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  Lara... A primeira coisa que vejo é ela em cima de mim. Me encarando com as bochechas coradas e o rosto tão perto que consigo sentir sua pele gelada mesmo não encostando meu rosto.
- O que está fazendo?
- Aah, me desculpa. - Ela se afasta um pouco nervosa, se sentando ao meu lado. Pela sua agitação, percebo o que ela estava tentando fazer.
- Sabe que eu não brigaria se fizesse isso.
- Então... Eu posso?
- Uhum.
  Ela fica ainda mais envergonhada e volta a aproximar seu rosto do meu, apoia as mãos nos meus ombros pouco antes de sentir seus dentes afiados perfurar meu pescoço. Ela se afasta depois de uns minutos e um pouco de sangue escorre pelo canto da sua boca. Seguro seu rosto com minha mão, passo o polegar onde o sangue havia escorrido e limpo na calça que estou usando.
- Seu rosto está quente.
  Seu rosto estava tão vermelho que passo a achar que eu não deveria ter feito isso. Aquela garota aparece subindo o morro para chegar até aqui, ela até sabe onde nos encontrar agora. Lara se recompõe quando ela para na nossa frente... Devo confessar, eu gosto de provocar ela às vezes.
- Oi, moço. - Ela está um pouco ofegante por subir o morro com pressa.
- Não precisa ficar me chemando de moço.
- Então... Deus? Senhor?
- Não. Apenas me chame pelo meu nome.
- Ethan?
- É.
- Então, posso te chamar apenas de Senhor Deus todo poderoso?
- Aah... - Parece que as pessoas daqui me conhecem bem a ponto de saberem exatamente como me fazer perder a paciência. - Tanto faz.
- Oi, Lara...
- Oi, Ely.
- Vamos brincar?
- Tá.
- Aliás, garota.
- O que foi, senhor?
- Qual o seu nome?
- Meu nome é Ely, senhor. Ely Abel. Por que?
- Seu sobrenome?
- Abel. Descendente da família Abel.
- Hm... - Agora que sei disso, não vou precisar me referir à ela por aquele apelido. Lara se levanta e fica atrás da criança, fazendo sinais que meu pescoço estava escorrendo.
- Você vem brincar com a gente também, moço?
- ...
- Ethan?
- Não.
- Aah, vem... - Ela faz cara de choro.
- Vamos, Ethan. Você vai negar essa coisinha fofa?
- Vou.
- A.
  Me levanto do gramado e Ely abraça minhas pernas, pois é o máximo que ela consegue com seu tamanho, me olhando com seus olhos grandes e expressivos. Lara sorri atrás dela sem dizer nada, não tô muito afim de fazer alguma coisa, mas pior que uma criança enchendo saco, são duas crianças enchendo saco.

  Após tanta correria e brincadeiras que eu nunca tinha visto ou ouvido falar, ainda me pergunto de onde essa garota tira tanta energia. Quanto mais ela suava, mais queria correr. Me sento em baixo da gigante árvore e fico ali vendo as duas brincando. O sorriso de Lara é a última coisa que vejo antes acordar de repente. Vejo que ainda não tocou o sinal para voltarmos pra sala. Sinto minha mochila molhada, quando percebo que meu pescoço tinha sangrado e a mesma marca de antes volta para essa casca, o sangue não se destaca na cor preta, então acabo não me incomodando com essa mancha. Vejo pelo reflexo do celular que meu pescoço e a borda da minha camiseta estavam manchados, acabo usando a manga do meu casaco para limpar o sangue. Ainda falta seis minutos pra voltar a sala de aula, durante esse tempo fico apenas ouvindo música até Lara aparecer ao meu lado.
- Quer que eu fique por aqui até a mordida sumir?
- Prefiro que apareça só quando eu estiver em casa, mas pode ficar dessa vez.
- Ok.

  05:01 PM. A aula do clube acabou faz pouco tempo e quando saio da escola, meu celular vibra com a notificação da mensagem da minha mãe. Ela vai ficar fora essa noite, mas dessa vez não a serviço. Fico conversando com ela um pouco em frente a escola e amanhã ela também vai estar de folga, então está agora em uma viagem com algumas amigas. Guardo o celular no bolso e vou direto para casa. E agora que paro para reparar, a mordida que Lara fez no meu pescoço já está quase cicatrizando...
  Chego em casa, jogo a touca em cima da cama e a aranha que adotei está sobre a terra do terrário completamente parada. Mais uma vez sem saber o porquê, estou com vontade de tomar algo que contenha álcool o bastante para me deixar bêbado facilmente. Pego ela de dentro do terrário e ela começa a caminhar entre os meus dedos. Sua cor azul chega a brilhar com a luz do sol que entra pela janela. Deixo ela sobre a cama e tranco a janela, voltando a deixar o quarto escuro e agradável, pego a garrafa de bebida cheia do chão e o líquido dessa aqui tem uma cor azul... Abro a garrafa e tomo um gole puro, mesmo que aqui diga que tem mais de 40% de álcool, o gosto doce ameniza muito o álcool e ainda por cima está quente, deixo a bebida de lado por enquanto e saio do quarto. Pego os 50 dólares que minha mãe deixou ao lado da tv e ainda não sei o que comprar.
- Não vai tomar aquela bebida no seu quarto primeiro?
- Não, prefiro algo melhor.
- Hm... Então tá bom.
  Guardo o dinheiro no bolso e saio de casa enquanto disco o número de Anna e ela atende no momento que termino de trancar a porta.
- Hey...
- Tá afim de beber hoje?
- Onde?
- Aqui em casa.
- E a sua mãe?
- Ela foi viajar com algumas amigas.
- Então... Só nós dois dessa vez?
- Pelo visto, sim.
- Ok, aceitável. O que vamos beber? O mesmo de sempre?
- Não. Dessa vez, eu vou comprar algo mais forte.
- Tá legal.
- Pode começar a vir pra cá , se quiser.
- Certo. Já estou indo.
  Desligo o celular e ainda não sei quando minha mãe vai voltar amanhã, mas provavelmente vai ser tarde. Essa outra aqui com 44% de álcool parece melhor... Pego uma dessas e vou até o caixa onde havia um homem velho e esfarrapado parecendo com sono. Eram quase seis horas da noite quando volto para casa, me encontro com Anna parada em frente a porta e ela me olha, dessa vez sem estar com olhos pintados ou qualquer outra maquiagem, usando uma camiseta branca com o simbolo do Guns N' Roses no centro e uma calça jeans combinando com o seu All Star preto. Nos pulsos, cheios de pulseiras, desde couro com nomes de bandas a pérolas baratas.
- Onde você tava?
- Fui comprar a bebida.
- Por que não pediu para eu ir com você? Fiquei um bom tempo esperando aqui.
- É, foi mal.
  Tiro a chave do bolso de trás da calça e entrego a sacola com a bebida para ela.
- Acho que já tomei essa uma vez.
- Essa é só um pouco mais forte que aquela vodka que tomamos na casa de Laura.
- É, essa é boa. - Ela vem comigo até a cozinha e tiro a tampa da garrafa, a oferecendo para ela. - Heim?
- Vamos tomar o primeiro gole puro.
  Ela pega a garrafa da minha mão e vira na boca sem enrolação. Pensando que seria igual a última... Ela faz uma careta, se arrepiando toda com o forte álcool. Ela engole a bebida com dificuldade e acabo rindo da sua cara.
- Argh... Como alguém consegue tomar isso?
- Toma de novo. Essa não valeu.
- Ah, não. Nem fodendo. - Ela dá uma risada e segura a minha mão, me puxando até colar meu corpo ao seu. - Agora é sua vez.
  Ela me entrega a garrafa e eu tomo dois goles diretos, sentindo rápido o álcool descer rasgando pela garganta. Sinto apenas o gosto de álcool... Aperto minha mão na sua cintura e deixo a garrafa em cima da pia, atrás dela.
- Viu? Não é tão fácil fazer isso descer, não é?
- Você que faz muito drama.
- Ah. Cala a boca. - Um silêncio paira entre nós após isso, deixando esse clima tentador. Ela passa os braços pelo meu pescoço me dando um longo beijo com o gosto do álcool na sua boca.
- Não tem como reclamar da bebida assim, não é?
- Não, nenhum pouco.
- Pega o refrigerante na geladeira e mistura com a bebida em um copo.
- Por que?
- Vai ser melhor assim.
- Tá legal.
- Eu vou ir no quarto e já volto.
- Ok. E quanto ao gelo?
- No congelador.

  09:11 PM. Bebemos um pouco menos da metade da garrafa. Ambos estamos bem por enquanto.
- Essa música tá dando uma bad.
- Pode trocar, se quiser.
  Ela toma o resto que havia no copo e se joga de costas no tapete, deitando a cabeça na minha perna.
- Ei...
- Hm?
- Você é muito ignorante. Às vezes.
- É?
- É... Você é um idiota.
- Você também não pode falar nada. É tão idiota quanto eu.
- Então somos dois idiotas.
  Ela começa a rir, esse seu humor que aparece só quando ela está bebada é confortável, de certa forma. Ela apoia os braços no chão e se levanta, arrumando mais um pouco de mistura no copo.







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