Capítulo 17

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Desci lentamente as escadas. Não porque tivesse medo de escorregar e cair novamente. Mas, com um sério intuito de flagrar uma cena que não gostaria nem um pouco de presenciar. A cada passo, sentia o coração diminuir o ritmo para que o silêncio do trajeto fosse completo.

Nem sequer me dava o luxo de respirar para que conseguisse captar uma risada, um gemido, um toque de lábios ou qualquer outro detalhe que denunciasse uma traição. Isso era absurdo, eu sei. Mas, estava completamente dominado por um sentimento que nunca havia experimentado com tanta intensidade na vida. Ciúmes.

Mas, não haviam ruídos. Parei dois degraus antes de poder contemplar a sala. Tenho dois fones de ouvido. Então,  não ouvir  a televisão era previsto.

Não  conseguia ouvir risadas, xingamentos, nem sequer um sussurro. Isso era anormal. Ninguém joga um jogo como aquele nesse absoluto silêncio. Contive a respiração fazendo que o silêncio à minha volta fosse total e delator. Nada. Decidi entrar de rompante, mesmo o coração vacilando.

A TV estava desligada e nem sinal de Samuel ou Nayla por ali. Por um momento, o cômodo da casa onde poderiam estar, que surgiu em minha mente, embrulhou meu estômago.  Disse que ele poderia dormir em qualquer quarto lá em cima. E para descer até a cozinha, Nayla passaria por dois...

Subi os degraus com mais fervor agora. Quase de dois em dois. Abri devagar a  porta do primeiro, era da Any,  estava completamente vazio. Parei diante a porta do segundo. O coração já batendo na garganta com a mão na fechadura tentando encontrar coragem para abrir a porta. Eles não poderiam fazer isso comigo!

Contei até três quase prestes a infartar e abri a porta de rompante. O quarto estava na penumbra e a cama estava ocupada. Não dava para perceber se por um ou dois corpos. Então,  decidi acabar de vez com o mistério. Caminhei lentamente até a lateral da cama e puxei com força as cobertas...

O gato foi o primeiro a demonstrar espanto soltando um grunhido alto com o susto. Foi parar no chão e andava de um lado para outro mostrando as presas assustado com o jeito que o acordei. Samuel, como dormia todo enrolado no edredom foi arrastado e levantou o corpo de sobressalto sentando na cama.

— Tá maluco, cara!— esfregou os olhos tentando entender o que estava acontecendo.

— Me desculpe! — tinha dois sentimentos brigando dentro de mim quando vi a sandice que havia cometido. Vergonha e raiva.

— O que foi que aconteceu?— Sam logo se endireitou escorando na cabeceira da cama tentando acordar de vez.

— Você disse que iria jogar...

— É... Eu disse...— passou a mão no rosto tentando ler na minha fisionomia assustada, o que eu queria saber dele. — Eu tô acordado a mais de dois dias. Não deu para me concentrar em nada na tela e preferi vir dormir. — acho que a cara de idiota a qual estava, deveria estar hilaria.— Estou  roncando tão alto assim que não deixo vocês dormirem?

— Não escutei você roncar...— deixei o meu corpo cair sentado pesadamente na cama ao seu lado.

— Então...

— A Nayla disse que vinha te procurar... — escorei do seu lado na cabeceira também.

— Por quê?

— Nós brigamos...— puxei as cobertas sobre o meu corpo.

Não seria novidade dormirmos na mesma cama. Sempre fazíamos isso quando tínhamos segredos e novas descobertas para contar um para o outro. E nunca houve entre nós, malícia com tal atitude.

— Posso saber o motivo?— ele se escorou no meu ombro tentando manter os olhos abertos. Duvido que conseguiria ficar acordado até contar tudo que aconteceu.

Armadilha do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora