Capítulo 14

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A janelinha da porta se abriu e uma bandeja com comida escorregou pelo piso do quarto. Não ousei me mexer, temia que, se eu o fizesse, meu corpo quebraria em pedaços. Fazia mais de duas horas que Victor me compeliu a lembrar de tudo o que aconteceu no Brasil, minha mente latejava e, agora, a sensação ruim na boca do estômago crescia com a certeza de que fui um monstro.

Se me esforçasse bem ainda podia ver o sangue dos inocentes em minhas mãos.

Abracei os meus joelhos e afundei o meu rosto ali, implorando a Deus que tudo fosse um maldito pesadelo, mas não se pode acordar de um pesadelo quando se vive um. 

Victor entrou no quarto alguns minutos depois, me encarou e suspirou sentando na beira da cama, mas longe o suficiente de mim:

- Não vai comer?

"Não consigo", eu quis dizer, mas não conseguia nem olhar para ele.

- Sei que é difícil, - murmurou -, mas é necessário que se lembre de tudo.

Ignorando o meu silêncio ele continuou:

- Você é uma chave importante aqui, mas isso não é apenas sobre você, Cecília - ele coçou a barba por fazer -, digamos que você é um efeito colateral que acabou sendo necessário. Consegue entender onde quero chegar?

- Eu acreditei que você era um monstro, - sussurrei finalmente -, mas você me salvou.

- Não fiz por você!

- Eu sei - chorei, meu corpo doía -, mas porquê fez mesmo assim? Ela já estava morta, não faria diferença.

Victor suspirou pesadamente.

- Acho que eu só queria me redimir com ela por ter sido tão ruim. Eu a amava, Helena era o amor da minha vida, eu a amava mesmo.

Seu olhar estava triste, desolado, meu estômago embrulhou.

- Eu não consigo saber se as memórias que tenho foram reais ou não, - solucei -, tenho medo de saber quais foram as verdadeiras.

- Eu só apaguei algumas memórias - sussurrou envergonhado -, o monstro que você acha que sou, é real. 

- Por quê me salvou? - falei me sentindo dormente, céus eu queria muito vomitar -.

- Sua mãe foi, - ele suspirou -, o amor da minha vida, e isso é a verdade. Eu fui ruim para ela porque sou um covarde, mas eu a amava.

Não respondi, senti nojo.

- Sua mãe deveria ter se casado comigo, não com o William, - havia sinceridade em sua voz -, você deveria ter sido minha filha, mas todas as vezes que eu olhava para você eu só conseguia vê-lo. Não houve um dia em que eu não quis matar você por isso, - murmurou, estremeci sentindo as lágrimas pesadas em meu rosto -, tão parecida com ele. Quando eu tive a chance de te matar, Matias mudou de ideia, teria que ser a sua mãe, ela sabia e me fez prometer que cuidaria de você.

Meu corpo inteiro tremia, meu coração estava acelerado e apesar de me sentir dormente e fraca eu queria muito sair correndo daquele lugar. Encarei a porta e em um impulso corri para fora dali, e como em um sonho tudo parecia extremamente lento; eu corria e corria, mas parecia não sair do lugar e em um instante Victor me jogou no chão como se eu não pesasse nada:

- Sinto muito.

Murmurou e eu apaguei.

Agora eu estava presa à cama, meus olhos doíam pela claridade da lâmpada, uma voz doce e infantil chamava o meu nome e quando me dei conta Hope estava ao meu lado:

A Babá ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora