Capítulo 31

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Meus pés tropeçam na escada da varanda dos fundos, minhas mãos afundando em sangue. Marcel está caído ao meu lado, a cabeça há metros do corpo, sua pele está pálida. As telas estão manchadas de sangue. Não tenho voz para gritar. Freya está caída sobre a mesa de bebidas, seu corpo prensado no chão como um besouro que foi pisado, mal a reconheço.

Tento correr, mas estou lenta e dormente, rígida. O chão está forrado de borboletas mortas, as flores murchas. Keelin tem uma estaca de madeira atravessando todo o seu abdômen – dilacerada, como se o movimento fosse repetido diversas vezes. Davina me encara com olhos leitosos e um corte profundo no pescoço, suas mãos estão cortadas. A piscina está vermelha com seu sangue.

Não vejo sinais de Kol, Elijah e Rebekah.

Klaus está de joelhos de costas para mim e tudo o que vejo são seus ombros balançando violentamente, seu rosto se ergue, mas nenhum som sai de sua boca, apesar dela estar aberta. Meus olhos caem para o que ele tem nos braços, um vestido arco-íris manchado de sangue – ouso gritar sabendo que ele não pode me ouvir.

– NÃO!

Um grito estridente e apavorado irrompe da minha garganta.

Meu corpo sente os sopapos de uma tentativa de fuga em vão, pois correntes pesadas apertam meus pulsos e estou fraca demais para lutar – era a quinta vez que tentava me lembrar o que aconteceu após a ligação de Josh e todas as vezes eu via a mesma coisa.

Todos mortos.

Hope morta.

E a dor me consumindo.

Minha garganta ardia com os gritos e choro compulsivo – não calei a boca um minuto desde que acordei e não faço ideia de quanto tempo isso faz, mas o sangue está seco em minha roupa. Meus olhos doem pelo esforço de tentar enxergar na escuridão.

Forço as correntes até que meus pulsos sangrem e meus joelhos cedam o peso do meu corpo – quando isso acontece, sou puxada de volta àquela tarde e revivo tudo de novo e de novo e de novo, buscando alguma coisa que me certifique que aquilo não é real, ansiando para alguma coisa mudar ou que eu encontre algum resquício de memória que não estava ali antes.

Uma parte minha quer acreditar que aquilo não aconteceu realmente, mas a dor e angústia que sinto nesse sofrimento contínuo são as provas de que preciso para acreditar que todos estão mortos e de alguma forma, eu sou a culpada.

Hope não está morta.

Eu não a matei.

Todos estão bem.

Não há mais lágrimas, não há mais voz, apenas a dor avassaladora das memórias que tento coletar. Sinto que minha mente vai explodir. Arfei sentindo a dor dominar o meu corpo mais uma vez quando um par de olhos brilhantes e um rosnado é tudo o que há em minha frente, e é a primeira vez que ouço e vejo alguma coisa.

– Me ajuda – murmuro, a voz arranhando a garganta –.

A princípio, não há nenhuma resposta.

Sua voz é grave e raivosa quando, em voz baixa, responde:

– Assassina.

Meu corpo enrijece, aperto meus olhos.

– Não, – chorei –, por favor...

Sinto a respiração da criatura, ouço as garras arranharem o chão. Ele se aproxima.

– Ele implorou para você não ir até os Mikaelson – havia dor em sua voz –.

Perco o ar, isso não pode estar acontecendo. Não pode.

– Ele morreu para proteger você.

Minha cabeça latejava. A voz soava de todos os lados me sufocando, não senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, apenas dor em meus olhos. A visão de Josh deitado de costas afogado no próprio sangue e sem o coração se materializou em minha mente – sufoquei um grito.

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora