Ninguém sabe quantas horas exatamente haviam se passado desde que o acidente aconteceu, mas a sensação no ar era de luto. Gray foi imediatamente tratado por Keelin, seus olhos haviam sido queimados até não restar nada além de dois buracos ocos de carne carbonizada – meu estômago embrulhou.
Seus gritos ecoavam pela casa e ele só se acalmou quando a dor foi insuportável demais e seu cérebro se desligou. Keelin pediu para que ele ingerisse sangue para ajudar na recuperação, mesmo Aslin insistindo que aquilo não funcionaria, mas todos queriam ajudá-lo.
Acho que todos se sentiam responsáveis.
Mas era Hope quem se culpava.
Naquela noite, trouxemos Hope para dormir em nossa cama, ela chorou até dormir. Eu queria poder arrancar a dor dela, mas eu não podia fazer nada além de assegurar que a culpa não foi dela e o seu poder não o machucou, o Gray sabia dos riscos que corria, pelo menos, eu esperava que ele soubesse.
Eu me sentia inútil por vê-la daquele jeito.
Vi Gray na manhã seguinte quando entrei em seu quarto para trocar os curativos. Ele estava tão imóvel que me assustei quando ele virou a cabeça em direção a porta quase derrubei as bandagens e soro que trazia – ele sorriu triste e suspirou:
– Cecília – falou em tom baixo –, eu gosto do seu nome, combina com sua energia.
– Obrigada – sorri –, seria muito babaca da minha parte perguntar como você está depois de tudo isso?
– Nas últimas horas me perguntaram isso tantas vezes que eu fingi estar dormindo para não ter que responder – ele sorriu –, mas para você eu posso dizer que estou... horrível.
– Eu sinto muito, Gray – falei com sinceridade –, queria que não tivesse sido assim.
– Não havia outro jeito senão esse – ele disse com a voz trêmula –.
– Sabia que isso ia acontecer?
– No momento em que Aslin me ligou – admitiu, um sorriso frágil sustentou seus lábios –, foi uma visão assustadora.
– E mesmo assim você veio?
– Esse é o único jeito – assentiu fungando –, e também, ela é a minha amiga. Você entende melhor do que ninguém, não é?
Suspirei pesadamente, sim, eu entendia. Faria qualquer coisa por Josh.
– Agora eu entendo as encaradas para o Josh – ri baixinho e ele riu também –.
– Eu precisava de algo bonito em meus últimos momentos.
– Vou trocar o curativo, me avise se doer – pedi e ele concordou –.
Cuidadosamente puxei a gaze e os tecidos destruídos de seus olhos foram puxados juntos com o pano, parei no mesmo instante, a mão trêmula, continuei o processo. Gray inspirou, seu queixo tremia:
– Desculpe – falei –.
– Porra, eu não consigo nem chorar – riu melancólico –.
– Cece? – Josh empurrou a cabeça pela porta e instintivamente Gray virou o rosto –. Klaus precisa de você.
– Eu–
– Pode ir, Cecília – Gray falou –, obrigado pela gentileza.
– Você vai ficar bem, Gray – acariciei seu cabelo –. Você pode terminar?!
– Sim, deixa comigo – Josh pegou a gaze da minha mão –, mas só se você não se importar, Gray.
Gray apenas assentiu.
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A Babá ✦ The Originals
VampireHope precisa de uma babá. Klaus precisa de ajuda com a filha. Cecília precisa desesperadamente de um emprego novo. Que mal pode acontecer, não é mesmo? ✦ Cecília vê sua vida estagnar quando chega a Nova Orleans, então, determinada a mudar o curso de...