Capítulo 1

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Raios de sol adentravam a janela, minha cabeça latejava por algum motivo que eu esqueci entre as garrafas de álcool espalhadas a minha volta; senti meu estômago embrulhar e em um pulo eu estava no banheiro vomitando todo o gin, whisky e vodca da noite anterior. Meu reflexo no espelho mostrava o quão acabada eu estava, cabelos embaraçados e sujos de algo que, por Deus, eu não quis saber o que era, a maquiagem borrada e o olhar desesperançoso:

- Você é patética, Cecília.

Murmurei.

Odiava me sentir daquela forma, mas estava fraca demais para lidar com a vida no momento. Viver é como ser levada por uma correnteza muito forte, em algum momento você perde a vontade de lutar e só flutua em direção a um penhasco.

Deixei a água fria correr pelo meu corpo, meus pelos se arrepiaram e não contive o gritinho, mas eu merecia aquela punição. Quando foi que eu parei de lutar? Quando eu parei de ser eu mesma? Quando me cansei de tentar? Sentia saudade de Cecília forte e determinada que acreditava com todo o seu coração que o mundo se desdobraria em maravilhas para ela, aquela Cecília que acreditou que, se a Tiana conquistou seu império, beijou um sapo e realizou seus sonhos, ela também poderia.

Tiana sentiria vergonha de mim agora.

Veja bem, eu tinha 24 anos quando deixei o Brasil e todo o passado de Cecília Oliveira para trás, eu estava determinada a fazer a vida nos Estados Unidos valer a pena e isso tudo graças à Cody Harman, o príncipe encantando que conheci na internet e me apaixonei perdidamente, bom, assim como o Príncipe Naveen, ele era um fanfarrão, adorava festas, músicas e não trabalhar. Um belo de um partidão. E então, um belo dia, apenas quatro meses após me mudar para Baton Rouge, ele desapareceu com todas as minhas coisas. O apartamento estava vazio e ninguém conhecia um homem chamado Cody Harman, não havia mais redes sociais ou número de telefone.

Cody virou um fantasma que me assombrou por muito, muito tempo.

Ah, mas esse é só o começo da minha trágica história.

Recorri a polícia e amigos mais próximos - ou eu pensei que eram próximos -, mas ninguém pôde me ajudar; não tinha um centavo no bolso quando perdi o meu emprego de professora temporária, apenas uma semana depois do ocorrido.

Desgraça pouca é bobagem e eu fui expulsa da casa, pois não pude pagar o aluguel.

Pulei de um emprego a outro por semanas, passei noites em abrigos, quartos apertados e mofados nos fundos de bares; estava, finalmente, pronta para desistir. Assim como a minha vida no Brasil eu havia estragado tudo. Estava pronta para recorrer ao Consulado Brasileiro quando um anjo apareceu em minha vida com seus cabelos castanhos e sorriso doce. Joshua Rosza me ofereceu abrigo em sua casa em Nova Orleans, disse que poderia me ajudar se eu, claro, quisesse. E eu não sei vocês, meus amigos, mas quando todas as portas e janelas do universo se fecham para você, você - como um bom brasileiro - pula o muro.

A minha jornada em Nova Orleans começou com um emprego temporário no Rousseau 's, festas alegóricas e músicas que me faziam dançar pelas ruas. Josh era o melhor colega de quarto do mundo inteiro e pela primeira vez na vida, eu acreditei que tudo ficaria bem.

Como eu disse, desgraça pouca é bo-ba-gem.

E mais uma vez, tudo deu errado.

Josh estava envolvido com pessoas perigosas e mesmo que ele não me contasse toda a verdade, eu sabia que aquele tipo de gente não lhe dava a certeza de voltar para casa. Ele foi ficando cada vez mais distante, frio e ausente. Sumia por dias e quando estava perto de mim surtava, esmurrava as paredes e fugia. Costumava voltar no comecinho da manhã, as roupas manchadas de sangue se tornaram costumeiras no cesto de roupas sujas e o nome de Marcel Gerard sempre aparecia em suas conversas no telefone. Até que ele me contou a verdade...

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora