Capítulo 51

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Apertei meus olhos diante da claridade intensa, borrões de luz tremeluzindo contra o meu rosto provocando uma dor aguda nos olhos, meu rosto estava molhado – esfreguei os dedos, um corte já cicatrizado havia manchado o meu cabelo de sangue –, senti um gosto amargo na boca e o cheiro de sangue pairando no ar.

Quando abri completamente os meus olhos não havia nada além da escuridão. Busquei a coisa que me atingiu, mas eu estava imobilizada e tudo ao meu redor parecia vivo demais como se eu pudesse sentir o mundo inteiro criar vida com o meu toque, muito mais intenso e incômodo do que quando me transformei em vampira.

Não.

Ouço passos apressados pisoteando folhas secas, Aslin surgiu no meu campo de visão, os cabelos desgrenhados, um machucado feio na bochecha e o vestido preto de baile, acinzentado pela poeira. Ela se abaixou ao meu lado:

– Cece, você está bem?

– O que aconteceu? – perguntei, minha língua parecia estranha na minha boca –.

– Você vai ficar bem – disse, sem conseguir me encarar –.

– Aslin, o que você fez comigo?

– Nada – disse, soando ofendida –, quer dizer, eu fiz o que tinha que ser feito.

– O quê?

– Não temos tempo para isso – sussurrou –, precisamos continuar–

– Você fez isso comigo desacordada? – meu coração pesou –.

– Eu lancei o feitiço da imortalidade – disse, eu estava chocada –, porque sabia que você ia desistir, eu ouvi a sua conversa com o Klaus, mas esse é o único jeito.

Eu me sentia suja.

– Não acredito que você fez isso comigo – havia lágrimas em meus olhos –, você me traiu.

– O que você queria que eu fizesse, Cecília? – ela cruzou os braços –. Cora está cada vez mais poderosa, ela espera um momento de fragilidade para nos destruir ou você acha que ela vai esperar sentada a sua transformação para matá-la?

– Eu confiei em você e só queria que confiasse em mim – rosnei –.

– Já está feito – ela esfregou as mãos no vestido –, temos que continuar o nosso plano.

Deus, o que foi que eu fiz?

– Me sinto estranha – murmurei –.

– Mas é claro que se sente estranha, querida, você é uma versão melhorada de si mesma – empinou o queixo –.

– Não, eu não consigo me mover – falei, o desespero me dominando –.

– Eu sei – falou casualmente –.

Tentei me mover, meus braços estavam estirados no chão, presos ao nada. Velas se acenderam por todo o lugar, não estávamos na masmorra, mas em uma ruína do que um dia podia ter sido uma casa, mas agora só restou o piso gasto e sujo, sem paredes ou telhado:

– Aslin, o que está acontecendo?

Olhei de soslaio para os lados, eu estava deitada sob um desenho feito em tinta branca, ramos entrelaçados como raízes se cruzavam em gavinhas e ninhos formando um enorme círculo ao meu redor, pude observar símbolos pintados em cantos aleatórios e tigelas posicionadas fora e dentro do mesmo:

– É a parte final da transformação – sorriu –.

– O quê?

– Está tudo bem, Cece – me assegurou –, não vai doer nadinha.

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora