Capítulo 32

566 44 9
                                    

– Por ora, observe.

Foi tudo o que disse quando a porta se abriu e uma dor de cabeça aguda atrapalhou os meus sentidos, sequer consegui erguer o rosto para ver o meu sequestrador, mas notei que seus passos eram lentos. Sapatos caros. Perfume enjoativo. E ele não estava sozinho, não, havia mais três pessoas com ele que murmuravam em uma língua antiga.

No quesito "sequestro" eu já posso me considerar pós-graduada, então abaixei o rosto e fiquei quietinha.

O último deles lançou uma bolsa de sangue quase vazia em minha frente. O último sequestro tinha mais comida. Sacudi as correntes em resposta, tentei lutar contra a dor, mas só piorou tudo. Ainda que as correntes não fossem um problema, eu teria que esticar o meu braço através da luz solar para pegá-la. Eu poderia esperar até a noite, mas provavelmente o sangue estaria estragado.

Espelho, espelho meu, existe alguém mais azarada do que eu?

Uma bandeja de metal foi colocada aos pés de Aslin, ela não se moveu ou levantou a cabeça, seus batimentos eram mínimos – há poucos minutos estava agitada, mas agora parecia desacordada, quase morta. Ele aproximou mais a bandeja em seus pés – ele estava com medo.

Quando a porta se fechou, ela ergueu a cabeça lentamente:

– Bando de filho da puta – rosnou –.

Ela usou a perna para puxar a bandeja para mais perto, com os pulsos ainda presos ficou de joelhos e levou a boca até a bandeja, comendo como um animal. Meu estômago revirou, senti pena dela. Minha garganta estava seca quando perguntei:

– Há quanto tempo você está aqui?

Aslin parou de comer, limpou a boca com a manga do casaco e jogou o cabelo para trás, sua postura impecável mesmo de joelhos, mesmo comendo como uma criatura.

– O tempo é muito relativo aqui, mas acho que alguns meses.

– Porque eles querem você?

– Você não vai comer?

– Não alcanço – murmurei –.

– Queria poder ajudar, mas são objetos negros – ela sacudiu as correntes –, grilhões malditos, precisamente, não consigo usar magia.

Eu não fiz questão de responder. Olhei em volta buscando uma saída ou alternativa, qualquer coisa que pudesse me ajudar a sair daquele maldito lugar. As paredes eram de pedra natural e estava frio, úmido até. Provavelmente havia água corrente por perto – eu não poderia fazer muita coisa com essa informação, mas a bruxa, por outro lado...

Havia mais três celas além da minha, contando com a de Aslin – todas estavam com as portas abertas. Se todas as correntes são objetos negros, o que quer que isso seja, imagino que as portas abertas não sejam um problema. Não havia escapatória.

Suspirei.

– Não há como sair – ela falou –, eu já tentei de tudo.

– Porque você está aqui?

Ela não respondeu.

– Se não me contar, eu não tenho como te ajudar.

– A "caça às bruxas" formou uma comitiva e estão exterminando os vampiros mais antigos e poderosos, um a um. Recentemente, chegaram ao infeliz conhecimento de que, ao matar um original, toda a linhagem que aquele vampiro criou é exterminada.

– Qual é o seu papel nisso tudo?

– Eu sou a única coisa que pode matar os originais.

– Você?

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora