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  Tomas e Amanda me encaram surpresos por um momento e eu me levanto antes deles dizerem qualquer coisa.
- Ela é bonita.
- É mesmo.
- Ei, Ethan, ela é do último ano?
- Uhum.
- Então tu curte mina mais velha.
- Hm?
- Qual é, pode nos contar a verdade. Vamos manter seu segredo.
- Não há segredos. Pensem o que quiser, seus idiotas. 
  Com o professor passando no quadro o que é temperatura, calor, falta de calor e os gráficos, dos quais eu menos tinha vontade de resolver, não parecem ser um incômodo agora. Eu não sinto dor quando estou assim, não sinto nem mesmo o gosto da minha saliva. Consigo prestar mais atenção na aulas, mas as coisas em mim ainda estão mudando, meus sentidos estão ainda mais aguçados e consigo sentir a presença de todos aqui na sala e até mesmo o gosto dos seus sangues sem nem ter provado uma vez, isso é intrigante. Eu achei que seria diferente, mas com Lara fora sinto minha mente mais tranquila e minha sede por sangue aumenta a cada hora que passa, vou precisar que Lara comece a anotar algumas coisas. Quando começo a sentir fome e até onde aguento.
- Ethan... - Anotações sobre esses efeitos colaterais, sobre essas sensações, preciso ter uma ideia de como tudo está acontecendo. - Ei, Ethan! - O professor chama minha atenção. Vindo até minha mesa. - Algum problema? Quer ir no banheiro?
- Quero. - Ele tira a caneta da minha mão e só agora percebi que eu estava quase furando meu próprio braço com isso. Me sinto pior do que ontem, mas... Vou ter que me acostumar a esse "novo" corpo.
- Cinco minutos.
  Me olho no espelho do banheiro, estou um pouco pálido mesmo. O bastante para fazer minhas olheiras se destacarem mais ainda.
- Lara?
- Oi?
- O que... tá fazendo?
- Ah, mexendo no seu celular. Estou acessando a internet a fim de descobrir mais sobre o mundo atual. Já aprendi bastante coisa.
- Entendo.
- E quanto a você? Como está a aula?
- Normal, como sempre.
- Tem certeza? Sua voz está baixa.
- Olha... Depois, quando não tiver ninguém no banheiro, você pode pegar água da pia e espalhar pelo terrário de Aqua?
- Claro, eu posso fazer isso.
- Certo, tente deixar cada parte bem úmido. Preciso ir.
- Tá bom. Até mais.

  08:28 AM. O sinal toca, nesse intervalo de meia hora, decido ir ao dormitório.
- Você tá bem? - Lara vem até mim assim que abro a porta, agarrando minhas mãos.
- Por que a pergunta?
- Você tá com sede, não tá? Precisa de sangue. Aqui... - Ela morde o próprio braço e o seu sangue começa a escorrer. - Toma. - Fecho a porta antes que alguém perceba isso e seguro seu braço ensanguentado com as duas mãos. Sinto o cheiro chamar toda a minha atenção. Esse gosto... Um único sabor em um mundo que parece ser preto e branco. Depois tomar o suficiente, eu solto seu braço e seu rosto fica vermelho. - Seus dentes...
- Meus dentes?
- Suas presas são iguais as minhas.
  Coloco o dedo entre os dentes e posso senti-los, bem afiados, algo que não estava aí antes.
- Como você sabia que eu tava...?
- Intuição. Eu acho. Eu só consegui sentir que você precisava de sangue. - Ela começa a ficar tensa, mexendo as pernas com o rosto cada vez mais vermelho.
- O que foi?
- Nada... - Ela desvia o olhar.
- Você consegue escrever?
- Sim, mas não o idioma daqui.
- Qual idioma?
- Eu estava vendo o seu antigo caderno e eu não consegui entender nada daqueles símbolos. Depois de pesquisar um pouco, eu descobri que aqueles símbolos se chamavam "letras".
- Hm... Então qual idioma você conhece?
- Não me lembro ao certo.
- Você recuperou um pouco da sua memória. Se lembra como aprendeu a falar o meu idioma?
- Passei muitos anos aqui. Muitos séculos. Séculos até mesmo antes dessas "letras" existirem.
- De qualquer, eu quero que você faça algo, algumas anotações no idioma que você conseguir fazer. Agora é 08:39. Mais tarde irei ver até onde sou capaz de aguentar essa sede e depois fazer o mesmo com você e quero que você anote isso também. Tem um caderno na minha mochila e uma caneta.
- Certo. Eu posso fazer isso.
- Anote tudo que ocorrer com seu corpo nesse tempo. E quanto ao que te pedi?
- Ah, eu fiz. A terra dela está bem molhada.
- Ótimo, era pra deixar dessa forma mesmo. Então, até mais tarde.
- Até mais.
  Volto para a sala de aula e ainda tem mais três aulas até o intervalo do almoço. E ao que parece, minhas presas sumiram, mas eu não entendo. Não sinto fome, mas diferente de Lara... Meu corpo ainda é completamente humano. Se não tiver nutrientes, não vai servir de nada isso tudo que eu fiz. Eu estou um pouco cansado com tudo isso, apenas quero dormir... Deito minha cabeça sobre o caderno aberto em cima da mesa, ignorando o conteúdo no quadro.
  Um sonho? Talvez um pesadelo... Um Dejavu? Qualquer coisa... Acabo acordando com o barulho do sinal e dessa vez não houve sonho algum.
- Você nunca dormiu na sala antes, tem certeza que tá bem, cara? - Tomas diz, se virando para mim em seguida.
- Eu disse que tava bem?
- Bom... Você não disse, mas também não disse que não estava.
- Isso não faz diferença alguma agora, então que se foda.
- Vai almoçar?
- Parece que não tenho escolha. - Já que não sinto mais ânsia, não é um problema me alimentar agora.

  12:37 PM. Saio do refeitório e deixo Tomas com Amanda a sós. Volto para o quarto e vejo Lara deitada na cama, escrevendo ou desenhando algo, ela me olha.
- Você voltou.
- O que tava fazendo? - Me sento do seu lado na cama e ela presta atenção em mim.
- Desenhando. Olha.
  Ela me entrega o caderno. Tão mal quanto um desenho de uma criança de oito anos. Típico desenho de paisagem, uma casa no meio do nada, uma árvore que por algum motivo está ali e o sol do qual saiu nada redondo e em frente a casa tem duas pessoas.
- Quem são as pessoas?
- Somos nós.
- Hm. - Ela me olha esperando que eu a elogie pelo "belo" desenho. - Bom, esse desenho tá... Bem ruim.
- Hã? - Sua afeição muda. - O que quer dizer com isso?
- O desenho. Está horrivel.
- Diz como se soubesse desenhar.
- Pelo menos são melhores. - Eu lhe dou um sorriso, enquanto ela faz bico e jogo seu cabelo que estava a frente dos ombros para o outro lado.
- Você é muito chato, sabia?
- É, eu sei. Você fez as anotações que eu pedi?
- Estão do outro lado.
  Viro o papel e há apenas símbolos e figuras. Símbolos... Isso está longe de ser ao menos latim. Não consigo entender nada disso.
- Diz o que tá escrito.
- Ér... Não tem nada muito importante pra dizer agora, são só as anotações que você pediu.
- Se você está dizendo... - Deixo o caderno de volta em cima da cama e eu me levanto. - Vamos dar uma volta.
- Por que?
- Não tá interessada pra ver o que há lá fora?
- Mas tudo bem mesmo?
- Acho que ninguém vai notar.
- Então tá bem. - Ela se levanta agora se equilibrando perfeitamente, parece que esteve treinando nessas últimas horas.
- Vamos. Você está sem sapatos também. Seu pé é um pequeno para calçar algum dos meus All Star, mas até conseguir roupas pra você, vai ter que ser isso. - Ela olha para a câmera em cima da mesa.
- O que é isso?
- Depois eu te mostro como fuinciona.

  Nós chegamos no campo e não há ninguém aqui além de Luce sentada na arquibancada com uma sacola na mão. Ela nos percebe se aproximando e se levanta de onde estava. Lara agarra meu braço e se esconde atrás de mim no mesmo momento. Ela está com medo? Ou talvez seja vergonha?
- Olá.
- Oi, Luce.
- Quem é ela? - Lara sussurra no meu ouvido.
- Aah... Era dela que você tinha falado? - Lara olha para ela entre os vãos do meu braço. - Não precisa ser tímida comigo. Aqui, vista isso por enquanto. - Ela joga um par de sandálias na minha frente.
- Vamos, Lara. Coloque. - Ela sai de trás de mim, tira o meu tênis e calça as sandálias.
- Parece que coube certinho.
- Uhum. - Lara passa a olhar para ela, um pouco mais animada agora. - O-obrigada...
- Que fofa! Vou roubá-la pra mim. - Ela volta a se esconder atrás de mim antes que Luce tente fazer algo. - Que maldade... Bom, aqui tem algumas roupas. Não estão sujas, mas não sei como estão de tanto tempo que estão guardados, mas pelo menos, não estão rasgados. Toma. - Pego a sacola de sua mão.
- Por enquanto isso serve. Vou andar com ela um pouco, quer vir? - Lara aperta minha mão.
- Tenho atividades de algumas matérias que preciso responder antes do almoço acabar. Quem sabe outra hora. Pode ser?
- Tá legal. Então nos vemos depois.
- Me avisa se isso não for o suficiente, ok? Até mais. - Ela desce as arquibancadas e volta para o prédio principal.
- Eu já te vi com ela algumas vezes.
- O quanto se lembra?
- Hmm... Lembro praticamente de tudo daquela vez na praça. E um pouco também no quarto dela, eu... acho?
- Vai ver ela com mais frequência, então se acostume.
- Hmm...










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