse momento, me senti um idiota. Fui enganado por usar o meu amigo a favor daquele crápula. 

— Eu não pedi isso! 

— São ingredientes da minha fórmula! Como você...

— Lorenzo, o que está escondendo de nós? — falei vendo que tanto Nayla como Samuel estavam encurralados por ele.

— Quer um conselho, boneca? Sai agora dessa casa e aproveita o máximo sua liberdade!— Lorenzo prensou Samuel na bancada com seu corpo e afundou a mão direita em sua garganta apertando-a sem o menor pudor.— Eu me acerto com esse idiota! Não preciso mais da sua ajuda!

— Solta o Samuel! E a Nayla não vai a lugar nenhum! A menos que queira! E você está louco? — Tentei o afastar do meu amigo.

— Não Léo, ele é um dos interessados na droga...— pelo aperto em seu pescoço, a voz de Samuel saiu falha.

— Lorenzo, solta ele!— Tentei o puxar pelo braço, mas levei um empurrão. 

— Pelo visto, o dinheiro acabou, né?— Sam também tentou se livrar da pegada dele sem sucesso. — Se o Diogo não quis te obedecer, por que acha que faria isso?

As palavras de Samuel clareiam o caminho. Por mais frio que Lorenzo fosse com as tragédias da sua profissão, ver com indiferença o cadáver de Diogo no chão só demonstrou que ele fora um desperdício. Ele não cedeu às suas pressões. Pagou o preço. O que talvez ele não esperava, era que sua segunda opção estivesse comigo. E que como fomos burros o suficiente para não perceber sua jogada, ampliando para uma terceira. Samuel.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora