Capítulo 27

49 7 26
                                    

Um silêncio mórbido se abateu sobre aquele trajeto.  Nem pareciamos respirar. Os olhares estavam compenetrados na estrada e o medo ritmando nossos corações.  A incerteza era um fantasma que se fazia de quinto passageiro...

Por isso, quando o carro parou diante do condomínio, Nayla debruçou sobre o banco da frente e falou baixo ao ouvido de Any. 

— Então, mamãe? A gente já pode entrar?

— Sem bagunça! E lembre-se que esta casa é minha e eu exijo respeito! — a fala dela destoava uma certa sacasticidade irritante.

Eu e Nayla descemos, nos damos as mãos e já estávamos quase na porta de casa quando lembrei de um detalhe extremamente importante.  Tínhamos violado um túmulo com um propósito.  Havíamos conseguido o material genético para analisar.  Porém...

— Que inferno! — soquei a porta com força fazendo Nayla arregalar os olhos assustada em minha direção. 

— Mas, que diabos foi isso?

— Entra e me espera no quarto, eu preciso resolver uma coisa com um mentiroso ordinário!

— Do quê você tá falando, Léo?

— Por favor, amor... Ao menos uma vez na vida faz o que estou te pedindo! — juntei as mãos lhe implorando. Tenho certeza que ela não vai querer ver o que vou fazer.

— Tudo bem… — ela segurou meu rosto entre as mãos e me beijou de leve.

Quando ela passou para o lado de dentro voltei ao carro marchando com uma fúria descomunal.  Iria quebrar a cara daquele idiota! Ele me amava? Não acreditava mais nisso!

Dei a volta no carro e parei do lado do motorista batendo na lataria do carro chamando sua atenção. Ele parecia acertar alguns detalhes da sua traição com Any. 

— Sai desse carro! Vem aqui fora e me enfrenta como homem! — Gritei com Samuel quando ele me olhou com um sorriso no rosto.

Dei espaço para que abrisse a porta e descesse. Ele colocou as mãos na cintura e me encarou. Vingança! Era isso que eu via em seu olhar. Como pude ser tão estúpido! Eles tinham tudo minuciosamente calculado e eu nem percebi.

— Eu pensei que desconfiaria mais cedo! — o sorriso dele me deixava cada vez mais furioso. 

— Samuel... Eu deveria matar você! — cuspi as palavras diante a risada dele. — Como pode?

— "Samuel! Isso é ilegal! Minha mãe pode fazer isso! Minha mãe pode fazer aquilo!" — ele imitou a minha voz. Mas, tenho absoluta certeza de não falar daquele jeito ridículo! — Agora, tudo é culpa minha! Se alguém sair prejudicado nessa história,  essa pessoa será eu!

— Léo,  por favor! Entra que temos outros assuntos para tratar mais importantes que essa picuinha que você quer fazer com Sam.  — Any falou escorada na carroceria.

— Como puderam? Não era mais fácil pedir? — ainda tentei argumentar o quanto me sentia traído pelos dois.

— Tenho que colocar no relatório quem forneceu o material  genético. Você faria isso de bom grado? — Samuel encostado no carro jogou as mãos a sua frente tentando me explicar.

— E vai dizer o que? Que me agarrou à força? Que sou seu amante? Caralho! Percebeu o que fez? — passei as mãos pelos cabelos, inconformado sem medir as palavras que lhe disse.

— Amante meu? Que honra! — Samuel brincou com meu queixo e lhe dei um tapa na mão o afastando.

— É sério, Samuel! Isso tem nome! Se chama traição! Me devolve! — estendi a mão esperando que colocasse nela o que roubou.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora