Capítulo 37

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A nuvem negra estava quase nos alcançando quando chegamos à mansão, o som que emanava daquela coisa era estridente e enlouquecedor, meus tímpanos doíam e fios de sangue escapavam dos ouvidos de Aslin.

Avistei Hope na varanda, os olhos fixos no céu enquanto buscava a causa do barulho, com as mãozinhas nos ouvidos ela se curvou sobre a barriga no momento em que uma criatura mergulhou do céu e voo na direção dela – a puxei para o lado no instante em que a coisa se chocou contra a parede explodindo em sangue e penas.

Corvos.

– Que inferno está acontecendo? – Kol ralhou –. Ah, merda!

– Fique com ela – entreguei Hope –.

Sua voz era baixa e seguia um ritmo melancólico, os olhos estavam fechados e as mãos postas como um triângulo, mas sem encostar um dedo no outro – o sangue de seus ouvidos havia parado, mas seu nariz sangrava:

– Você precisa parar – murmurei –.

– Entre na casa, Cecília – circulus praesidis silere omnia mala appropinquantia

– Aslin, o artefato ainda te impede de manusear a magia, isso pode te matar.

A nuvem estava há poucos metros, o barulho desorientador não passava do grasnar dos corvos – muitos e muitos pássaros em volume máximo. Ela me ignorou, sua voz entoando o feitiço cada vez mais alto, eles estavam bem em nossa frente – fechei os olhos esperando o baque.

Em massa, os corvos se chocaram contra o feitiço que agia como uma barreira ao nosso redor, os corpos colidindo e o sangue respingando na parede invisível que nos protegia – mas Aslin estava fraca, ela rosnou entredentes, os olhos apertados, seus joelhos fraquejaram e seus pés começaram a escorregar, a barreira oscilou.

Os corvos investindo continuamente contra o feitiço, um ou outro atravessando a barreira e colidindo no chão. Coloquei minhas mãos em suas costas servindo de apoio, ainda assim estávamos sendo empurradas.

– Aguente firme, por favor, você não está sozinha – sussurrei –.

O encantamento se solidificou e a barreira se sustentou, olhei por cima do ombro e Davina e Freya haviam se juntado à nós murmurando as mesmas palavras que Aslin usava, senti seus ombros relaxarem – Kol havia desaparecido com Hope, fiquei aliviada por ela não ter que presenciar aquilo.

O suor escorria em meu pescoço, Aslin estava trêmula e pálida e os corvos mortos se amontoavam atrás da barreira, o cheiro de carne em decomposição impregnado no ar, o grasnar enlouquecedor ainda parecia longe de acabar – ninguém sabe por quanto tempo ficamos assim, meus músculos tremiam quando o silêncio estrondoso nos atingiu tão rápido que só notamos quando os corvos pararam de colidir na barreira, desaparecendo.

Tirei minhas mãos de suas costas com cuidado, a mancha de sangue em sua blusa evidenciando que o artefato se afundou mais em sua pele, Aslin estava pálida, lábios arroxeados e o cabelo colado na testa – me sentei na escada da varanda, sem fôlego. Ela endireitou a coluna e quando deu um passo, seu corpo desabou.

Elijah a pegou antes que o corpo tocasse o chão, os olhos presos nos olhos dela, desconcertado pela ação repentina, ele a ajudou a se firmar de pé sem tirar as mãos dela realmente. A confusão presente em sua expressão, Aslin tentou se afastar, mas ele não permitiu, tirou o lenço do bolso e a ofereceu que pegou relutante.

– O que foi isso? – Freya perguntou assustada –.

– Isso é coisa de bruxa – falou Marcel e seu tom era sugestivo –.

– O que está insinuando? – Perguntei –.

– Eu não insinuei nada, – Marcel ergueu as mãos –, mas é uma coincidência e tanto, não acha?

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora