Capítulo 20

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Há alguns meses, eu pensava que viver era como ser levada por uma correnteza muito forte, e em algum momento você perdia a vontade de lutar e só flutuava em direção a um penhasco. Bom, eu estava errada. O penhasco deixou de existir e nesse momento, a vida é infinitamente brilhante.

Tudo estava bem.

A marca não me incomodava há dias e mesmo sua tonalidade variando sempre que eu me alimentava de sangue humano – isso não era um problema.

Dia após dia, Klaus me ensinava algo sobre a minha nova natureza, apesar de eu notar a incerteza em seus olhos ele fazia o melhor que podia para me ensinar. Freya não insistiu mais no assunto do feitiço para remover a marca, e sem a importunação dos Mikaelsons as manhãs se abriam em raios de sol e pássaros cantando.

Tudo estava muito bem.

Exceto, talvez, pela... sensação de...

morte?

Não! Isso é loucura, eu estava realmente muito, muito bem.

Mas quando a noite caía e não havia ninguém por perto, eu sentia o frio e a solidão de estar presa em um caixão. A terra úmida envolvendo o meu corpo e vermes devorando lentamente a minha carne, céus, é tão frio.

Os calafrios...

E eu gritava.

Minhas unhas arranhavam a madeira, por vezes eu arranhava tão forte que as unhas quebravam, mas eu não parava, não, eu continuava arranhando, arranhando, arranhando. Cavando minha saída daquele túmulo invisível que me afundava mais e mais em silêncio e frio.

- Cece?

Fui puxada de volta à realidade, meu corpo se arrepiava com os calafrios e a sensação de terra cobrindo meu corpo. Senti a terra em minha garganta. Eu estava de frente para um espelho e os olhos fixos ardiam por não piscarem há muito tempo:

- Cece, o que houve?

Paralisada em frente ao espelho, não vi a pessoa se aproximando.

Gritos estridentes ecoaram pela sala, agora, vazia.

- Cecília, acorde.

O meu reflexo despertou, ela esmurrava o espelho, veias saltando de sua garganta e o rosto vermelho por gritar tanto – mas eu não a ouvia, os gritos na sala não eram meus –. Lágrimas escorriam por suas bochechas e ela implorava por ajuda. Uma mão tocou o meu ombro, e ele estava ao meu lado.

Murilo me encarava com o maldito sorriso no rosto, não, não maldito, seu lindo sorriso. O sorriso que por muito tempo me apaixonou. Involuntariamente eu sorri de volta, ele tomou minha mão delicadamente e a beijou, como a bosta de um cavalheiro – ele sabia que eu gostava dos vilões?

Klaus!

Ah, onde está Klaus?

Murilo segurou o meu rosto e encostou a testa na minha:

- Estou tão feliz que esteja aqui, - murmurou -, finalmente iremos realizar o nosso sonho.

- Eu também estou feliz, - sorri, mesmo sentindo o gosto amargo da mentira -, ficaremos juntos para sempre.

- Exato - sua mão acariciou a minha bochecha -.

- Muri, o que está acontecendo comigo? - minha voz soou desesperada -.

- Você é especial, Cece. Precisava de algo especial e eu lhe dei isso.

- Eu me sinto tão estranha, - o desespero deu espaço para o choro -, como se eu estivesse olhando pela janela e alguém dentro da casa usava meu rosto para viver a minha vida. Entende o que quero dizer?

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora